Com que então não sabe nada sobre mim! Desde quando é que isso é um impedimento para as pessoas se amarem?!
- Podia chegar-me o sumo de laranja, por favor?- A pequena infanta pediu.
Peguei num copo que um empregado distribuía e entreguei-lho.
- Obrigada.- Bebeu.- Pareceis zangado.
- Impressão vossa.- Provei um dos doces enquanto via Helena falar com o velho juiz.
- É por causa de Helena?
- Porque haveria?- Levantei-lhe o sobrolho.
- Normalmente pareceis feliz quando se fala nela, quando estás com ela também.
- Não estamos juntos assim tantas vezes.- Desfiz o arranjinho.- Porquê, ela disse-vos que se divertia a meu lado?
- Não.- Riu.- Helena nunca admitiria uma coisa assim. Afinal de contas, se vos dissesse tudo não teria graça.
- Amor?! Nada disso.- Desvalorizei sentido um calor estranho cá dentro.- Ela nunca tinha sido assim comigo. Preferia um golpe de espada.
- A coitada está em casa, com o pai, o rei e toda a corte de olhos postos nela. Achavam que iam para junto do canteiro das rosas fazer sabe-se lá o quê?!
Não seria nada mal pensado, não senhora.
- Helena gosta de vós, sei que sim.- Olhou também para os sorrisos que a bela portuguesa soltava.- Ela só... está assustada.
- Assustada?
- Ela acha que foi envenenada e que esse veneno só é ativado a vosso lado.
Sim, Helena estava mesmo apaixonada, mas seria por mim ou pelo rei...
- A meu lado não creio. Afinal de contas todo o tempo dela é para vós ou para o rei.
- Bem... ela é minha dama de companhia, é essa a função dela, estar comigo. Além disso, o mano tem sempre assuntos a tratar com ela.
- Eu cá desconfio quais sejam...- Bebi o resto do vinho enfurecido.
- Perdão?
- Nada.- Esqueci-me que falava com uma criança.
Quando olhei novamente para Helena reparei que me encarava indiferente a quem lhe falava. Os seus olhos eram tão brilhantes naquela magnifica cor caramelo, a sua pele era tão branca e parecia ter aquela textura suave de veludo que nos faz nunca querer parar de tocar... uma pele pronta a ser marcada de beijos e era tão doce... que me fazia ter vontade de atirá-la contra a parede e beijá-la até sentir os lábios doerem, porém sempre doce. Jamais a magoaria.
O marquês veio informar que o jantar iria ser servido em breve.
Na verdade o cheiro estava magnifico e o borrego tinha muito bom aspeto. Os músicos nem por isso deixaram de tocar durante o jantar, as conversas altas e gargalhadas fizeram-se ouvir, menos as de Helena, que continuava tranquila, muito na sua, falava apenas quando falavam com ela, sorrindo por vezes para a infanta. O rei parecia divertido a ouvir as piadas sem tanta graça daquele Souto... Maior ou algo assim.
Aquele velho bajulador era mais bobo da corte que conselheiro.
- E foi só pegar na espada que correu para a terra dele!- Gargalhou alto e o rei acompanhou.
Helena revirou os olhos e deu um sorriso irónico como se o juiz fosse um imbecil, mas o rei, o pai e todos os outros fossem mais ainda por se rirem de uma situação tão estúpida. É... a mentalidade masculina é realmente infantil.
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A Amante do Rei
Historical FictionHelena é filha do Marquês de Montemor, membro do Conselho Pessoal de Sua Majestade, o Rei D. João, o V de seu nome. Helena Brotas Lencastre é também irmã do Governador da capitania brasileira de S. Paulo, Lucas. Com a coroação de D. João, Helena dec...