Keith Tomlinson não tinha um sono regrado. Depois de anos trabalhando noturnamente, ele tinha um relógio desregulado às vezes, que nem a velhice conseguiu consertar.
Mas quando escutou Louis chegar e uma voz masculina mais grossa e rouca do que a do neto, Keith pôs-se de pé.
Ele sempre se acostumou com Louis levar rapazes para casa. Em Doncaster, ele já havia acordado com um rapaz forte e musculoso de cueca boxer na sala, bebendo do leite e sorrindo para o senhor, enquanto Louis fazia café da manhã para eles. Keith se divertia com os relacionamentos rápidos, que não duravam mais do que uma transa.
Quando jovem, Keith nada disso teve... O único relacionamento que teve foi permanente. Tão permanente que foi o primeiro...
... E o último que ele amou.
Ele bateu a bengala no degrau da escada e decidiu a descer-se. Ouviu ruídos estranhos, e olhou para a porta da frente, onde jazia dois pares de sapatos: Um par de botas brilhantes e um tênis simples.
Quando desceu, encontrou Louis sem camisa e com cara de sono. Segurando um copo, o neto sorriu.
— Ah, oi... — Ele parecia nervoso — O senhor não deveria estar aqui, sabia?
— A casa é minha, eu posso andar onde bem queira — Ele deu a volta no balcão — O que está aprontando?
— Eu... — Louis olhou para o canto da sala, onde Harry segurava as duas caixas e ia na ponta dos pés para fora, tentando alcançar a maçaneta — Eu estava pensando... Sobre os anos 50.
O velho parou e se virou. Por pouco, não viu Harry que escondeu atrás do cabideiro grande, sendo auxiliado pelos casacos pendurados.
— O que deseja saber da década de 50? E por que está pensando nisso às duas da manhã?
— Na verdade, são uma e quarenta da manhã. E segundo... É porque... Porque... Eu estava escutando Edith Piaf.
— Sei — Keith se virou novamente. Harry falou sem voz “Para onde?” e Louis tossiu, fazendo com que seu avô olhasse para ele, arruinando a tentativa de falar “Para cima” em sinal oculto para Harry.
— Eu acho que gripei — Louis tentou disfarçar — Vô, você já olhou o quintal?
O velho se virou para a porta de trás, fazendo Harry sair de seu campo de visão. Louis apontou para cima, fazendo com o dedo, o sinal de “dois”, indicando o segundo quarto como o dele e então, sorrateiramente, Harry subiu as escadas, seus passos sendo abafados pelo tapete macio dos degraus. Louis se virou para o avô, quando viu que da caixa de Harry, caiu umas fotografias.
Maldito desastrado.
Louis correu ao tempo de pegar as fotos, mas foi falho. Quando Keith se virou, rabugento.
— Não me faça de idiota — O velho reclamou — Que merda me fez olhar para o jardim dos fundos? E por que está agindo estranho assim?
— Eu não estou estranho.
— Por que tem dois pares de sapatos na porta?
— Esses dois são meus — Louis justificou-se. Keith fechou a cara.
— Você não usa esse tipo de sapato.
— Eu posso começar a usar, não?
— Louis, o que você está escondendo?
Discretamente, Louis enfiou as fotos dentro da calça, atrás.
— Nada — Ele bocejou — A gente poderia dormir não é? Estamos tendo dias cheios.
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Alabama Song ➳ Larry version
FanfictionNa década de 50, na idade do ouro no cinema e Elvis reinava na terra da música, o jazz ainda tocava nas ruas de Paris, Frederick Styles tomava conhaque no Le Trous, e Keith Tomlinson era um aspirante à escritor que amava a vida. O caminho dos dois f...