Capítulo Vinte

14.4K 856 13
                                    

 Finalmente o dia da viagem chegou, iria pegar o avião com o Jonathan pela manhã e estava uma pilha.

 – Mulher, já falei o quanto é estressada? – Maitê diz, enquanto coloca uma de minhas várias lingeries, que comprei no shopping vocês sabem o porque, em uma de muitas malas que estavam sobre a cama. – Vim aqui te ajudar e te acalmar, mas está sendo impossível! Esse seu estresse está começando a contagiar!

– Queria ver você no meu lugar... – Resmungo, sentindo o frio na barriga se intensificar a cada peça de roupa que arrumo dentro da mala.

– Vocês vão trabalhar muito, transar muito e conhecer a Itália, as raízes da sua descendência, deveria estar animada!

 A palavra Itália e descendência na mesma frase me faz ter um arrepio, descendo diretamente pela minha coluna.

– Não coloque a Itália e descendência em uma mesma frase, por favor, sou capaz de me atirar pela janela. – Suspiro, sentando na cama e tentando lembrar do rosto do homem que me abandonou e deveria estar fazendo seu papel de pai nesse momento, ou pelo menos durante o meu crescimento até hoje.

– Mel... – Maitê senta na cama ao meu lado. – É por isso que está assim? Pensei que fosse preocupação do Jonathan destruir suas novas lingeries.

Não tinha como não deixar de rir.

– É um pouco dos dois. – Digo, rindo e já sentindo meu rosto pegar fogo em imaginar Jonathan olhando-me com uma das minhas novas lingeries e depois rasgando-as com os dentes, como ele havia prometido que faria em uma de suas mensagens agora a pouco. Era incrível que com só um pensamento sobre ele, esse homem me fazia esquecer dos problemas e traumas.

– Eu sempre terei que te lembrar da sua nova vida? Será que nunca vai se desprender do passado?

– Não é fácil! – Sinto um embrulho no estomago e levanto, encarando a Maitê. – Eu queria ser como você! Não se abalar com nada! Mesmo com o que já aconteceu contigo! Eu queria minha avó comigo, ou pelo menos que ela pudesse ter tido uma morte menos dolorosa! – Sinto meus olhos arderem e os fecho para impedir as lágrimas. Abraço a mim mesma. – Queria ter tido um pai, queria que minha mãe e meu irmão não tivessem sido assassinados! Queria que o assassino tivesse morrido antes de cruzar o caminho da minha família! – E antes de perceber ou impedir, já estava chorando, quase berrando toda a dor que sentia, e rasgava meu peito, para a Maitê e tremendo. 

– Ei, ei... – Sinto os braços da Maitê ao meu redor e me puxar, me obrigando a entrar em seu abraço acolhedor. – Calma... – Me agarro na Maitê como se ela fosse minha tabua de salvação.  Eu soluçava ao mesmo tempo que as lágrimas lavavam meu rosto, como se pudessem lavar também minha alma e tirar toda a dor que sentia. Mas nunca seria tão fácil assim. Ainda não entendia o motivo de um ser humano chorar. Poderia até ter um alivio no final desse processo, em alguns dos casos, mas nunca levava embora a dor e toda a sua revolta.

– Escuta... – Maitê segura no meu rosto, obrigando-me a encarar seus olhos azuis, quando vê que já não tremia e nem chorava tanto. – A vida nos impõe obstáculos, para uns fáceis, para outros bem difíceis – Passa seus polegares debaixo dos meus olhos, secando minhas lágrimas. – A vida é isso, Mel! Basta você querer se tornar mais forte e ser feliz no final ou se deixar levar e se destruir! E claro que não deixarei minha única melhor amiga, e a irmã que eu nunca tive, se destruir. Apenas se fortaleça, esse é meu segredo.

E com essas palavras, Maitê me acalma de uma certa forma que eu não sabia ser possível. Na verdade, sei o que seria a fórmula eficaz para me fazer relaxar e esquecer de vez todo o passado: Jonathan Altherr e seus lindos e intensos olhos azuis esverdeados. Jonathan e sua boca que me fazia ter vários orgasmos de uma vez só. Jonathan e suas palavras... incluindo a forma com que me chamava agora, de amor.

Uma Gota De VinhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora