Grayson

Capítulo 43

Enquanto o sorvete desce pela minha garganta levanto a manga esquerda do moletom, olhar para o lugar vazio a minha frente me faz pensar que as coisas nem sempre saem como imaginamos e isso só me fazem suspirar e fazer com que mais dessa delícia de morango desça até o meu estômago. O Mark's é o meu refúgio desde que ganhei meu carro, as garçonetes são simpáticas e a comida e o sorvete são divinos.
- dia difícil querida ? - Carol, me pergunta preocupada.
Carol e eu nos conhecemos a nove meses, ela tinha acabado de conseguir um emprego aqui e eu havia tido um dia de cão. Acabamos conversando e aí eu soube que ela estava se divorciando e o marido havia tomado tudo o que ela tinha. Carol é como uma mãe pra mim, seus quarenta e dois anos são quase imperceptíveis por causa dos belos olhos castanhos e o corpo de dar inveja.
- depende. Andrew é eu tivemos uma leve discussão e talvez ele tenha falado coisas que não soaram muito bem. - espeto o sorvete com a colher.
- que tipo de coisas?
- foi uma situação bem desconfortavel pra mim que ele acabou presenciando e me ajudando, acabou que eu não gosto de nutrir sentimentos ruins por ninguém e decidi perdoar a pessoa. Andrew não consegue entender isso Carol.
- sabe Mia, dificilmente um homem consegue entender o nosso lado, seja ele sentimental ou não. As vezes seu namorado pode estar zangado por não encontrar motivos para que voce perdoasse essa pessoa ja que visivelmente, ele nao perdoaria. Não por agora.
- voce tem razão Carol.
- voces deveriam conversar, ele precisa entender como voce funciona e voce precisa saber o que atiça esse sentimento de raiva nele. - seus braços dourados caem ao lado do corpo e ela apoia as mãos na cintura.
- acho que um gelo já é o suficiente por hoje. - termino meu sorvete. - vou deixar para amanha essa conversa.
- certo. Quer mais alguma coisa querida?
- não Carol, estq tudo bem. Obrigada.
Um cliente a chama e eu volto a prestar atenção na taça de sorvete agora vazia, a calda de morango ainda está lá misturada ao resto de sorvete derretido. Andrew estava transtornado, parecia completamente fora de si e tudo isso por que? Daniel em algum momento durante o bate boca deve ter dito que eu o desculpei por seu momento de loucura. Mas ... A reação de Andrew poderia ter sido menos exagerada, as pessoas estavam olhando e eu me senti muito exposta. Eu deveria ter contado pra ele o que aconteceu quando ele e Sam faltaram no mesmo dia, mas eu achei que não precisava dizer cada passo da minha vida e eu não preciso. O que Andrew precisa entender é que não precisava ter motivos para tal ato desconfortável, o celular toca pela sétima vez e ao olhar de relance o nome dele aparece junto a sua foto. Decido ignorar e peço a conta para Carol, saio da lanchonete e durante o caminho para casa penso em como tudo pode ir por água a baixo em tão pouco tempo.

" "

Debaixo da água quente deixo com que meu corpo relaxe como nunca antes, imaginando como resolver toda essa situacão e querendo minha cama e meus cobertores. Me seco e coloco apenas um camisão, mas desta vez ele não tem estampa de ursinhos, unicórnios, rosquinhas, nuvens ou Star Wars, ele é tão negro quanto os cabelos de Andrew.
Mais uma coisa que me lembre ele.
Me jogo em minha cama e mesmo com o calor me cubro com o edredom cheirando a amaciante. Meu celular toca novamente e sem muita vontade atendo sem nem mesmo olhar.

- alô ? - digo fungando, o nariz entupido pir ter deixado a agua quente demais e o ar gelado demais.
- voce esta bem? 
- não Sam, estou cansada de certas coisas apenas.
- fiquei preocupado com você quando soube da quase briga entre seu namorado gostoso e o estuprador de merda e agora mais do que nunca eu acredito que foi um sinal divino que me fez te ligar. O que aconteceu ?
- não foi uma briga e mesmo se tivesse sido, - fungo novamente - eu não ficaria pra ver quem ia ser o vencedor babaca.
- e você esta certa morango.
- Andrew estava diferente comigo Sam.
- como assim morango ?

Ah, eu não posso contar ! Sam vai pirar e contar ao meu avô, que vai querer matar Andrew por isso.

- vou ser direta por ser meu amigo Sam, Andrew ficou estranho comigo quando descobriu que eu perdoei Daniel, mas eu acho que não deveria contar tudo o que acontece comigo pra ele sabe.
-  estranho como?
- os olhos dele pareciam me acusar sabe, como seu eu estivesse brincando com ele e com Daniel.  Eu tô evitando ele desde cedo, já foram mais de trinta ligações, cem torpedos e ele me mandou mensagem em todas as redes sociais.
- belo gelo em, e bem merecido.
- Sam, eu tô com a minha cabeça explodindo posso te ligar mais tarde ?
- vai deitar e tenta não levar isso pro coração ta. Eu te amo.
- também te amo Sammy.

Desligo o celular e deixo no modo avião, para a minha sorte vovô não está em casa, felizmente hoje ele tem aula de Pilates em uma academia um pouco afastada do bairro e assim não poderá me ver desse jeito, quando o mesmo chegar vai ser como se nada tivesse acontecido. Agindo o rosto em uns dos travesseiros e respiro o mais fundo que eu posso, a queimação em meus pulmões e olhos deixa tudo mais dolorido.
Perfeito.
O vento move a cortina que me escondia do sol e o mesmo passa com os raios ainda meio quentes, sorrio rápido com a sensação quentinha e me estico para melhor me esquentar.
Eu preciso de paz por um minuto.
Sem Andrew
Sem Daniel
Sem Sam
Só eu.