Capítulo 119

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Duas mulheres retiram os pratos da mesa enquanto mais duas entram com as sobremesas, olho para Andrew e ele sorri bem fraco, um lado dos lábios sendo levemente puxado para cima.
- espero que gostem da culinária francesa, escolhi uma das especialidades dos meus restaurantes. - volto minha atenção para Jen depois que ela termina de falar. - esses são mille feuilles, é um doce que contém muitas camadas de massa folhada, baunilha e a açúcar, é um dos mais pedidos.
Os pratos são depositados a nossa frente e eu pego um garfo pequeno para remover um pedaço, mordo o lábio rapidamente, sentindo a pele interna do lábio inferior deslizar entre meus dentes.
- poderia ir qualquer dia a minha empresa Conrad, estamos a procura de novos investidores e gostaria de mostrar tudo pessoalmente a você. Acho que seu perfil se encaixa em alguns projetos que minha equipe desenvolveu nos últimos meses.
O Richard de agora não se parece em nada com o Richard do meu primeiro jantar aqui, talvez ele queira impressionar meu avô ao ponto de conseguir uma visita a sua empresa.
- eu adoraria, mas creio que a minha cota de investimentos já está cheia. Já tenho mais do que o suficiente para dar a Mia o futuro que ela desejar. - meu avô fala olhando diretamente nos olhos de Richard, enfiando um pedaço do doce na boca após terminar.
- é uma pena Conrad, mas se mudar de idéia a Grayson Company estará de portas abertas.
- agradeço por isso.
Levo o garfo até a boca e ao depositar o pedaço de doce sobre a língua fecho o maxilar depressa ao sentir dedos gelados em minha coxa esquerda, ajeito os óculos e olho de relance para o lado. Andrew come sua sobremesa com a cabeça erguida, olhando fixamente a mãe e em seguida, o pai. Ambos conversando entre meu avô e Anthony, o que me faz perceber que quase não trocamos nenhuma palavra nesse jantar.
Levo a mão restante até a dele e coloco os dedos sobre os seus, na tentativa de aquecer sua mão e talvez, o tirar da zona de conforto em que o jantar em família o colocou.
- é verdade Mia ?
Balanço a cabeça rápido e me viro para escutar melhor a conversa na qual fui introduzida.
- o que é verdade ? - pergunto.
- seu avô nos contou que você pinta muito bem. - os olhos azuis de Jen brilham como duas estrelas em dia depois de chuva.
- meu avô é muito modesto, meu comprometimento com a arte é apenas como avaliação escolar. - curvo um dos lados da boca para cima.
- Andrew me disse que vai haver uma pequena exposição na escola de vocês na semana que vem.
- sim, vamos apenas concluir a segunda etapa do trabalho imposto pelo professor de arte e pintura. Vocês deveriam ir, vai ser legal ter a presença de vocês.
Menos do Anthony, desculpe Jen.
- ah claro, eu vou adorar.
- Andrew fez um quadro maravilhoso também, creio que ele não lhe mostrou, não é mesmo ?
- não mostrei por que foi você quem fez a maior parte ruiva, não eu. - a voz sai baixa e sensual.
- não Andrew, eu ajudei você, não se rebaixe por tão pouco, é só uma tela.
- não me adimira que ele tenha deixado todo o trabalho para você Mia, Andrew tem o espírito de cretino, não de artista. - a voz de Anthony se torna mais irritante a cada vez em que ele abre a boca.
Me viro devagar, focando em suas esferas azuis e respiro fundo, mas antes que eu possa dizer algo, uma mão pega em meu pulso e olho imediatamente para o dono daquela mão gelada.
- sua opinião de merda não me importa Anthony, agora cale sua maldita boca. - os olhos frios ainda, a voz um pouco mais rouca e sinceramente, esse tom de voz é aviso.
- olha o palavreado Andrew, temos visita. - Jen o repreende e ele olha para ela com uma expressão confusa.
- esse idiota me ofende a única coisa que você consegue fazer é me repreender por conta do palavreado ? Pelo amor de Deus mãe, sério ?
Olho para meu avô, os olhos focados no prato e como se percebesse meu olhar sobre ele ergue a cabeça e estica as mangas da camisa. Richard larga os talheres e passa as mãos nos cabelos perfeitamente arrumados, retirando alguns fios do lugar e em seguida, ajeita gravata para encarar o filho mais velho.
- Anthony, sugiro que controle sua língua antes que eu mesmo a arranque para fora da sua boca e Andrew, se comporte e não use palavras chulas dentro de casa, não quero deixar as visitas com má impressão sobre a educação que foi dada a vocês. - a voz alta e autoritária faz ambos os irmãos se olharem por um tempo, como se estivessem aceitando um trégua com começo e fim.
Começaria agora e terminaria quando eu e vovô cruzarmos a porta.
- não se preocupe Richard, entendo como são os atritos entre irmãos, até hoje eu não falo com um dos meus por conta de implicâncias do passado. - vovô tenta desmanchar a atmosfera pesada que ficou no ar após a bronca de Richard.
Observo minhas mãos sobre as coxas e tento sorrir para transmitir algo bom para Andrew, que encara o prato como se o mesmo estivesse armado.

" "

- me perdoem pela cena dos meninos no jantar, isso sempre acontece quando eles ficam no mesmo ambiente por muito tempo. - Jen tenta se explicar enquanto me abraça.
- não se preocupe Jen, está tudo bem.
Ela me solta e cumprimenta meu avô, lhe dando um abraço rápido e um sorriso no final. Já me despedi de Richard com um aperto de mãos e de Anthony com um aceno, longe o suficiente para evitar qualquer contato. Andrew está parado na porta, esperando para me acompanhar até a porta de casa, meu avô para ao meu lado e se aproxima.
- converse com o garoto, senti que ele precisa de algo que não seja broncas ou piadinhas de mal gosto. Pode ficar até às onze com ele na sala, tudo bem ?
- obrigada vovô. - lhe dou um beijo na bochecha direita.
- vamos, e não esqueça de chamar o esquentadinho ali.
Pego no braço de vovô para irmos juntos até a porta, deixando o clima tenso do jantar para trás e indo até Andrew.
- vem comigo.

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora