Capítulo 3

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O maldito instante em que minha cabeça quase explode durante a manhã é quando o despertador chamado Susan invade meu quarto.
E ela nunca se atrasa.
- bom dia Andy. - ela abre as cortinas e a luz fraca do sol chega até meu rosto.
Sinto minhas sobrancelhas ficarem franzidas ao tentar abrir os olhos devagar, absorvendo a quantidade de raios solares que estão sendo despejados em meus olhos sem o mínimo preparo.
- eu já disse que odeio isso. - aponto para a porta escancarada.
- sim, você diz isso todos os dias Andy. Agora se levanta por favor, o café não se come sozinho.
Quando consigo abrir os olhos noto o quanto Susan pode ser pior do que a minha mãe no quesito escola. Todos os dias desde que eu comecei a estudar é dela a função de me acordar e garantir que eu não seja reprovado. Acho que perdi as contas de quantas vezes quase perdi a hora nos dias que sucederam as folgas de Susan. A preguiça me invade de forma monstruosa, os músculos do meu corpo quase tão pesados quanto os pesos que levanto na academia.
Eu definitivamente não quero ir para a merda da escola hoje.
Não quero ver a cara de Raven, muito menos pensar na ideia de que Anthony possa levar Mia para a escola. Por mais que eu ache muito cedo para caronas.
- Andy, se não se levantar dessa cama em cinco minutos eu juro que furo os pneus do seu carro.
Me viro imediatamente para ela, os braços cruzados da senhora de azul não escondem a seriedade.
- você não faria isso. - levanto meu tronco, expondo o peito nu e me apoiando nos cotovelos.
- está duvidando de mim Andy ?
O olhar ameaçador dela não esconde sua ironia, e para ser sincero, sei que ela teria coragem de tal coisa.
- por que você não pode encher o saco do Anthony ? - digo frustrado, jogando o edredom para o lado e me levantando.
- seu irmão não merece nem meu bom dia, só o faço por educação e você sabe muito bem disso. - assim, ela anda até a porta. - você tem vinte minutos para se arrumar.
- já pode ir Susan, obrigado.
Ela suspira pesado ao deixar me deixar sozinho, a dor latejante em minha cabeça só comprova o quanto a noite de ontem foi horrível.
Acho que vou trocar meu café da manhã pela academia.
A vontade de socar alguém é grande e lembrar que Anthony ainda dorme no quarto ao lado do meu só aumenta esse meu desejo. Ajeito os cabelos enquanto ando até o banheiro, encarando o espelho com desprezo. Os olhos verdes cansados, o tom de vermelho presente em algumas partes. A imagem refletida não me agrada em parte alguma, parece que tudo o que me importa agora é saber como Mia está.
Porra !
Me enfiando debaixo do chuveiro morno, deixo com que a água leve a maior parte do que me deixa melancólico. A sensação de que a qualquer momento meu celular irá tocar e a foto dela aparecer na tela não quer ir embora, por mais que eu saiba que ela não vai ligar e nem me mandar mensagens.
Ela deve ter apagado meu número...
Como se estivesse sendo acelerado o tempo se encurta, me obrigando a me enfiar em uma calça jeans preta e em uma camisa de mangas compridas azul marinho. Se o sol está forte lá fora ? Está, mas eu não estou afim de fingir estar bem, até porque eu não estou e quero deixar isso bem claro para que Sam me ajude a chegar na ruiva.
- não vai tomar café Andy ? - a voz de minha mãe me faz largar a mochila sobre os ombros e virar o rosto para a encarar.
- estou sem fome mãe. - ajeito a alça esquerda.
- normalmente qua do você diz isso é porque está irritado ou chateado com alguma coisa. Você quer me contar ? Quem sabe posso ajudar.
O olhar esperançoso dela sobre mim só me faz querer sair o mais rápido de casa. Ela sabe que estou assim por conta da ruiva e querendo ou não, isso está bem aparente.
- tem razão, eu estou chateado, mas não há nada que você possa fazer. - ando até a porta de saída da sala, me virando para olhar uma última vez para ela antes de abrir a porta de entrada. - só eu posso concertar isso mãe.
- espero que consiga falar com ela Andy, vocês não merecem terminar assim.
Ouvindo essas palavras, deixo a casa. O rombo em meu peito aumentando ao ver a janela do quarto dela fechada, as cortinas rosa deram lugar a um branco quase transparente, um tecido que parece bem fino.
Isso pode facilitar minhas espiadas.
Entro dentro do carro, jogando a mochila no banco ao lado e fechando a porta. O cheiro dela está impregnado em todo o lugar. Inspiro profundamente, tentando me sentir mais próximo do que a pouco tempo eu ainda chamava de meu.
Eu ainda posso chamar de meu !
Por Deus !
Sam precisa me ajudar !

A Jacksonville High School nunca foi o meu lugar preferido no mundo, mas sempre foi o suficiente para que eu me sentisse bem comigo mesmo. Posso dizer que sempre adorei ser popular, as melhores partes nem eram as garotas ou as festas, mas o respeito que a popularidade pode trazer. Respeito que facilmente as pessoas podem confundir com o medo. Eu não fiquei conhecido na escola ou nos arredores do bairro por simplesmente ser o garoto popular da escola ou o melhor armador desde os tempos de Anthony.  Eu fiquei conhecido por simplesmente não conseguir controlar meus hormônios e gênio forte quando tinha meus quinze anos.
Uma noite foi o suficiente para que eu ganhasse a fama de menino mal dos Grayson's.
Em uma festa na casa de Cooper durante a semana inicial das aulas do primeiro ano do colegial eu exagerei na bebida, a garota que deixou a festa comigo e estava no banco do passageiro ao meu lado também não parecia muito bem. Enquanto dirigia rapidamente por uma pista vazia perto da costa da cidade, ela gritava furiosamente para eu ir mais rápido, aproveitando cada dose da adrenalina que pulsava em seu sangue. Não me lembro de quem era o carro que tentava me ultrapassar ou o porquê de eu ter aceitado correr, só me lembro da garota gritar quando nosso opoente jogou o veículo em cima do nosso, batendo na lateral esquerda do veículo e me fazendo perder o controle. O carro girou, os pneus deixaram marcas violentas no asfalto e a polícia chegou. Aquela noite resultou em uma hora e meia de espera na sala da delegacia e mais duas horas de sermões dados pelos meus pais, os responsáveis pela garota estavam fora da cidade e para o seu azar, seu irmão mais velho foi buscá-la com uma cara nada agradável. O dinheiro das nossas famílias apagou nossas fichas do registro policial, mas não rápido demais para que a notícia não se espalhar se. No dia seguinte ao ocorrido eu voltei para a escola com um machucado no supercílio esquerdo e a fama de inconsequente, mas ao contrário do que realmente deveria acontecer, os alunos não me julgaram ou riram de mim. Eles me colocaram em uma espécie de pedestal, dando passagem para eu passar e nunca me olhando por cima. A popularidade me agarrou tão rápido quanto a entrada no time de basquete na posição de armador, as garotas começam a dar em cima de mim com um bando de abelhas em volta do mel e os garotos nos quais eu não tinha amizade a tentarem ficarem fora do meu caminho.
E foi assim que o menino mal dos Grayson's nasceu.
Não sei como o boato se espalhou mesmo com os esforços das duas famílias para manter o caso por debaixo dos panos, mas por causa desse incidente de confidencialidade que eu subi ao céu tão rápido quando desci ao inferno.
Parando meu carro em a vaga no centro do lado direito do estacionamento já começo a ficar incomodado com as cabeças se virando para me olhar. Os olhares variando entre a curiosidade, malícia e um dose de inveja. Agarro minha mochila e pego o óculos escuros dentro do porta luvas, cobrindo meus olhos e deixando o veículo. Jogo a mochila sobre o ombro direito e enfio a mão esquerda no bolso frontal da calça, ergo o queixo, vasculhando o local para encontrar o carro de Brandon. O Jeep Renegade preto está parado a poucos carros do meu, mas nem ele nem Sam estão por perto. Subo os degraus da pequena escada e entro no prédio, trincando o maxilar ao ver Raven escorada em frente ao meu armário. Os cabelos lisos e escuros caindo sobre os ombros, o olhar sobre as unhas bem feitas, um dos pés encostados no metal.
Que merda essa garota quer agora ?

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