Capítulo 114

23K 1.7K 52
                                    

Largo o celular sobre o criado mudo e respiro fundo, talvez tentando acalmar as ideias em minha mente, jogo a coberta branca fina e felpuda por cima das pernas e deito a cabeça no travesseiro macio. Infelizmente o cheiro de Andrew não está mais disponível na fronha cor de pérola, retiro os óculos do rosto e sorrio meiga ao lembrar do meu primeiro encontro com Andrew
O meu primeiro encontro da vida, sendo sincera.
Deixo os óculos ao lado do celular e cerro os olhos ao sentir algo em cima dos meus pés, levanto a cabeça alguns centímetros e encaro Charlie se deitando devagar, os olhos em um azul tão intenso como o oceano focados em mim de forma estranha. Um arrepio sobe minha coluna e eu me forço a deitar a cabeça novamente no travesseiro, os braços jogados ao lado do corpo e a mente a mil.
Anthony Grayson fez um bom trabalho em me deixar incomodada com suas palavras.

- o que você quer ?
- o que eu quero ? - ele olha o céu, na tentativa de fazer seus neurônios funcionarem e volta a me olhar. - se me deixar entrar eu posso mostrar a você.

Mas que merda ! Andrew tem toda a razão em querer distância daquele ser asqueroso, Anthony só quer me usar para irritar o irmão e sei que vai obter sucesso em seu objetivo. Se eu contar o que aconteceu hoje, Andrew vai perder o pouco de paciência que lhe resta e partir para cima do irmão com todo o ódio guardado em seu peito sendo transferida para seus punhos, e se eu não contar, Andrew vai ter motivos para ficar bravo comigo caso Anthony faça algo estúpido ou conte ao irmão só para obter de qualquer maneira a briga que tanto deseja.
Mas a final, por que toda essa situação ? Por que os irmãos Grayson não conseguem respirar no mesmo ambiente sem quererem matar um ao outro ? O que aconteceu entre eles ? Será que a culpa é somente de Anthony ou Andrew também tem sua parcela ? Talvez Jen e Richard tenham ferrado uma provável boa convivência entre os filhos ao exercerem um favoritismo entre um dos garotos ?
Se Andrew me contasse pelo menos o que acontecia em sua infância, talvez, só talvez eu poderia ligar os pontos e descobrir o por que de tudo isso. E muito provavelmente eu estaria dormindo feito um anjo, ao invés de tentar montar seu confuso quebra cabeça.

" "

Abro os olhos com dificuldade, o sono ainda insiste em tentar fechar minhas pálpebras e eu tenho que ser mais forte para conseguir me levantar. Estico as pernas e braços e levo as mãos até a trança mal feita caída em meu ombro direito, com os dedos, a desmancho rapidamente e deixo o laço usado para pender as pontas em cima do travesseiro. Coço o olho esquerdo enquanto caminho para abrir a janela, destravando a tranca e empurrando as portas para trás. O sol está um pouco mais fraco do que deveria, o vento um pouco mais gelado do que a estação precisa e as nuvens em mais volume.
O dia vai ser frio.
Sentindo meus pelos ficarem eriçados decido fechar a janela novamente, elevo minhas mãos até a nuca e mordo meu lábio por um segundo ao sentir as pontas dos dedos geladas tocando minha pele. Abro a boca devagar absorvendo o tremor que o toque gelado causou em minha pele e ando devagar até o banheiro, abrindo a porta com um empurrão do pé esquerdo e acendo a luz. Retiro a camisola de meu corpo com pressa e a enfio no cesto debaixo da pia, abrindo o box e ligando o chuveiro. A água fervente de escorrega pelo meu corpo de forma rápida, a espuma criada pelo sabonete líquido não permanece em minha pele por mais de alguns segundos e eu respiro fundo enquanto meu coração bate acelerado.
Abandono o chuveiro e desligo, apanhando a toalha pendurada no gancho ao lado da porta.
Visto uma lingerie rosa, uma calça jeans preta com rasgos no joelho, uma camisa de botões azul clara e um casaco cinza. Calço meus Vans e dou uma olhada no espelho. Os cabelos vermelhos alaranjados molhados e embaraçados, os lábios sem cor, a pele um pouco mais pálida do que o normal, os olhos com pequenas olheiras.
Esse é o efeito de uma noite mal dormida.
Corro para o banheiro e começo a me maquiar, escondendo as olheiras com um corretivo, dando cor aos meus lábios, disfarçando os olhos um pouco inchados com uma boa camada de rímel e penteando os cabelos com pressa.
Acho que estou atrasada !!!
Deixo o quarto com a mochila nas costas e a cama bagunçada, vovô ainda dorme e eu tento não fazer barulho ao passar na frente da sua porta. Desço a escada rápido e sorrio ao ver Charlie brincando com uma bola de lã verde, o bichinho nem nota minha presença por estar tão entretido cor seu "novo brinquedo". Pego a chave do carro de cima da mesa de centro da sala e abro a porta, saindo logo e sendo recebida por um vento gelado em meu rosto.
Eu esqueci de secar os cabelos !!
Mas que merda !!
Me xingo mentalmente e aperto o botão para abrir o portão da garagem, definitivamente, tenho que deixar o carro do lado de fora mais vezes. Quando já tem espaço o suficiente para eu conseguir passar, me abaixo para não bater a cabeça e abro a porta, me enfiando dentro do veículo e colocando a chave na ignição. Saio devagar, olhando para trás e quando o carro já está totalmente do lado de fora aperto novamente o botão do pequeno controle pendurado no molho de chaves e o portão se abaixa. Espero que ele esteja totalmente fechado para dar a volta e me colocar a caminho da escola, deixando a mochila me incomodar todo o percurso e sentindo minha cabeça doer.
Definitivamente, o dia mal começou e já está sendo horrível.

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora