Geek em campo

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Não consigo dormir.

Depois de imaginar Park ali, bem à minha frente, o meu corpo pareceu ferver de alto a baixo, como se essa fosse a energia que me faltava para ter uma performance absurda, nem das dores eu consegui me lembrar, só conseguia me concentrar em melhorar meus movimentos, ter mais leveza em cada um deles, enquanto minha mente girava em pura satisfação.

Mas isso me custou o sono, de fato. Porque se até num momento de absoluta paz eu passei a pensar nele, o que eu vou fazer pra tirar esse bandido da minha cabeça?

Foi assim que acabei virando a noite, tentando estudar, ler, até ensaiar mais, mas não conseguia parar de refletir sobre isso, e o impacto daquele projeto humanizado de lúcifer.

Na verdade, o que eu realmente sei sobre ele?

Começando pelo básico, o que eu tenho certeza, até o que eu ouvi por aí.

Ele tem duas tatuagens, eu vi com meus próprios olhos. Ele só veste roupas pretas, e a única vez em que vestiu algo diferente, foi usando minhas roupas no dia da chuva. Aliás, todos os pertences dele são dessa cor.

O cheiro dele é muito bom. Sempre de algo doce, aconchegante. Cabelos provavelmente macios, e ele tem aquela mania de jogar para trás o tempo todo.

Ele aparentemente quer passar de ano, e presta atenção nas aulas. Mas foi expulso do colégio anterior, por mandar um cara pro hospital, junto com Hoseok e Yoongi.

Ele pega pacotes com estranhos na redondeza da minha casa à noite, anda de moto pra cima e pra baixo, faz kendô, não é visto com ninguém apesar de um monte de gente querer ele. Tem dezenove anos, então provavelmente tomou uma bela de uma bomba em algum ano letivo, já que eu mesmo faço dezenove em alguns dias, enquanto ele só no mês seguinte aniversaria de novo, completando vinte anos. É educado, prestativo, e não reclama de nada, o que pra mim é algo de outro mundo.

Inexplicavelmente, o destino me fez esbarrar nesse homem, e desde então ele não sai da minha cola.

Um fato sobre mim no meio disso tudo, é que eu aparentemente não repudio nada disso.

Eu poderia encher minha cabeça sobre questionamentos a respeito de minha sexualidade, mas isso simplesmente nunca me acometeu de forma que me causasse confusão. Acho que eu sempre estive focado em outras coisas que julgava mais importantes, então não me incomodava saber ou não saber isso sobre mim, da mesma forma que nunca opinei a respeito na vida de ninguém.

O contato mais próximo que tive com isso, foi provavelmente com a maluca da minha tia, quando fez um barraco com as alunas dela, por implicarem comigo e com a minha vontade de fazer poledance mesmo sendo um homem. E mesmo depois disso, era simplesmente como se eu não ligasse.

Mas agora...

— Passa pro Park! — Hoseok grita de um lado da quadra, e Jin obedece do outro, e assim que a bola alcança o moreno, Park marca um ponto. Suado, correndo de um lado para o outro, atento ao que o outro time faz, do outro lado da rede.

Meu lado Jeon dançarino me manda repetidas vezes atravessar aquela grade e literalmente pular em cima do ordinário. É por isso que eu estou tendo a maior crise existencial da minha vida.

— Ugh, ele é bom — quem comenta, ao meu lado, é Taehyung enquanto estamos vendo o jogo, ao invés de participar. Ele até joga e manda bem, mas prefere aulas artísticas. E algo me diz que quer manter distância de um certo alguém também.

Sim, Taehyung, ele é bom, e eu quero sumir do planeta Terra.

Levanto o livro na frente do rosto, assim que Park olha para os bancos, observando as pessoas entre eles, para me disfarçar. Hoseok é o próximo a marcar um ponto, e Taehyung bufa ao meu lado. O que está havendo entre esses dois? Na realidade, o que estava havendo e agora não está mais, e o que aconteceu para parar de acontecer... Ah, você entendeu. Queria muito perguntar, mas era como se não tivesse o direito.

De pernas pro ar | REPOSTANDO CORRIGIDAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora