Capítulo 03

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  • Dedicado a Sheyla Mesquita
                                    

Música do capítulo: You and I - One Direction

* * *

Meses depois

Andre



Estava perdido em pensamentos. O cursor piscava na tela do computador. O prazo era para aquele dia, mas nada o fazia se concentrar. Há quase um mês que Mia apareceu no seu apartamento, com uma expressão apavorada que o assustou como um inferno, pedindo para ficar com ele por alguns dias até encontrar um novo lugar para morar.

Ele ficou tão empolgado por ter sua amiga morando com ele. Sentia falta dela. Há anos ela desapareceu sem ao menos dizer o motivo e ele nunca entendeu. Sabe que aconteceu alguma coisa. Eles sempre foram muito ligados e não seria algo bobo que os afastaria.

Mas ela aparecendo no apartamento, sem ao menos avisar, foi, no mínimo, surpreendente. E a curiosidade estava corroendo seus pensamentos. Até agora ele não sabe o que aconteceu com ela.

Mia está fechada como uma concha.

Não tinha se incomodado tanto. Talvez fosse pelo olhar dela, quando entrou na cozinha pela manhã, para tomar seu café: era perdido, sem vida, como se estivesse em qualquer outro lugar, menos ali. Ele queria perguntar para ela o que havia acontecido, mas além de estar atrasado, estava com medo do que poderia ouvir.

Um tremendo de um covarde, isso sim.

Tentaria chegar mais cedo do escritório e a esperar em casa. Por sorte, a última aula do curso. Há alguns meses, decidiu mudar sua vida que até então, se baseava em trabalho, festas regadas a muita bebida alcoolica e mulheres. Principalmente mulheres. Precisou ele ter uma parada cardíaca para tudo mudar. Mas dizer que o 'quase morte' faz mudanças na vida das pessoas, não é mesmo? Foi num domingo, vendo Lucas e Clara apaixonados pela filha, Cecília, para que ele tomasse uma decisão: adoção.

Claro que ele poderia tomar outro rumo, encontrar uma doida, se casar com ela e ter seus filhos de sangue, mas nada o impede de que isso aconteça. A questão não era apenas ter uma família: era fazer diferença na vida de uma pessoa que viveu ou vive a mesma coisa que ele passou.

E Deus sabe o quanto foi ruim crescer sem uma família.

Não fez muito alarde sobre isso, nem sequer para o seu amigo Lucas. Era uma coisa sua, apenas sua. Procurou a vara da infância e juventude num dos dias que precisou ir ao fórum para uma audiência, protocolou a petição com pedido de habilitação para inscrição para adoção e aguardou a intimação para que pudesse iniciar o curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção, que havia acabado no dia anterior.

Algumas vezes ele olhava para aqueles homens e mulheres na sala com ele, com histórias diversas sobre o motivo para adoção ou não e se perguntava se houveram pessoas assim enquanto ele estava no abrigo. Ou será que ele não se encaixava no perfil por vir de uma família de viciados? Pelo que se lembra, a responsável pelo abrigo um dia lhe contou sobre isso, mas Andre nunca quis se aprofundar.

Apesar de todo o sofrimento de ser uma criança órfã, ele teve a dona Marta como seu anjo da guarda e hoje, conseguiu conquistar coisas que muitas pessoas não conseguiam. Independentemente de serem órfãos ou não.

Ele esfregou o rosto e pensou em Mia. Há alguns dias ela começou a trabalhar numa escola perto de casa. Por causa disso, só a encontrava algumas vezes quando acorda ou vai dormir. Talvez com a desculpa de uma comemoração, sair para jantar, ou ir a algum barzinho. Um ambiente neutro para ela se sentir à vontade. Assim, teria uma desculpa para que ele pudesse entender o que estava acontecendo com ela.

O tipo certo de amor (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora