quinze.

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― Olivia?

Giro o rosto para todos os lados. Não consigo distinguir de que canto vem. O cybercafé entrou em combustão rapidamente. Quando saltei da F-1000, nossos vizinhos já estavam correndo para fora de suas casas.

― Eu vou ligar para os bombeiros, Liv! ― A senhora Bilson gritou.

― Tem alguém lá dentro, Olivia!

Os braços de Seth me giraram, apontando para a janela da nossa casa. O rosto desesperado de Cherie foi engolido pela fumaça e ela desapareceu.

Meu primeiro impulso foi correr em direção ao cybercafé. Mas antes que eu pudesse me queimar completamente, Lola e Matt Hendrix apareceram com cobertores molhados. Puxei um sem pensar e Seth pegou o outro. No meio do desespero não consegui impedi-lo.

Se Cherie está em casa, mamãe também deve estar. Preciso da ajuda de Seth para tirá-las de lá.

― Olivia! ― Seth se choca comigo. ― Alguém conseguiu descer, mas não consigo encontrar.

Ele cobre os lábios, tossindo.

― Acho que Cherie ainda está... ― Não consigo terminar a frase.

Seth desaparece diante dos meus olhos. A névoa tórrida faz com que eu me sinta feita de areia. Empurro algo que parece uma de nossas charmosas cadeiras e consigo distinguir um corpo próximo à janela.

― Mãe!

A tosse comprime meus pulmões. Mesmo assim, mamãe me ouve. Ela está de joelhos, tentando forçar as janelas. Por causa do calor, tudo está expandido, como se as janelas estivessem soldadas.

― Liv! ― Seu rosto está coberto de fuligem negra quando ela se arrasta para mim. ― Cherie está lá em cima. Ela desmaiou.

Sei que Cherie desmaiou devido a asma. Enquanto arrasto mamãe para junto do cobertor e a guio de volta à porta, desejo que Seth a tenha encontrado.

Uma viga de madeira despenca ao nosso lado, fazendo mamãe gritar com o resto de voz que seus pulmões ainda produzem. Ela me agarra com tanta força que seu peso cobre meus ombros. Meus joelhos estão cedendo e não consigo respirar. Sinto como se o fogo estivesse criando correntes nos meus tornozelos. Rastejando pelas minhas pernas e me fazendo ceder.

Antes que eu despenque, porém, sou erguida do chão por um desconhecido. Minha consciência retoma à medida que chego até a calçada. Mamãe está logo atrás, sendo carregada por um bombeiro, assim como eu.

Pisco tão lentamente que sinto que vou desmaiar. Mas estou olhando diretamente para a janela onde vi Cherie desaparecer. Abro os olhos num estalo assim que sou colocada em uma maca improvisada na calçada. Alguém segura o meu rosto e coloca um inalador sobre meu nariz e minha boca.

Mamãe está chorando um pouco, mais adiante. Eu a ouço gritar pelo nome do meu pai enquanto os Bilson tentam acalmá-la dizendo que ele já está a caminho.

Todos os meus esforços restantes, no entanto, se voltam para o nosso cybercafé. Não há mais focos de incêndio, mas a fumaça forma uma cortina que se espalha por toda cidade. Só consigo imaginar os pulmões de Cherie se comprimindo como uma ameixa. Imaginar a dor que a atinge me faz querer chorar.

Meus olhos ardem em lágrimas quando me sento e arranco o inalador do rosto. Estou quase de pé quando a vejo sair carregada por um dos bombeiros. Os olhos de Cherie, tão azuis no meio das cinzas, reviram. Ela abre a boca e não há som algum. Está tentando respirar como um peixe na areia. Os bombeiros a colocam no chão e lhe dão oxigênio rapidamente.

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