Paris, 1956.

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Frederick deixou a jovem Julia dormindo nua sob os lençóis de algodão. Ele contou algumas notas de dinheiro e deixou debaixo do travesseiro dela. Vestindo um terno americano e seu chapéu, Frederick Styles pendurou um cigarro em sua boca e saiu do quarto.

Era quase três da manhã e o Le Trous havia sido fechado. Ele provavelmente pediria para que Genevieve abrisse a porta dos fundos para ele, para que voltasse ao seu quarto em um apartamento alugado ao norte da torre Eiffel. Seu pai havia lhe mandado correspondências, exigindo saber porque ele pedira tanto dinheiro para passar uma temporada em Paris. Era hora do jovem e procurar um emprego e quem sabe, pensar em morar em Paris.

O barulho de risadas o fez olhar para a mesa com pessoas, e a fumaça dos cigarros banhando os rostos.

Uma vitrola tocava uma música de Gigi Gryce.

Frederick olhou e viu Genevieve com um rapaz e uma dama, ambos jogando baralho. Um clarinete entre as pernas do rapaz, e no meio, Boris Vian fumando um cigarro.

E Keith Tomlinson, com a camisa desabotoada e o terno aberto. Ele fumava um cigarro e segurava um copo de uísque.

Os cabelos castanhos de Keith estavam desalinhados, e jogados em sua testa. A barba por fazer estava o deixando com um olhar de cafajeste.

— Ora, ali está ele — Genevieve largou a boquilha — Boris, conhece meu amigo, Frederick Styles?

Boris apagou o cigarro no cinzeiro e olhou para o rapaz.

— No, je ne connais pas le jeune homme — Ele falou em francês. 

— Bem, ele só fala em inglês — Ela explicou, fazendo Boris sorrir — Venha cá, Frederick. Se una á nós.

— É americano ou britânico? — Boris perguntou em inglês, mas com um forte sotaque francês.

— Britânico — Ele respondeu, puxando uma cadeira e se sentando na outra ponta — Você é um exímio músico, Boris. Considera a música um trabalho para você?

— O trabalho é o ópio do povo e eu não quero morrer drogado — Ele bebeu do vinho e olhou para os olhos de Frederick — A música para mim é mais diversão e felicidade do que um trabalho. Se você gosta, não se considera um trabalho.

— Touché — O rapaz da mesa, um moreno alto e de sorriso como Clarke Gable estava bebendo do uísque — Prazer, me chamo Fermín. 

— Frederick.

— Essa aqui é a Rita — Ela apontou para a mulher loira de olhos azuis feito o céu e de vestido de poá — Eles são americanos. Estão passando uma temporada por aqui, juntamente com o Duke.

— Prazer te conhecer, meu jovem — Rita sorriu, pegando a boquilha de Genevieve — Conhece nosso escritor, Keith?

— Tive a honra de falar com ele — Frederick pegou a bebida — Então, do que tanto falam?

— De tudo — Boris assoprou a fumaça — Paris está morrendo, e a gente também.

— Não seja um exagerado, Boris — Genevieve pegou um dos petiscos da mesa — O Jazz sempre vai viver.

—Até quando? O Rock está instalando. Apesar que o gênero me atraia, o Jazz é a minha essência.

— Os livros também — Keith começou a conversar — Mas deixamos as revoluções acontecerem. Ainda estamos nos recuperando de uma guerra que devastou o mundo.

— Me alistei — Boris entristeceu — E fui negado por ser fraco em saúde. Mas pude bater no peito e agradecer por quem lutou por nós.

— Não vamos falar de guerras — Rita bebeu do vinho que estava em suas mãos — Por que não falamos de nós? Keith, quase nada nos disse.

Alabama Song ➳ Larry versionOnde histórias criam vida. Descubra agora