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Senti algo mexer-se por baixo de mim. Mas que raio? O colchão não se mexe sozinho! Abri os olhos e deparei-me com uns belos olhos azuis a olhar para mim e um sorriso que iluminava o meu mundo por completo. Ao aperceber-me a quem pertenciam os olhos e o sorriso saltei, literalmente, da cama e rapidamente o abracei, eu precisava de ter a certeza de que ele estava ali, de que ele estava acordado, de que ele não me tinha deixado.

“Foste tu que o deixaste” relembrou-me o meu subconsciente.

-L-l-luke.- murmurei assim que este correspondeu ao meu abraço, lágrimas ameaçavam cair e apertei-o mais, esquecendo-me que ele estava aleijado, porque é isso que me acontece quando estou com ele. Todo o meu mundo pára e nada mais importa para além dele. Ele aos poucos tornou-se o mundo para mim e sem ele eu não sou forte, sem ele eu vou a baixo como tem acontecido nos últimos dias, semanas. Fui desperta dos meus pensamentos por um gemido de dor vindo de luke e só aí me apercebi que o estava a apertar de mais. Como eu vos disse, quando estou com ele, esqueço tudo o que nos rodeia.

Afastei-me dele, com lágrimas a ameaçarem cair, e sentei-me na cadeira que se encontrava ao lado da cama, e limitei-me a olhar para aquele belo rapaz que se encontrava à minha frente. Olhava-o com carinho, talvez com medo, medo que ele me rejeitasse, por isso apreciei cada detalhe seu, mesmo até aquilo que antes considerava insignificante, hoje chamava-me a atenção, admirava-o como se fosse a última vez que o iria fazer. As palavras estavam presas na minha garganta e eu não as conseguia libertar sem que lágrimas me caíssem. E antes que eu me pudesse controlar, eu já estava lavada em lágrimas.

-Emily, não chores, estás a matar-me. – pediu.- Chega aqui.- esticou-me a mão.

A medo agarrei-a e ele, a muito custo uma vez que estava com várias feridas, chegou-se para o lado e encorajou-me a sentar-me a seu lado. Encostei a minha cabeça no ombro dele e ele interlaçou as nossas mãos colocando-as em cima da sua perna, enquanto desenhava pequenos círculos com o seu polegar na minha mão.  Ficámos assim vários minutos, apenas a saborear a companhia um do outro, o ambiente entre nós estava estranho, mas mesmo assim não nos largávamos. Sabíamos que se algum de nós acabasse com este momento, provavelmente iriamos ambos desabar em pedaços e lágrimas de sofrimento.

Sem nunca o largar, decidi quebrar o silêncio que existia entre nós.

-Desculpa, desculpa.- comecei mas fui interrompida por um dedo indicador nos meus lábios.

-Shh, não peças desculpa, está tudo bem.

-Não, não está, eu tenho mesmo que te dizer isto, eu tenho que te dizer tudo o que está preso na minha garganta à dias.-ripostei. Ele assentiu encorajando-me a continuar.

-Eu fui injusta contigo, eu nunca te devia ter mandado embora, isso só foi pior para ambos e eu não me deveria ter precipitado em relação à chamada de ano novo, eu deveria ter-te ouvido, e mesmo que estivesses com outra rapariga eu não poderia culpabilizar-te afinal a culpa era minha, fui eu quem te pediu para voltares sem mim, mas parecia tão mais fácil de ultrapassar a dor se te culpabiliza-se a ti e não a mim. Além disso nós não somos namorados ou algo assim por isso eu não tinha direito a ficar chateada. Mas eu não sei Luke, eu não amo ninguém, eu nunca amei, nem sei se sei amar, mas se aquilo que sinto por ti não é amor, eu não sei o que é. Estes dias foram mil vezes piores do que aqueles em que te culpabilizava por algo que tu não tinhas culpa, o poder perder-te consumiu-me a alma, eu quase entrei dentro da sala de cirurgia, eu estava desesperada, eu não te podia perder, eu preciso de ti, sem ti eu não sou nada.

Os meus soluços começaram a ser mais intensos, impedindo-me de continuar.

-Shhh, tu não me perdeste, nem vais perder pequenina. Eu estou bem, e hey, olha para mim.- pediu enquanto me levantava o queixo fazendo-me encara-lo. – Sempre me disseram que quando amamos algo deveremos deixá-lo ir e que se voltar é porque nos pertencia, caso não voltasse era porque nunca tinha sido nosso. E tu pediste-me para ir embora, tu afastaste-te de mim ao afastares-me de ti, e eu tive que te deixar afastar-me, porque eu amo-te e se tu precisavas que eu me fosse embora eu iria, eu fui forte o suficiente para te deixar ir,porque lá no fundo eu sabia que ias voltar para mim, eu tinha esperanças que o fizesses. E nem que eu tivesse que correr o mundo inteiro ou esperar o infinito, eu fá-lo-ia só para te voltar a ter nos meus braços. E quanto ao não namorarmos, sabes que só não namoramos porque tu não queres, tu não estavas preparada para uma relação lembraste?- perguntou-me com a sua voz rouca, visto que estava todo “partido”, e enquanto me afagava a cara com uma das mãos na tentativa de me limpar as lágrimas e de me acalmar.

DarknessWhere stories live. Discover now