Capítulo 105

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Vestindo um short jeans escuro e uma camiseta branca curta com a estampa da bandeira americana ocupando toda a parte frontal pego minha mochila antiga, estampada com várias corujas, e nela deposito todo o meu material escolar, arrumando os cadernos e alguns livros. Deixo a mochila, já fechadas, sobre a poltrona e me jogo na cama, sentindo os raios solares atingirem minhas pernas e resolvo ficar um pouco ali.

Já são sete e meia da noite e Andrew ainda não me ligou, desisto de esperar ao lado do celular e me levanto, enfiando o aparelho no bolso frontal do short e deixando o quarto. Ainda descalça sinto a madeira do piso já gelada pela falta de calor, desço os degraus e não vejo vovô na sala. Corro até a sala de jantar e me direcionou até a biblioteca, encontrando o general aposentado encostado em sua cadeira com alguns livros sobre a mesa. Ele ainda não me viu chegar e me aproximo devagar, colocando as mãos em seus ombros com cuidado para não assustar seu pobre coração.
- mal chegou e já está enfiado nessa biblioteca ?
- minha fisioterapeuta me ligou cancelando a sessão de hoje, amanhã eu terei de ir a aula de pintura após a compensação da falta dela.
- isso não justifica você estar aqui vovô ? Por que não vai a casa de John conversar um pouco ?
- não quero incomodar, eles estão aproveitando a vinda dos filhos.
- se quiser podemos ver algum programa juntos, ou fazer o jantar.
- tudo bem, vamos fazer nosso jantar.
Saio de trás da cadeira e espero ele se levantar para deixar a biblioteca, ajeito os óculos e me coloco a caminho da cozinha, acendendo as luzes e já pegando os ingredientes na geladeira e no armário.
Meu avô chega esticando os braços para pegar o avental dentro de umas das gavetas do gabinete da pia, abaixo para pegar duas panelas médias e as coloco sobre a bancada de madeira.
- o que vamos fazer hoje ? - pergunto me levantando.
- que tal uma torta salgada, já faz algum tempo que não comemos um boa torta. - vovô veste o avental enquanto me responde.
- eu faço a massa e o senhor o recheio ?
- claro, só não coloque farinha demais
Pego uma vasilha funda para misturar os ingredientes e apanho os que faltaram, os deixando sobre a bancada. Prendo os cabelos em um coque no topo da cabeça e abro as embalagens de farinha de trigo e de fermento químico em pó.
Depois de alguns minutos preparando a massa o cheiro maravilhoso do recheio chega até mim, inspiro fundo e deixo a forma de lado, indo até meu avô e cheirando o recheio mais de perto.
- o cheiro está divino vovô.
- eu sei, querida. - ele se gaba
- a massa já está pronta.
- aqui também, agora pode ir guardar os livros que deixei em cima da mesa da biblioteca por favor, eu termino o resto.
- tudo bem vovô.
Deixo a cozinha e escuto a campainha tocar, giro a chave da porta e a abro, dando de cara com um par de olhos azuis curiosos.
- ah... Oie. - digo sorrindo sem graça por ter esquecido que ele viria.
- oie Mia.
- vem, entra.
Lhe cedo passagem e ele entra olhando para os lados, a calça jeans preta colada, a camisa xadrez branca e preta com os dois primeiros botões abertos e um gorro preto por cima dos cabelos castanhos.
- vem comigo.
Caminho com ele até a sala de jantar e ao acender a luz já vejo os dois retratos embalados agora em duas caixas de papelão decoradas com os mesmos desenhos e cor das das molduras.
- você veio de carro ? - pergunto rápido.
- sim, deixei parado a duas casas daqui.
- por que não deixou aqui na frente ?
- achei melhor evitar confusões com seu namorado. - ele arqueia as sobrancelhas.
- o seu é a caixa branca, espero que não se incomode de eu ter tomado a iniciativa de emoldurar. - cruzo os braços.
- como eu havia dito Mia, realmente não precisava mas eu agradeço por ter feito. - ele sorri e apanha a caixa com cuidado.
- okay Daniel.
Saio da sala de jantar e escuto seus passos atrás de mim, meu avô, ainda terminando a torta, apenas acena para Daniel, que devolve um sorriso e um aceno com a cabeça. Abro a porta e deixo Daniel passar, saindo depois dele.
- ah, aonde você está indo Mia ? - ele questiona.
- abrir a porta do carro para você.
Ele se cala e eu vejo que ele deixou o carro depois da casa de John, o vento é um pouco frio mas nada que eu não aguente até a volta para casa.
- a chave está aonde ? - pergunto ao chegarmos perto do Porsche branco 911.
- no bolso da calça.
Chego perto dele e enfio a mão no bolso traseiro de sua calça, arrancando a chave do veículo com pressa e desativando o alarme.
- coloque com cuidado.
Abro o porta do passageiro e observo quando ele deixa o quadro em pé no banco, o envolvendo com o cinto de segurança.
- aqui está suas chaves.
- obrigada Mia, obrigada mesmo.
Os olhos azuis um pouco mais escuros que o normal me chamam a atenção, Daniel tem as mãos enfiadas nos bolsos frontais do jeans apertado.
- não precisa agradecer novamente.
Sorrio fraco e Daniel da um passo para frente, respiro devagar e direciono o olhar para baixo, intercalando entre meus pés e os dele.
- eu acho que já vou indo Daniel, nos vemos na escola.
- ah sim, - ele parece meio afogado nos próprios pensamentos. - então tchau Mia.
- Tchau Daniel.
Me viro ainda sem olhar em sua direção e começo a dar passos largos até minha casa, o barulho do motor do Porsche sendo ligado é ouvido e a cada vez que chego mais perto de casa sinto como se a tensão que pairava no ar tenha se dissipado por completo.
Graças a Deus.

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora