Yizin's - Tumba, primeira parte

5 0 0
                                    


Era um noite muito escura naquele lugar em específico, no meio do deserto. Talvez por conta de que a única fonte de iluminação fosse a lua no céu noturno e sua interminável quantidade de estrelas. Naquele lugar, devido à pouquíssima quantidade de poluição luminosa, a visão do cosmos era incrivelmente abrangente, caso um observador esteja sobre alguma duna de areia. Mas é claro que, também, essa pessoa talvez morreria de frio, de sede ou de fome, como muitos dos viajantes do Egito, no passado. Mas ser queimado durante a noite por um excessivo calor parecia muito pouco provável... Até aquela noite, naquele amontoado de areia, naquele local específico.

A areia começou a se mexer, afundar e girar. Logo, um grande redemoinho de areia do tamanho de uma sala de estar estava em ação, sugando e absorvendo areia até confins escuros em seu centro, para sabe-se lá aonde. Claro que, naquelas circunstâncias, é muito duvidoso que o suposto observador esteja inclinado a descobrir; estaria mais concentrado em correr e escapar da "correnteza", é claro. O redemoinho crescia em um ritmo assustador: em cerca de meio minuto, já estava do tamanho de uma casa, e ainda crescendo. Minutos depois, o redemoinho poderia ser visto a quilômetros de distância, na atmosfera. E então, subitamente, um estouro abafado surgiu de seu centro, jogando para fora montanhas e mais montanhas de areia enquanto outra coisa emergia, subia em um ritmo assustadoramente lento. Uma pirâmide com pedra esverdeada, um verde-musgo, mas ao mesmo tempo em uma tonalidade tão mais escura e variável que era impossível, para mentes humanas, determinar exatamente sua cor, de forma que ora estava clara, ora estava escura, em intervalos e circunstâncias totalmente aleatórias, refletindo a pouca luz proveniente dos astros.

Naquela noite, no entanto, aquele lugar sob as estrelas não recebeu mais nenhuma luz. Os corpos luminosos pararam de brilhar sobre a superfície cheia de marcas e hieróglifos da pirâmide, como se se recusassem a olhar tamanho horror, algo que talvez somente elas pudessem sentir. Elas se afastaram de maneira irregular, mantendo-se nos limites do alcance da base da pirâmide, de forma que toda ela estava sob um grande e interminável vazio espacial, com estrelas formando um quadrado ao seu redor. Ao contrário das pirâmides egípcias, esta tinha superfície euclidiana, ou seja, uma real pirâmide, sem as várias e gigantescas escadarias
de blocos de pedra que serviam de túmulo para ancestrais faraós.

Atravessando as grossas paredes de pedra verde, no entanto, uma pulsação invisível a olho nu era emitida periodicamente, de dez em dez segundos, agitando tudo num alcance de trinta metros a partir da pirâmide, para todas as direções. A areia começou a derreter, o ar começou a se tornar visível, provavelmente criando miragens dentro daquela grande área oval, como as grandes ondas de calor que são absorvidas pela areia a perder de vista, durante o dia. E esse fenômeno inexplicável criou um grande e volumoso rio de vidro líquido e sal, estático e borbulhante. E, ressoando junto com a pulsação, uma voz grave e sussurrada passou através do espaço, chegando aos ouvidos de pessoas a quilômetros de distância dali, palavras tão carregadas de malevolência que traziam junto o odor férreo de sangue. Palavras distorcidas e aceleradas, como se algum ser estivesse puxando-as de algum lugar no fundo de sua garganta, ou ressoadas de um tubo ainda mais largo e alto conectado ao oceano. Um afogamento, um gargarejo sob circunstâncias extremas e inimagináveis.

"Qotszofr. Yizn's."

E isso aconteceu somente uma vez, somente na primeira ondulação daquela noite, deixando milhares de pessoas assustadas demais para dormir ou trazendo pesadelos horríveis para aqueles que não não acordaram: uma gosma disforme, negra e profunda, com extensões no formato de membros auxiliares. Braços, pernas e dedos, sem nenhum arranjo específico e fugindo de toda a lógica e possibilidade de existência previamente estabelecida pela biologia e pela razão humana. Ela se manifestava no local onde dormiam, com seus corpos deitados, no pesadelo, sobre a cama. A... Coisa, único jeito de resumi-la com alguma palavra conhecida, atravessava a porta como se ela não existisse, arrastando-se e deixando para trás um rastro grosso e espesso de gosma enegrecida. Escalava a cama, se distribuindo por baixo do corpo da pessoa tomando a forma de uma poça, sujando as roupas e o corpo do pobre ser e cobrindo-lhe até a altura dos ouvidos, onde as palavras continuavam a ressoar ao longe, se aproximando, mais e mais, até a voz estar tão perto quanto suas orelhas, tão alta quanto um grito, mesmo sussurrado e grave. A sensação era de que alguma coisa nadava e se aproximava pelas profundezas escuras e terríveis do oceano desconhecido, se afogando e sofrendo mais e mais a cada movimento que fazia. Normalmente, a pessoa acordava em gritos ou em crises asmáticas, como se ela também estivesse se afogando, agarrando com força qualquer coisa que esteja ao seu alcance. Em seus calcanhares, atrás de sua cabeça e nas palmas das mãos, uma substância preta e viscosa, de origem desconhecida, que aumentava ainda mais o terror: teria sido um sonho concretizado?

AntigosWhere stories live. Discover now