I - Começo de tudo

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As coisas acontecem quando menos esperamos. Aliás, a vida sempre nos surpreende podendo ser pelo bem ou pelo mal. No meu caso foi pelo lado negativo, sombrio (ou escuro).

Essa é minha vida depois do acidente: de casa para o jardim e do jardim para casa, quase sem contato humano porque o medo me consome. Eu tenho pavor do que as pessoas falam sobre mim ou pensam. Três meses em coma, não sabendo o que acontece em minha volta. Remédios sendo empurrados com ajuda de agulhas nas minhas veias, choros constantes, traumas. Hoje estou aqui, superei 100% de dias ruins na minha vida. Por isso, venho contar a vocês como uma pessoa pode mudar nosso destino, como alguém influência nossos pensamentos e nos traz de volta a felicidade.

— Senhorita Bella, trouxe seu café — Disse Elisa, a senhora que cuida de mim todos os dias.

— Obrigada Lisa. Pode deixar em cima da cômoda — observo pelo vídeo da janela, algumas crianças correndo pelo gramado.

— Bella, você deveria ir lá fora tomar um sol, o que acha? Eu te auxílio — abre uma das cortinas da outra janela.

— Tem razão, vou só tomar meu café e depois lhe chamo, tudo bem? — pisco o olho para ela.

— Sim. Com sua licença — se retira do quarto.

Aperto o botão da cadeira para ir até a cômoda e pegar meu café com alguns biscoitos de chocolate. Mesmo na cadeira de rodas sou muito independente, consigo fazer várias coisas sozinhas como: escovar os dentes, colocar roupa, sentar no sofá, além de outras. Meus pais contrataram Elisa para me fazer companhia, no início acreditei que essa ideia é absurda, porque que não era necessário, eu já estava muito bem do jeito que levava a vida. Com o passar dos anos, percebi que foi a melhor coisa que já me aconteceu, ela sempre me coloca para cima independente das circunstâncias que apareçam em meu caminho. Elisa me faz enxergar que tudo isso é só uma vírgula e não um ponto final. Amo sua sabedoria esplêndida. Seus 42 anos é de puro conhecimento.

Assim que tomei meu café, chamo Elisa para me ajudar no banho. Depois, fomos ao meu guarda-roupa e escolhi um conjunto verde (água) que segundo ela, é a cor revigorante para mim no momento. Penteio meus cabelos com movimentos suaves entre os fios, em seguida, borrifo uma fragrância em meu pescoço me passando todo o frescor que necessito.

Meus pais estão a trabalho, eles são gerentes de uma grande fábrica de roupas aqui da cidade. Apesar de serem um tanto ausentes, eu já me conformo que não será toda semana que os verei. Não dói mais como antes.

Elisa me guia até o jardim da minha casa, onde consigo ver melhor as crianças que brincam no gramado. Fico embaixo de uma bela árvore que está na época de desabrochar várias flores roxas. O cheiro que elas exalam é maravilhoso, mas um tanto ruim para Elisa, já que é alérgica.

— Elisa, se você quiser me deixar aqui, por mim tudo bem — vejo ela esfregando seu nariz.

— Não Bella, estou bem aqui — o som da sua voz é debilitada.

— É sério, ficarei bem — abro um sorriso, na tentativa de convencê-la.

— Tudo bem, mas qualquer coisa não hesite em me chamar.

— Não hesitarei — afirmo.

Quando Elisa se retira, fecho meus olhos para ouvir o barulho da natureza e talvez os gritos das crianças a cada gol que fazem, elas são muito sapecas, mas tem um coração bom.

Minha capacidade de concentração é alta, quando estou focada em algo é como se todas as coisas que estão em minha volta desaparecessem de uma maneira inexplicável. Foi como um instinto, ouço longe barulho de folhas secas sendo pisadas e a cada aproximação, o som se torna mais audível. Abro meus olhos em um movimento rápido e levo um susto, um homem de olhos esverdeados me encara um tanto interrogativo. Sua camisa azul faz contraste com sua calça preta e seu belo par de sapatos.

Eu Ainda Pinto Flores Para VocêWhere stories live. Discover now