A cadeia alimentar

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A escola é a ilustração perfeita da cadeia alimentar. Na realidade, muitos dos estudantes se comportam realmente como animais. Há os que estão no meio da cadeia — sim, vou deixar as extremidades para depois — e os que estão um degrau acima do mais baixo, que sobram na calçada. O terceiro amigo, aquele que não está fora nem totalmente dentro, mas que, às vezes, quando abre a boca, acaba com o clima agradável da conversa.

Acima deles, estão os caras legais: amigos de todo mundo, mas eu posso apostar que, quando precisam de alguém, dificilmente vão ajudar. Vão às festas, curtem, se divertem. Há os que estão quase no topo, com amigos, festas, bem nos estudos — tudo quase na medida certa — e provavelmente ficam perto de outra pessoa igual, acabando por deixar aquele terceiro amigo de lado.

E, então, o topo da cadeia.

Sabe aquele cara que sempre, quando chega, tudo parece ficar em câmera lenta? Ele joga os cabelos e as garotas vão à loucura! Os cabelos, mesmo descoloridos e tingidos, são sedosos. Sério, isso nem existe. E deixa todos os caras pensativos sobre a própria sexualidade? Sim. Ou eles são extremamente machos ou estão distribuídos em uma das letras do LGBTQIA+. No caso dos extremamente machos, geralmente não são dotados de inteligência, mas adivinha? Não precisam dela, porque o mundo gira a seu favor, e é incrível ser assim. Conseguem ser bons nos esportes, então acabam se safando. Quem é bom em, sei lá, vôlei, não podem falar que é um fracasso, certo?

Sendo o último ano de colégio, obviamente os formandos já são o centro das atenções. Se perguntarem "Ei, algum problema?", sugiro que apenas corra. De qualquer jeito, eles se viram para serem os melhores, mesmo nos uniformes colegiais — às vezes, um botão aberto é o suficiente. E o mais importante: você vai querer ser um deles.

Mas a cadeia alimentar precisa de equilíbrio para existir, e é aí que eu entro. Dezoito anos, prestes a me formar, um e oitenta e dois de altura, setenta e dois quilos, nariz arrebitado, dentes avantajados... só um pouco, vai.

Se eu estou no topo?

Bem, eu disse que havia duas extremidades. Eu estou bem, mas bem embaixo, com muito orgulho.

— Jeon Jungkook!

Dou um pulinho na carteira, sendo arrancado de meus pensamentos. Não se pode nem viajar na maionese em paz?

— Sim, senhor.

O professor estreita os olhos. Professores são casos à parte, têm a própria cadeia, e eu não tenho a menor ideia de como funciona. Mas onde um cara com uma barriguinha saliente, careca, sarcástico e mal-humorado entraria?

— Poderia, por favor, responder à pergunta que lhe fiz? — ele pede, novamente usando o tom carregado de sarcasmo.

Tem uma mancha de café no colarinho dele? Ajeito os óculos para os meus graus de astigmatismo, nem tão altos assim. Hm... A resposta é... Sim!

A turma inteira gargalha, e eu me remexo na cadeira, mas não olho pra nenhum lugar. Eu detesto atenção nessas circunstâncias, porque, quando estou pensativo nas aulas, geralmente fico surdo, de olhos arregalados e inerte no mundo. Algumas pessoas não ligam; outras, como esse professor, ficam furiosas comigo. Uma vez, meu primo conseguiu prender o meu cabelo e colocar o arquinho da minha irmã, sem que eu sentisse nada. Nem me pergunte.

— A minha pergunta — inicia, falando pausadamente, daquele jeito de quem já perdeu a paciência, mas, por um pouco de graça, dá uma corda — sobre os princípios de Platão, sobre a teoria da caverna. A resposta não é "sim".

Inspiro um pouco, com mais risadas ecoando ao meu redor, e ajeito o meu casaco grande azul-marinho, no mesmo tom do uniforme, antes de voltar a falar:

— Acredito que o senhor queira dizer sobre o mito da caverna. Mito da caverna é uma metáfora criada pelo filósofo grego Platão, que consiste na tentativa de explicar a condição de ignorância em que vivem os seres humanos e o que seria necessário para atingir o verdadeiro "mundo real", baseado na razão acima dos sentidos. Enfim, não é uma teoria, porque não é conhecimento especulativo, metódico e organizado... É uma metáfora — falo tudo isso diretamente decorado dos meus melhores resumos. É, alguém poderia, por favor, trazer um microfone para eu deixar cair no chão?

De pernas pro ar | REPOSTANDO CORRIGIDAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora