Capítulo 28

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Violeta:

Finalmente eu iria poder sair daquela cama, já estava cansada de ficar tanto tempo deitada. Mário veio se despedir e Charles o acompanhou para fora do quarto.

Com muito esforço, fiquei de pé e a sensação era de ser a primeira vez que eu ia dar meus primeiros passos. Minhas pernas tremeram e ameacei cair, mas me equilibrei na parede e fui contornando-a até chegar à enorme janela. Abri a persiana e a claridade do dia tomou conta de meus olhos. Eu os fechei e senti o calor envolvente e mágico sobre as pálpebras, aquilo era maravilhoso. Quando os abri, depois de alguns segundos, a vista do sol sobre o lugar era magnífica. Mas...

— Uma floresta? — sussurrei para mim mesma.

Olhei para baixo e vi Mário indo até o seu Audi azul. Acho que ele me viu boquiaberta, porque riu e soltou um beijo no ar para mim. Franzi a testa e ri também.

— Ele é sempre assim? — perguntei sem me virar quando percebi que Charles tinha voltado. Ele se colocou ao meu lado e nós dois vimos Mário partir por um caminho de terra.

Pelo canto do olho vi que ele revirou os olhos.

— Sim. Com todas.

— Ele parece muito jovem para ser médico. — comento.

— Isso é uma tentativa de saber a idade dele? — Charles pergunta com a testa franzida.

— Não!

— Se é, Mário tem trinta anos. Meio velho para você, não acha? — minha boca forma um "o". Ele percebe no quanto fiquei chocada e comenta sorrindo: — Se a forma como ele te tratou te assustou, não se preocupe. É só o jeito dele de falar com as mulheres. — sorrio aliviada e sem graça ao mesmo tempo.

— E a sua idade? — pergunto.

— Vinte e dois.

Continuo olhando para a vista, até que me lembro da pergunta que estava rondando em minha mente alguns instantes atrás.

— Isso é mesmo uma... floresta?

— É. — ele percebeu que eu queria saber mais, então pigarreou. — É um lugar calmo aqui. Sempre gostei de lugares onde não estejam repletos de barulhos e pessoas. — fez uma pausa. — Gosto de ficar sozinho.

— Uau. Que solidão. — falei. — Você não tem uma mulher? Filhos? — ele ficou me fitando por um bom tempo antes de responder.

— Não. — sua reposta saiu seca.

— E pensa? — perguntei.

— Não.

— Por que? — percebi que tinha ido longe demais quando vi um vestígio de raiva passar pelos seus olhos. Então me apressei em dizer: — Desculpa. Às vezes sou muito curiosa.

— Nem notei. — disse com ironia. Dei um soco de leve em seu braço e me afastei da janela. Não sei por que ele pareceu tão desconcertado com esse pequeno gesto.

— Você tem que me ajudar a voltar para casa. — ele pareceu não acreditar no que eu disse. — Não posso ficar aqui com você.

— Como posso fazer isso?

— Me levar até uma delegacia. — falei sem piscar. Ele desviou seus olhos de mim e demorou alguns segundos para responder.

— Acho que isso não é o suficiente.

— Como assim?

— Se você sumiu, eles com certeza receberam denúncias. E não encontraram você. Se não fosse por mim, você teria morrido. — ele solta um suspiro. — Escuta, eu te encontrei. Pode morar comigo enquanto sua memória não volta.

Penso em sua proposta, ele demonstrou ser uma pessoa confiável. Então ele acrescenta:

— Confie em mim.

— E se minha memória nunca mais voltar? E se eu não encontrar minha família? — solto um gemido. — Você precisa me levar agora. — ele hesita.

— Vai voltar. Mário me disse que é temporário o seu problema.

— Por que não me disse antes?

— Estou dizendo agora. — ele passa as mãos nos cabelos pretos, tentando arrumá-los. — Você acabou de sair de um coma. Não precisa se preocupar com tudo de uma vez. Fique comigo por enquanto que... tudo não volta.

— Eu nem te conheço. — argumento.

— Não é tarde para isso. — rebate.

— Eu... vou pensar. Tudo bem? Só preciso pensar.

— Leve o tempo que for preciso.

Aceno com a cabeça e ficamos em silêncio. Só agora percebo bem o que estou vestindo e quase dou um grito.

— Acho que vou tomar banho. — ele dá uma rápida olhada em mim e assente.

— Aquele é o meu banheiro. — aponta com o olhar. — Tem tudo o que precisa lá.

— O.k. — falo devagar. — Espera! O que vou vestir?

Ele também parece pensar nisso só agora e solta um palavrão.

— Pode vestir uma camisa minha, se quiser. — dá de ombros.

Penso por um minuto.

— Só isso? — franzo as sobrancelhas.

— Acho que uma calça ou um short meu não vai caber em você.

— Não! Você não entendeu! — quase caio na gargalhada. — Tô falando de sutiã, cal...

— Ah! — ele dá um sorriso sem graça.— Não sei. Hm... Veste uma cueca minha. — diz, como se isso não fosse nada. Quase dou um grito de novo.

— Não! — exclamo mortificada.

— Tá. Eu... vou conseguir isso com uma amiga. Já volto. — antes que eu diga alguma coisa, ele sai apressado.

Quando coloco meu corpo inteiro debaixo do chuveiro, estremeço com a água quente. Não sei quanto tempo fico lá, mas quando saio os nós dos meus dedos estão enrugados.

Hesito ao sair só com uma toalha branca enrolada no corpo. Mas Charles tinha saído, e quando ele voltasse eu poderia correr de volta pro banheiro. Isso.

Cerca de uma hora depois, vejo seu carro aparecer e estacionar. Me escondo antes que ele me veja, correndo até o banheiro logo em seguida. Alguns minutos depois escuto sua voz.

— Eu trouxe algumas roupas. — escuto sua voz grave e abafada por trás da porta. — Vou deixar em cima da cama e sair.

— Tá. — falo.

Quase tenho um infarto quando vejo tudo o que ele trouxe e o preço. Ele disse que ia pegar com uma amiga! Frustrada e resignada, decido colocar um vestido florido de alcinhas e com as costas abertas, e ele quase chega perto do joelho.

Me olho no espelho, esperando não estar exagerando. Calço uma sandália leve e, como já tinha secado antes os cabelos, os deixo soltos.

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Observação: Um cara como o Charles, mal e vingativo, nunca irá mudar por uma mulher e nem por ninguém. Isto é só uma história. •~•

Votem e comentem! 💀❤

Capítulo revisado. ✔

Violeta (Completo/Revisado)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora