Capítulo 141

23.7K 1.6K 73
                                    

- vamos Mia, você vai se atrasar ! - rolo os olhos sentindo divertimento nas palavras de vovô.
- vô, hoje eu não tenho que buscar o Sam, então não, eu não vou me atrasar. - apanho uma maçã em meio a cesta de frutas na bancada de madeira.
- ah, eu desisto ! Mia, hoje quando você chegar da escola eu não estarei em casa.
Minha testa se enruga e eu mordo a maçã antes de encará-lo, ajeitando a mochila sobre o ombro direito.
- por que ?
- vou precisar sair mais cedo para a aula de pintura, preciso fazer os últimos detalhes para trazer minha tela ainda hoje para casa.
- ah sim, tudo bem.
Ele ajeita o suéter azul marinho na parte da gola, em formato de v, e em seguida retira seu óculos para coçar os olhos.
- não vejo a hora de ver seu quadro, o senhor está trabalhando nele a quase um mês e nem mesmo me contou sobre o que pintou.
- é uma surpresa Mia, você logo, logo vai saber.
- tudo bem, espero que consiga trazer o quadro hoje. Eu já vou indo, te amo.
- também te amo Mia, agora vá logo.
- já estou indo.
Mordo mais um pedaço da maçã enquanto deixo a cozinha e avanço até a mesa de centro, pegando a chave do carro.

" "

- acho que Anthony está tentando mudar Sammy.
Fecho a porta do armário, encontrando uma expressão esquisita no belo rosto do meu amigo. As sobrancelhas claras quase se unindo por conta do franzir de sua testa, a boca entreaberta, segurando o palito do pirulito de morango entre os dentes brancos.
- ninguém muda de uma hora para a outra morango.
- o Daniel mudou. - ele retira o pirulito da boca e cruza os braços, me olhando como se eu estivesse louca. - tá, aconteceu muita coisa para que ele mudasse. Mas por que Anthony não pode querer mudar ?
- morango, enfie nessa linda cabecinha ruiva que, Anthony Grayson viveu tempo demais para si mesmo, ou seja, tome cuidado com a confiança que está depositando nele.
Suspiro entristecida, terminado de fechar o zíper da mochila e a jogando nas costas. Sam estica um dos braços e coloca o pirulito na boca novamente, me puxando para um abraço.
- eu sei que você, na maioria das vezes, não consegue ver a maldade nas pessoas morango. Mas tente entender, sua ingenuidade ainda pode te causar problemas. - ele acaricia o ponto abaixo da minha nuca, tocando os dedos gelados na pele que o cardigã preto não escondeu.
O perfume dele é suave, eu diria que o cheiro de Sammy é um dos melhores que já senti. Seu aperto é bem vindo e o pensamento de que Anthony possa estar me manipulando volta a rondar minha mente.
- eu sei Sam, mas ... e se não for mentira ? Se ele quiser mesmo se reconectar com o irmão ? Esquecer da porcaria da disputa pela empresa e pelo dinheiro ?
Os alunos passam por nós, sem nem ao menos notar nossa existência. E eu agradeço por isso, acho que a última coisa que eu precisava era ter pessoas fingindo que se importam com o que acontece na minha vida.
- só quem o conhece bem o suficiente pode te dar certeza sobre alguma coisa Mia, você deveria conversar com o Andrew, ver como anda o comportamento do irmão com ele. - seu peito sobe e desce, a respiração tão calma quanto as ondas de um mar sem ressaca.
- certo, obrigada Sammy. - aperto meus braços ao redor de sua cintura.
- não precisa agradecer morango, eu faço tudo por você. Agora vamos para a sala, temos aula de matemática.
- suportar a senhorita Tunner logo no primeiro período.
- é meu amor, mas pensa pelo lado positivo, é o último ano.
O solto e sorrio fraco, sentindo a cabeça doer ao pensar em como o barulho dos saltos da senhorita Tunner me atrapalham nos cálculos. Sammy entrelaça seus dedos nos meus e assim andamos até às escadas para o segundo andar.
As líderes de torcida dessem as escadas correndo, Raven e Samantha vão na frente e as outras as seguem como bons cachorrinhos adestrados.
A humilhação é o preço a se pagar para permanecer no mesmo ciclo social de Raven Sinclair.
Sammy balança a cabeça negativamente, olhando com desprezo a garota que é capaz de quase tudo para destruir a vida daqueles que não concordam com seu estilo de " reinado ".
- acha que ela pode ganhar a coroa ?
- se ganhar, é porquê já poluiu metade da escola com seu joguinho barato.
Entramos na terceira porta da esquerda e passamos direto pela mesa da senhorita Tunner, nos sentando perto das janelas, um ao lado do outro.
- Deus queria que Andrew não seja coroado, odiaria ver Raven com as mãos nele novamente.
- então torça para que Daniel ganhe, ou então vai ter que engolir uma dança entre rei e rainha, tendo Raven e seu namorado como protagonistas.
Coloco a mochila sobre a mesa e retiro o caderno e o livro de matemática financeira da mochila junto com o estojo, Sammy faz o mesmo e rapidamente faz um carinho  no meu joelho esquerdo, recendo um olhar feio da mulher em frente ao quadro negro.
- retirem tudo o que está sobre as mesas e deixem apenas uma caneta, lápis e borracha. - a sala aponta sua atenção para ela, os olhares confusos sobre a bela professora. - vou aplicar uma tarefa para avaliar o aprendizado de vocês e, ela não vai ser a consulta nos materiais ou em dupla. 
O burburinho de reclamações começa, e mesmo em baixo volume a expressão de raiva da senhorita Tunner fez com que as vozes parassem.
- sem reclamações ou sugestões, vamos ver se vocês andam prestando atenção nas aulas.
A jovem professora se inclina para frente, apanhando algumas folhas em cima da mesa e erguendo a sobrancelha esquerda ao começar a entregar os testes para quem está na primeira carteira das cinco fileiras de seis mesas cada. Quando ela chega perto de entregar a folha ao Sammy, sua mão recua com a folha na ponta dos dedos.
- sente se em algum lugar longe da senhorita Collins, senhor Gonzalez.
- acha mesmo que eu preciso colar Tunner ? - Sam cruza os braços e a encara friamente.
Molho os lábios com a língua ao sentir a atmosfera da sala se tornar densa, os olhos cínicos da senhorita Tunner fincados em Sammy, que está a encarando como se fosse tocar fogo em seu lindo rostinho.
- se quer me provar o contrário faça o que eu pedi, se sente no fundo da sala longe da sua amiga.
- eu vou me sentar em outro lugar. - no momento em que abri a boca para defender Sam, os olhos impiedosos de Tunner focaram em mim.
- não pedi para você Collins, mudar se de lugar e sim para o Samuel.
- eu faço questão, vou me sentar a três carteiras dele.
Me levanto antes que ela diga alguma coisa e apanho a mochila e os poucos materiais que ainda não tinha guardado, esticando a mão em seguida para que ela me entregue a folha de teste. Seu suspiro rápido só mostra o quanto minha atitude a deixou possessa, desafiar suas decisões na frente da sala toda é quase como uma declaração de guerra.
E Tunner consegue ser ardilosa como uma cobra quando quer.
Com alguns segundos fitando seus olhos gélidos ela cede, me entregando a folha e deixando outra sobre a mesa de Sam, que apenas olha para mim e balança a cabeça em positivo.
Sorrio sem mostrar os dentes para ele e me viro, andando até três mesas atrás dele e me sentando ao lado de Cooper e Jason.
- não tem medo dela abaixar suas notas ? - o sussurro de Cooper é desajeitado, saindo um pouco mais alto do que ele pretendia.
- ela não vai, eu tenho um bom histórico e acho que ela não arruinaria a carreira perfeita por causa de uma aluna. - pego o lápis, olhando para ele antes de dizer a última palavra.
- parecia que ela iria arrancar seus olhos. - o comentário de Jason me faz rir baixo.
- queria ver ela fazer. - escrevo meu nome no cabeçalho da folha.
- você é maluca ruiva.
- é, acho que já ouvi isso antes.
Um barulho fez todos, não só a mim olhar em direção a porta. A senhorita Tunner estava prestes a colocar seus óculos quando Andrew e Kevin entraram na sala sem pedir licença.
- fora da minha sala. - a voz dela é razoável, nem alta, nem baixa.
- mas por que ? - Andrew bagunçou os cabelos, ajustando a jaqueta do time em seguida.
- estão atrasados.
- isso nunca nos impediu antes senhorita Tunner. - Kevin a olhou de cima, o sorriso convencido no rosto.
- estou aplicando um teste e mesmo que eu deixe vocês entrarem, não vou lhes entregar a tarefa. - ela deixa os óculos sobre o caderno de capa cor de creme e entrelaça os dedos, deixando o queixo apoiado nas mãos juntas.
- eu só preciso entrar e me sentar, se quiser me deixar de fora desse teste idiota pode deixar, eu não ligo. Só me deixe sentar ao lado da ruiva e eu prometo não te causar problemas.
Meus olhos se abrem mais do que o comum com a declaração de Andrew, o lápis que estava em minha mão direita deixou meus dedos, tocando o papel sobre a mesa e atraindo o olhar dele. Os olhos verdes amendoados sem vida, eu diria que até sem o brilho que costuma ter.
- entrem logo antes que eu enfie a bunda de vocês na detenção durante uma semana.
O sorriso de Kevin só aumenta no momento em que ambos começam a andar entre as carteiras, passando pelos outros alunos com as mãos enfiadas dentro dos bolsos do tecido vermelho. Kevin se senta atrás de Jason, bagunçando o cabelo do rapaz e arrancando um palavrão de sua boca. Andrew se senta na carteira ao meu lado, logo atrás de uma das garotas góticas. Evito seu olhar e volto a pegar o lápis, começando a ler os exercícios, deixando o cabelo cair do lado esquerdo, tapando a visão de Andrew.
- hey ruiva, tá tudo bem ?
Coço os olhos rapidamente e jogo os cabelos para o lado, virando o rosto devagar.
- está sim. - meu olhar vacilar entre seus olhos e a folha de exercícios na minha carteira.
- o que faz aqui no fundo ?
- estou ajudando Sammy a provar que ele sabe pensar sozinho, ela insinuou que iríamos colar e eu me sentei aqui para evitar uma possível discussão.
- Tunner e suas loucuras. - ele resmunga, rolando os olhos de uma maneira visível dolorosa.
- tenho que terminar isso logo, nos falamos depois. Tudo bem ?
- claro, pode terminar aí.
Ele sorri, um sorriso no qual eu nunca imaginei que seria meu, o que faz emu coração se aquecer.
Andrew Grayson continua arrogante e lindo, mas com toda a certeza, não é mesmo de antes.
E essa mudança veio na hora certa.
Escrevendo os cálculos, noto como o silêncio pode ser sufocante. Deixo meus olhos vagarem brevemente pela sala de aula, percebendo que a maioria dos alunos estão quase dormindo em cima dos testes. As garotas da torcida, logo a frente dos garotos do time de basquete, tentam conversar por bilhetes, provavelmente, uma folha que alguma delas escondeu entre as pernas antes de receber a folha da tarefa. Me viro para frente e aviso Sammy, a ponta do lápis de mexendo furiosamente. Volto a olhar para o papel na minha mesa, os números feitos a lápis por baixo de cada equação com o resultado a caneta.
Não sei quantos minutos já se passaram, meus olhos estão quase se fechando diante do infinito silêncio peculiar. Minha cabeça está latejando diante de tanta quietação, algo que só existe em poucas aulas. Alguém cutuca meu braço e eu me viro em direção ao sujeito, abrindo os olhos devagar e encontrando Andrew com a cabeça deitada sobre a mão, o cotovelo apoiado sobre a carteira.
- eu preciso falar com você. - digo baixo.
- sobre o que ?
- é sobre o Anthony.

GraysonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora