queime o jogo perigoso

6.4K 917 1.2K
                                    

NA NOITE EM QUE ELIZE PRESCOTT NÃO MORREU

Depois que o viu ir em sua direção, Elize esperou por Scott, mas ele não apareceu. Cinco, dez minutos se passaram e nada. O carro dele continuava lá fora, nas sombras, e as marcas de suas pegadas no jardim também. Elas andavam da fonte até a porta de entrada da mansão, passando pelos fundos. Elize refez todo o trajeto com os olhos pelo menos umas dez vezes, mas nada dele, e a cada segundo de expectativa o seu coração batia mais rápido. Queria saber onde Scott estava, o que pensava e o que pretendia fazer. Aquela sensação de mistério era muito mais assustadora do que simplesmente encarar o que ele decidisse fazer.

Decidiu não esperar, porque tomar o controle de situações conflitantes era seu ponto forte. Iria atrás de Scott e resolveria qualquer pendência ainda existente, qualquer coisa que não tivesse sido esclarecida em sua mensagem.

Ela escondeu as malas de sua fuga embaixo da cama, fechou as portas da sacada por causa do frio e pegou um dos casacos que ganhou de presente para cobrir o decote quase desconfortável do vestido. Antes de sair do quarto, olhou para as próprias mãos, notando que estavam trêmulas. Respirou fundo, fechou os olhos e contou até três: podia fazer aquilo. Lidar com Scott não deveria mais ser um problema, não depois daqueles quinze dias.

Silenciosamente, abriu a porta e entrou no corredor vazio do segundo andar. As luzes laranjas e fracas no teto pouco mostravam dos cantos das paredes, mas o reflexo do lustre no meio da escadaria servia para não deixar que tudo ficasse absolutamente escuro. No andar de baixo, empregados se movimentavam para limpar o salão de festas. Devia ter pelo menos dois ou três deles, e ficariam por perto até o amanhecer, mas a companhia daqueles estranhos não fez com que Elize se sentisse menos sozinha, nem vulnerável.

— Luci?

A voz a assustou, mas quando se virou para encontrar Scott acabou ficando aliviada. Ele estava nas escadas, subindo o último degrau. Olhou para ela por um instante e sorriu, aproximando-se. Trazia um embrulho vermelho com um laço rosa nas mãos. A gravata do smoking estava frouxa ao redor do pescoço, alguns botões da camisa social abertos. Dava para ver uma das diversas tatuagens que ele tinha no peito escapando pelo tecido branco: uma caveira. Elize perguntou o significado dela uma vez, mas ele nunca disse.

Ele se aproximou o suficiente para abraçá-la, e Elize fechou os olhos. Imediatamente se esqueceu qual fora o motivo de ter desistido da fuga. Bastou Scott passar os braços ao seu redor para que ela se sentisse quente, como se o calor dele fosse o suficiente para combater todo o inverno.

— Não tive a chance de te desejar feliz aniversário apropriadamente — Scott sussurrou em seu ouvido.

Elize sentiu as palavras dele descendo por todo o seu corpo, tomando o lugar de um arrepio involuntário. O apertou mais, agarrada ao seu pescoço, inalando o cheiro de cigarro, perfume e árvores úmidas que sempre o rodeava. Era o melhor aroma do mundo. Quando ficava em seus lençóis, mesmo quando Scott ia embora, Elize dormia melhor pelo resto da noite.

Ele abriu a porta do quarto, e os dois entraram. Quando o clique da fechadura estalou nos ouvidos de Scott, ele beijou Elize delicadamente. Ainda segurava o embrulho com o presente dela em uma das mãos, mas não parecia dar a mínima para ele. O deixou cair no chão assim que perdeu o fôlego, percebendo rapidamente que Prescott não estava exatamente no seu estado normal.

Ela parecia desesperada para tê-lo.

— Ainda bem que você não foi embora — disse Elize entre os beijos.

Scott não parava de sorrir.

— É o seu aniversário. E temos o nosso plano de fuga.

Algo congelou aquele momento, e Elize se sentiu obrigada a afastá-lo com uma das mãos para conseguir encará-lo. Seu rosto era perfeito: das sobrancelhas ao puxar de lábios raro em um rosto sempre tão tenso. Os olhos verdes brilhavam mesmo no escuro, presos aos dela. Estavam cheios de expectativa, contagiantes como uma música animada. Elize queria muito dizer sim naquele momento; pegar a mala em baixo da cama e ir embora com Scott para nunca mais voltar.

Queime Tudo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora