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Dois anos depois – Belle Edmond

A vida poderia ser uma caixinha de surpresas. Os anos? Apenas dúvidas de como serão e o que os próximos meses nos aguardavam.

Se eu soubesse há três anos atrás qual rumo a minha vida teria, talvez, não tivesse cometido os mesmos erros.

Eu me arrependia dos meus erros. Alguns, não todos. Exceto um. O único do qual não me arrependia, por mais que quisesse.

Um suspiro audível preencheu a floricultura vazia.

Era uma manhã quente de verão. Por ser julho, o clima era seco e terrível para as flores.

E odiável para mim.

O perfume das flores e o calor traziam algumas lembranças a tona. Lembranças essas que eu gostaria de esquecer e nunca me lembrar.

O sino da porta tocou, anunciando um novo cliente. Senti a brisa quente entrar pela porta. Um terrível e odioso vento.

Tentei sorrir, escondendo o quanto odiava aquela época do ano e ser gentil com meu primeiro cliente naquela manhã ensolarada.

— Bonjour, Bem- vinda a La Vie En Rose Fleurs, em que posso ajudá-la? — murmurei detrás do balcão principal.

Assim que vi a figura baixa e grisalha da sra. Caston, um sorriso largo surgiu em meus lábios. Suspirei aliviada por não ter que fingir uma falsa animação e saí de trás do balcão, indo a seu encontro.

— Bonjour, Belle. As Tulipas estão tão lindas hoje — ela elogiou, lançando um olhar brilhante e apaixonado para as flores que estavam em um vaso próximo a vitrine da floricultura.

— Oui, madame Caston! Daphne está feliz com o carregamento que chegou hoje bem cedo. Tivemos sorte desta vez — eu disse, piscando um olho.

Seus olhos pareceram brilhar ainda mais com a informação.

— Oh, que maravilha! Sendo assim, vou levar um buquê com meia dúzia, iguais aquelas roxas, ali — disse ela, apontando para as flores no vaso.

Sorri com sua animação e segui em direção a porta, onde tínhamos uma estufa para manter as flores ainda frescas.

— Vou preparar buquê agora mesmo para a senhora — informei por cima do ombro.

Edwina Caston era uma senhora quase na casa dos setenta. Era adorável e apaixonada por flores. Quase todas as manhãs ela aparecia aqui e levava um buquê das nossas flores mais frescas e bonitas. Às vezes, eu me pegava imaginando em como deveria ser a sua casa, de tanto que ela gostava de flores. Ela com toda a certeza deveria ter um jardim lindo e magnífico.

Um sorriso cresceu em meu rosto quando pensei naquilo novamente.

Comecei a pegar algumas das Tulipas mais bonitas. Preparei o buquê rapidamente, no modo automático. O costume de fazer isso quase todos os dias me deixava assim. Eu o fazia desde que era criança, então estava acostumada a preparar arranjos lindos e delicados.

Mas não aquela não era parte satisfatória. Não. A melhor parte era ver sorriso dos clientes quando recebiam as flores, ou simplesmente, o ato de ganhar uma flor. A simbologia um pouco antiga já não era mais usada com frequência. Os tempos eram outros.

Sob Os Vinhedos de Bordeaux #2 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora