Capítulo XII

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     Os raios solares de fim de tarde, eram refletidos pelo espelho de fios dourados que dançavam conduzidos pelas brisas, que também erguiam o vestido amarelo no ar, fazendo-o flutuar a volta de passos lentos e reluntantes. A face de traços anjeljcais conferiam a dama, vinda em sua direção, a aparência exata de uma deusa com a própria magia cintilando pelo ouro líquido de seus cabelos e a sedução do manto da noite, vestido em seus olhos, divididos entre mistério e perigo. 

     Porém, é claro o detalhe que mais encantava o expectador, certamente eram os lábios, atraentes, impedindo-o de desviar o olhar. Pequenos e rosados, faziam um convite silencioso para o deleite e sem dúvida alguma, a perdição.

     - Imagino que já deva conhecer minha filha, Suindara.

     Ocorreu-lhe que pela primeira vez ouvia seu nome, um nome tão peculiar quanto ela. Pensou em contar-lhe que sim, mas ao recordar-se de seus encontros desastrosos, um pior que o outro, resolveu que mentir seria o melhor.

     - Ainda não tive a honra. - Disse-lhe, dando o sorriso que costumava oferecer aos pais quando lhe apresentavam suas filhas. Aquele sorriso dizia, em poucas palavras: "Pode confiar em mim." Mas para a surpresa e frustração de Ric, Eliel nem mesmo pareceu notar.

     - Pois pensei que sim. Já que dormiu em minha casa, deveria tê-la encontrado.

     - Creio que não se achavas no momento em que sai, do contrário, é certo que me lembraria. - Falou enquanto tomava a mão da jovem e a beijava. - É um prazer conhecê-la!

     Ela, por outro lado, permaneceu calada, o olhar impaciente, claramente desconfortavel com a situação. O pai, estranhando a atitude da filha, deu-lhe um cutucão de leve.

     - Tudo bem, querida? - Havia preocupação presente na voz dele.

     - Sim, claro. - Foi tudo o que disse, retirando a mão que Ric ainda segurava.

     Estava pronta para fugir novamente, era óbvio, mas ele não podia deixar. Queria conversar com ela, entender por que havia sido tão gentil em seu último encontro, dando-lhe comida e o ajudando a encontrar o caminho para casa. Até mesmo havia dialogado um pouco. Na hora não parara para pensar, tão confuso estava com a ressaca. Agora depois de repassar diversas vezes aqueles últimos momentos juntos, queria uma explicação para aquela mudança súbita. Em um instante lhe ameaçava com uma tesoura e no outro oferecia-lhe bolo em uma bandeja. Aquilo não podia estar certo. Ela não gostava ou tinha medo dele. Seja qual fosse sua razão, isto a fazia fugir, se manter o mais distante possível. Como acontecia desde que se viram mais cedo. Por vezes tentara se aproximar, mas ela sempre dava um jeito de escapar, se afastando e estava prestes a fazê-lo de novo.

     Olhando ao redor, tentando pensar em algo que pudesse fazer para que ficasse, avistou alguns casais dançando ao centro da praça, então achou a solução.

     - Gostaria de dançar, senhorita?

     Precisou se conter para não rir diante da expressão chocada dela. Já abria a boca para lhe responder, quando Eliel tomou a frente, dizendo:

     - Minha Dara é uma excelente dançarina, eu mesmo a ensinei.

     Sorriu, divertindo-se com o apoio do pai.

     - Então sinto-me ainda mais ansioso para que aceites meu convite, nós portugueses também somos ótimos dançarinos, sabes?

     O homem mais velho soltou uma gargalhada.

      - Vá até lá minha filha e mostre para este burguês os verdadeiros motivos da coroa ter abandonado Portugal por nós.

Na verdade, ele sabia bem quais eram os verdadeiros motivos e estes se deviam as constantes retaliações de Napoleão Bonaparte, todavia Ric era esperto demais por pensar em não contrariá-lo.

A Emissária da MorteWhere stories live. Discover now