seis.

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(Alaska – Maggie Rogers)

Há algo de podre no reino de Seven Heavens.

Se Hamlet ganhasse uma versão moderna, apenas como uma peça de vingança, teríamos seu novo cenário no meio do Colorado. E ainda assim exerceria fascínio em todos os seus leitores não por se tratar de uma vingança contra algum tipo de crime, mas de algo ainda pior. Algo que transgrede a própria natureza humana.

Há tantas perversões em Seven Heavens quanto na Dinamarca de Shakespeare. E eu sinto que cada pessoa na cidade notou isso desde que os Rowan voltaram, arrancando a sujeira varrida para debaixo do nosso tapete. É estúpido, mas secretamente eu me pergunto o quanto o meu pai escondeu de mim. Eu sei a sua versão da história. Acredito nela. Mas não consigo parar de pensar no que Carson disse sobre ele monopolizar a internet e controlar todos nós.

O céu número um, o céu que me lembra os olhos de Carson e James Rowan, me encara de volta na manhã de segunda-feira. Já não há neve no cume do pico Pikes, o que significa que a primavera finalmente irá se firmar depois de dias de clima tão impreciso.

Eu estou deitada em uma espreguiçadeira no nosso deck, acompanhando o sol nascer devagar. Há uma luta de cores azuis e amarelas, deixando o ambiente esverdeado. Os pássaros estão despertando aos poucos. Logo, toda a cidade estará acordada. E eu terei que encarar o fato de que agora sou uma líder.

Deito de lado, apoiando o rosto em minhas mãos abertas uma sobre a outra. Acompanho papai se mover no nosso segundo andar e pelo modo como ele se curva para fugir das armadilhas do nosso charmoso telhado em formato de chalé, sei que está de mal humor.

Nossa casa é toda prensada, o que justifica meu pai ter que andar abaixado em alguns cômodos. O mais importante é o cybercafé do primeiro andar. Não importa que os Wilder tenham que viver em uma casa de 120 anos com telhados vitorianos triangulares e sufocantes se nossos clientes tiverem um espaço aconchegante lá embaixo.

É por isso que gosto tanto do deck e dos dias quentes. Não me sinto tão sufocada com um teto baixo sobre a minha cabeça. No entanto, pelo modo como fecho os olhos e engulo em seco, sei que a atmosfera mudou completamente desde sábado. Nem mesmo o ar livre pode me ajudar a respirar melhor. Estou em pânico com a possibilidade de encarar todo o colégio.

― Ela está no deck, Maggie! ― Meu pai escancara a porta quando abro os olhos e grita por cima do ombro para mamãe. Seu rosto se vira para mim novamente e não há nenhum sinal de sorriso de bom dia por ali. ― Estava te procurando, Liv. Achei que tivesse fugido do castigo.

Tenho que fazer um esforço secreto para empurrar o meu tronco para cima e me sentar. Meu pai caminha na minha direção, suas botas esmagando a grama que ele mesmo plantou na semana anterior.

Ele já está com a sua tradicional roupa de xerife de Seven Heavens: uma camisa em tom bege terroso e uma calça jeans escura. O papai sempre usa uma variação de jeans preto desbotado com buracos que o trabalho de ultrapassar cercas e andar a cavalo lhe proporcionam. Na maioria do tempo, entretanto, ele está na delegacia sentado atrás de sua mesa ou andando com a viatura. Mas ele parece sentir um orgulho genuíno de ser um cowboy moderno.

― Bem, aqui estou eu. ― Apoio as mãos em minhas pernas. Elas deslizam de um lado para o outro. ― Eu já pedi desculpas sobre sábado.

A forma como o meu pai para diante de mim, com as mãos apoiadas nos ossos do quadril, um pouco acima de seu cinto carregado de uma pistola e um canivete, deixa claro a posição de dominação que Jonathan Wilder tem sobre a sua família. Ele é o macho alfa. Estamos todos sob suas regras. E por mais que eu ache aquilo ridículo e retrógrado, não consigo me livrar. Estou seguindo os mesmos passos da minha mãe: obedecer ao xerife Wilder a qualquer custo.

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