Capítulo 110

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Permanecemos abraçados por mais de quinze minutos, olhei meu celular de relance e vi que já estou muito atrasada para a aula de Biologia. Uma parte de mim fica preocupada por deixar Sam, mas sei que em qualquer lugar que ele se enfie, vai fazer colegas, por outro lado, fico aliviada por não ter que ver a cara nojenta do senhor Smith. Andrew ainda não disse uma palavra, nem mesmo tentou ser malicioso pelo fato de estarmos sozinhos.
Isso é preocupante.
A vinda do irmão mexeu com ele mais do que ele quer deixar transparecer, suspiro pesado sobre seu peito coberto pelo moletom e fecho os olhos devagar. Ouvindo o ritmo dos seus batimentos cardíacos, contando quantas vezes eu sinto seu coração bater calmamente contra o peito.
- desculpa por te fazer perder a primeira aula. - sua voz decepcionada me faz abrir os olhos.
Levanto a cabeça e o pego me encarando, os olhos, agora mais suaves e menos raivosos.
- não precisa de desculpar por algo tão bobo amor, não iria te deixar, nem que me pedisse.
- e eu agradeço por isso.
Me coloco para frente e jogo os bravos por cima de seus ombros, o puxando para mim e o abraçando novamente. Ele me aperta contra o peito e suspira pesadamente em meu pescoço. Com uma das mãos, acaricio suas costas e deixo com que ele fiquei quieto em meu abraço.
Não sei quanto tempo ficamos abraçados depois daquelas poucas palavras que trocamos, mas só meu dei conta de que o tempo passou rápido quando vi alguns alunos entrando. Os caras do time de basquete não são nada silenciosos e logo quando nos avistam começam a fazer piadinhas sobre o momento de Andrew.
- Grayson ! - o técnico do time, o ranzinza do senhor Martin grita assim que nos vê. - largue a garota e deixe para namorar depois, preciso de você no treino.
- é melhor você ir ruiva, depois eu encontro você. - o hálito quente em meu pescoço arrepia todos os pelos do meu corpo.
- tudo bem. - me solto dele e me levanto devagar. - até mais amor.
- até ruiva.
- Grayson !! - o grito é escutado e um seguida o barulho estridente do apito.
Andrew fecha os olhos por um momento e respira fundo, tão fundo ao ponto de me fazer perceber seu estresse.
- me manda uma mensagem quando terminar. - lhe dou um selinho e apanho a mochila.
Deixo Andrew para trás e me coloco para sair das arquibancadas, descendo a escada lateral e indo até as portas duplas, olhando uma última vez para trás e vendo meu namorado descer as arquibancadas com pressa e com os punhos fechados.
Andrew está em seu limite, e eu temo por quem o irritar hoje.
Caminhando pelo corredor, agora já cheio de estudantes por conta da troca de aulas, penso em como Andrew pode ficar extremamente frio quando se trata de seu irmão. Não só os olhos mas também o coração, Anthony com certeza fez da vida do irmão caçula um inferno para que o mesmo não queria nem olhar em seu rosto. Aperto a alça da mochila e entro na sala de literatura, a senhorita Rubin está sentada em sua cadeira com os olhos fixos em um caderno, lendo com calma o conteúdo ali escrito e nem sequer notando minha presença na sala até ouvir o barulho da porta ao se fechar.
- Oi Mia. - ela fecha o caderno cor de rosa e abre um sorriso breve para mim.
- Oi senhorita Rubin. - devolvo o sorriso e me sento na primeira mesa ao lado de Janela.
Deixo a mochila sobre as coxas e abro a devagar, pegando meu caderno e o estojo, os depositando em cima da mesa e apanhando o livro didático. Minha mente insiste em não esquecer o assunto Anthony Grayson e sua conturbada relação com Andrew, eh preciso saber o que aconteceu entre eles para que haja tanta raiva e rancor. Os alunos começam a entrar e a se sentar e eu permaneço encarando a porta, talvez agora que Brandon esteja treinando, Sammy faça o favor de aparecer na aula. Sorrio e suspiro aliviada quando o loiro passa pela porta e olha em minha direção, passando na frente de algumas meninas para se sentar ao meu lado. Ele joga a mochila azul escura sobre a mesa e se senta de lado, virando as penas para ficar frente a frente comigo.
- agora me conte, como cabular a aula de biologia para transar no armário do zelador ? - o sorriso pervertido em seus lábios murcha assim que ele vê minha expressão de confusão. - tá, você não transou, mas o que aconteceu ? Você nunca falta a uma aula, mesmo sendo a do nojento do senhor Smith.
- se lembra de Anthony Grayson ? - mordo o lábio.
- claro morango, eu cheguei a ver um dos jogos dele antes de irmos para o ensino médio. Mas o que tem ele ?
- parece que ele vai voltar a morar com os pais e Andrew não está nem um pouco feliz com isso. - coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- será que ele está com ciúmes ? Sei lá.
- não Sam, Andrew o odeia e o quer bem longe daqui.
- mas por que ele odiaria o próprio irmão ?
- não sei, ele não quis me contar. Só disse que a rincha entre eles começou a muito tempo.
Olho para o lado e vejo que a senhorita Rubin já começou a escrever algumas coisas no quadro negro, olho novamente para meu amigo.
- depois conversamos.
- pode ter certeza disso morango.
Abro meu caderno na matéria de literatura e começo a anotar o que está no quadro, tentando prestar atenção nas palavras e no quanto eu gostava de literatura.
Acho que as duas matérias que eu realmente gosto são literatura e história da arte e pintura, eu me encontro tão bem nessas atmosferas que sinto meu coração se aquecer.
Assim que terminar de anotar as coisas no quadro a senhorita Rubin ajeita a camisa de seda cor de pérola para dentro da saia lápis preta e se vira para a turma, jogando os cabelos castanhos e lisos para trás.
- bom, hoje vamos falar de nosso digníssimo William Shakespeare como uma introdução para começarmos a falar sobre literatura inglesa. - ela se apoia na beirada da mesa. - William foi um poeta, dramaturgo e ator inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon". Uma de suas frases mais célebres e uma das quais eu mais gosto é : É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada. Essa frase nos mostra que o sorriso, a simpatia e principalmente, a sinceridade pode nos trazer o que desejamos sem ter que nos submeter a coisas que nos beneficia, mas prejudica o próximo. Eu quero que vocês leiam uma obra de Shakespeare essa semana e me entreguem um resumi detalhado da obra junto com suas impressões sobre o que acabaram de ler, se acharam bom, ruim ou se não entenderam o que ele quis mostrar. Isso é para segunda feira, então vocês tem seis dias, contando com hoje, para realizar a tarefa.
Acho que já tenho problemas demais para me confundir com as belas palavras de Shakespeare !

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora