Edward

O tempo infelizmente fazia seu papel, não se via os minutos passando, talvez porque tudo começou a mudar. Em pouco tempo tivemos muitas perdas, a maioria delas, drásticas. Poderíamos estar em um transe. Tudo realmente agravou quando aquilo aconteceu. Esse ano acabou comigo. O que antes considerava simples se tornou complexo e o plano de nossos inimigos era minuciosamente pensado. Um quebra-cabeça de mil peças formou em nossa mente e nós fomos os principais culpados pela sua criação.

Não havia rastros, não existiam evidências do crime, disseram que ele era muito perfeito para ser cometido por um humano. Nada foi oficialmente descoberto, apenas criaram hipóteses, a maioria sem qualquer sentido para nós. O caso ficou arquivado em uma prateleira mais profunda de uma delegacia qualquer. Aqueles que o praticaram são diferentes de nós, os humanos. Eles não têm digitais, mas se eu falasse isso seria igual aos outros: profanos, eles não sabem de nada. É raridade os ver em público e acredite no que eu digo, não queira topar com nenhum deles. Eles se escondem de inúmeras maneiras para não serem reconhecidos, e caso sejam, algo pode dar muito errado. Se um dia você acabar encontrando com eles, a sua vida poderá não ser a mesma.

Os dois últimos meses de férias haviam me caído muito bem, compensaram todos os momentos chatos das aulas que o sono vinha primeiro do que a vontade de estudar. Foi horrível quando lembrei que as aulas voltariam e todos esses períodos acabariam.

O primeiro dia de aula começou, felizmente não estava nela.

Sempre estudei em escolas particulares (as melhores e mais caras), era o máximo. Mas meus pais eram severos. Na metade do ano anterior, eles repetiam aquela mesma história irritante: recuperações, advertências e suspensões. Bolados com a situação tentam inovar o máximo possível, decidem me colocar em uma escola pública, eles próprios me disseram que eu não merecia aquela escola.

A ideia era totalmente estúpida, perderia todos os meus amigos que fiz na outra escola e tudo que mais ganhei nela, mas meus pais pareciam não se importar com isso. Falaram que encontraria novas pessoas e outras palavras que me enjoam. Fiz o máximo para convencer que não seria bom ir para uma escola pública, disse que até esforçaria para melhorar minhas notas, tudo em vão.

O esforço deles de nada valeu, pois quando o semestre acabou se arrependeram em me colocar aqui, minhas notas pioraram. Infelizmente continuei nessa escola. A situação agravou quando receberam uma advertência minha, meu pai foi o primeiro a falar com a diretoria. Ele disse que ficou envergonhado disso tudo e jurou que isso jamais aconteceria novamente, uma situação típica dos meus pais.

Segundo dia, meu pai me deixara cedo na escola, o que foi entediante. É horrível ficar esperando que um portão abra.

As primeiras aulas são as melhores, os professores não fazem algo de interessante e falam regras e muitos avisos que chegam a ser repetitivos, mas dentre tudo que falaram havia uma coisa interessante.

Pela primeira vez decidem fazer algo inovador na história da escola, uma viagem. Não uma viagem para uma cidade aleatória, reconhecida por poucos ou por um grupo específico, uma viagem para São Paulo, denominada a maior cidade do país. O que na minha visão poderia ser desastroso.

Eu não estava tão animado, na verdade eu nem queria ir, mas Victoria repetia vinte e quatro horas sobre a viagem e todos os lugares que visitaríamos e jurou que se não fosse me daria um belo soco. Victoria era uma menina menor que eu, branca, dos olhos castanhos, magra e com os cabelos exageradamente pretos, como um corvo. Conheci-a no ano passado e por sorte ficou na minha sala este ano.

Ela se esforçou o máximo pra me convencer e depois de passar algum tempo decidi que não havia nada de mal em viajar. Ela ficou tão contente quando o anunciei. Pelo menos foi diferente de minha mãe, que dizia: "Você pode fazer novos amigos na viagem".

Descendentes de GhostwrickWhere stories live. Discover now