Capítulo 129

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Me sento em uma das banquetas da copa da cozinha, observando o celular  ao lado do pequeno pote com uvas.
Espero que ele esteja bem.
Coço a nuca e entrelaço os dedos ao redor do pescoço, inclinado o queixo para cima e respirando fundo, tão fundo, que sinto uma dor razoável se espalhar pelo meu tórax. Retiro uma das mãos do pescoço e apanho uma uva, a colocando na ponta de língua e mordendo um pedaço da fruta.
Azeda.
Como o meu humor desde que percebi o quanto a vontade de proteger algo que já está fadado a ruína pode ser prejudicial a sua vida.
Principalmente se, o que eu tento tentei proteger não vale tanto a pena quanto eu pensei.
Fecho os olhos devagar, evitando da visão ser embaçada pelas lágrimas que ameaçam sair a qualquer momento.
Por que tão fraca ?
Inspiro com raiva de ser tão sensível a certos tipos de sentimentos e emoções e enfio o resto da uva na boca, sendo distraída de meu devaneio escuro e sincero com o toque da campainha. Fecho os olhos com força e me jogo para frente, tocando a testa no mármore gelado e pensando se devo ou não abrir a porta.
Droga, já são quase oito horas.
Quem seria a essa hora da noite ?
Sem muita força de vontade, forço meus pés a soltarem o apoio da banqueta, tocando o chão gelado e ganhando um belo arrepio. Desço do banco segurando no mármore, apanhando mais uma uva e jogando a na boca, mordendo com vontade, tanta vontade que quase mordi a língua. Me aproximo da porta e giro a chave, tocando a maçaneta com a mão direita e puxando a porta para mim e dando um passo para o lado.
Os olhos baixos, os cabelos molhados o suficiente para causar o derramamento de gotas em sua testa e bochechas, a pele, aparentemente fria.
Achei que ele só estaria bem o suficiente amanhã para termos essa conversa.
- entra. - minha voz sai baixa, tão baixa que eu fico com medo dele não ter ouvido.
Andrew da alguns passos para frente e enfim, levanta os olhos para me encarar. Um misto de frieza e saudade brilhando em meio a perdição esverdeada. Tentada a levantar uma das mãos para secar uma gota solitária que escorre em seu nariz, cruzo os braços, nervosa por não conseguir assimilar direito o por que dele ter me ignorado a tarde toda.
- eu errei em esconder aquilo de você, eu admito. - molho os lábios, que subitamente, ficaram secos de uma hora para a outra. - mas eu não escondi por que me importo com os sentimentos de Daniel e nem por que o queria por perto, eu escondi por que não precisava dar a você mais um motivo para ver seu ex amigo como um inimigo no qual precisa ser eliminado.
Uma lágrima agitada escapa de meu olho esquerdo, a culpa se agitando em meu peito como um zunido de uma abelha rainha.
- eu só queria não te trazer mais problemas, mais preocupações logo agora que estávamos tão bem.
Prendo a lateral do lábio inferior entre os dentes e aperto as mãos em meus cotovelos, sentindo o desespero e a dor rasgarem aquilo que eu precisava ter nesse momento : calma.
Meu estômago se agita e ele continua lá, com as mãos enfiadas no bolso frontal do moletom e os olhos focados em mim.
- se tivesse me contado eu não teria só tentado ignorar esse fato, como estaria prevenido sobre o conteúdo daquele caderno Mia.
A voz dele é suave, tão suave que eu poderia jurar que ele está sentindo minha agonia.
- eu não sabia dos desenhos, não mesmo, fiquei tão chocada quanto você quando os vi.
- não foram os malditos desenhos que me deixaram descontrolado ruiva, foram as palavras daquele bastardo. Daniel afirmou com todas as forças que se não tivesse mesmo nenhuma chance com você, ele teria sido jogado para o lado e esquecido quando te contou sobre o que sentia. Mas foi o contrário, que você só havia tentado mudar de assunto e continuado a conversar aquele babaca asqueroso fingindo que nada aconteceu. - ele diz alto, alto o suficiente para me fazer encolher diante de suas palavras.
Ele está certo !
Eu deveria ter cortado todo o vínculo, o pouco vínculo, que tinha com Daniel depois do que me foi dito. Eu deveria ter contado a Andrew e ter mandado a ideia de guardar isso para mim para ares. Mas não, eu escondi.
Escondi na tentativa de não piorar mais as coisas, na tentativa de não fazer Andrew ficar louco de ciúmes.
Mas acabou dando tudo errado.
- me desculpa, por favor, me desculpa.
Desvio o olhar para o chão, sentindo meus pés ficarem cada vez mais gelados e dormentes por conta do atrito com o piso.
- eu não queria magoar você, muito menos fazê-lo desconfiar de mim. Mas eu nunca ficaria com Daniel James Carter, nunca, nem se fosse o último homem do mundo. E foi por essa razão que eu não o afastei, por que não importa os sentimentos dele por mim, importa os meus sentimentos por você. - digo alto, já irritada com a dor em meu peito, cada vez maior. - eu te amo a tanto tempo que nunca cheguei perto de nenhum gatoto, nunca me aproximei de ninguém por sempre querer você.
- então por que escondeu isso de mim porra ? - ele grita, as gotas caindo de seus cabelos caídos na testa, agitadas pelo movimento que ele fez com a cabeça. - aquele idiota não perdeu a chance de esfregar isso na minha cara !
Dou alguns passos para trás, me afastando ao ver seus punhos fechados, as articulações em um branco intenso, os lábios vermelhos.
- por que eu queria esquecer aquilo, queria esquecer o que ele disse sem magoar ninguém. Sem magoar você, sem magoar ele e principalmente, sem me magoar, droga ! - gritei com raiva, deixando a dor em meu peito ainda maior. - eu só queria esquecer que alguém que já tentou me ferir tem sentimentos por mim, será que é difícil compreender isso ? Eu o perdoei, mas não significa que vou querer ele próximo de mim. Era apenas um trabalho, um maldito trabalho que já terminamos. Que motivo eu tenho para ficar perto dele agora? Me diz ! Acha mesmo que eu te trocaria por ele ? Que tipo de amor você acha que eu sinto por você Andrew ?

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora