Capítulo 8

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O tempo me pega de surpresa quando abro as cortinas, os raios solares já bem quentes encontram minha pele através do vidro da janela. O vento, quase inexistente me convence que esse será mais um dia seco e irritante, mas o que me faz pensar em que ele ainda pode ser um dia consideravelmente bom é lembrar que hoje terei minha primeira chance de falar com a ruiva.
E nem fodendo, vou deixar essa chance passar.
Levo as mãos aos cabelos, os dedos nervosos esticando os fios no mesmo instante em que a cortina da casa vizinha se abre. As finas alças da camisola de seda azul presas aos ombros e os cabelos presos no topo da cabeça, alguns fios soltos presos a pele do pescoço. Sinto meus braços caírem para as laterais do corpo, os olhos dela fixos nos meus pela primeira vez desde sábado a noite.
Um...
Dois...
Três...
Quatro...
Cinco !
Antes que eu possa fazer algo, ela sacode a cabeça, como se quisesse colocar os pensamentos de volta no lugar e volta para dentro, fechando as cortinas transparentes e ainda me privando de sua visão. De costas para a cortina, o contorno de suas costas ainda fica visível e provavelmente, todos os sentimentos que Mia se privou durante todos esses três dias voltaram com uma intensidade maior com esse nosso breve contato visual. Os cinco segundos em que ela me permitiu a olhar é o tempo suficiente para me mostrar que a ruiva pode querer me ouvir, caso contrário, nem mesmo abriria a janela a essa hora da manhã sabendo que eu estaria a sua espera.
Ela quer ouvir.
Quer saber o que aconteceu.
Ela quer a verdade.
E, por Deus, vou te dar o mundo se você pedir.

" "

Encaro seriamente o quadro negro enquanto a senhora Jacobs escreve um texto ainda não traduzido, a velha professora consegue deixar a aula ainda mais entediante em sua tentativa falha de fazer a turma - ou a maioria dela - ficar acordada por mais de dois minutos. Alguém cutuca meu braço esquerdo, me fazendo virar rapidamente para encontrar Brandon e sua expressão serena.
- como vamos fazer hoje ? Eu passo na sua casa ou você na minha ? - olho de relance para o caderno dele, sorrindo ao notar que o mesmo fez o mesmo que eu : absolutamente nada.
- eu passo na sua. - digo curto ao voltar a olhar para seu rosto.
- combinado. - Brandon apanha a caneta azul com a mão direita e começa a movimentar o objeto pelos dedos. - acha que os gêmeos vão tentar impedir que você chegue até ela ?
- se ela demonstrar resistência, sim, mas pelo que conheço da ruiva o constrangimento vai falar mais alto e ela vai tentar fugir.
- e por isso eles podem perceber que tem algo errado com vocês.
- Brandon, aqueles caras vão perceber que tem algo errado no momento em que olharem para a mão dela e não verem a aliança. Já basta Anthony com essa obsessão maluca de destruir tudo o que eu amo, agora posso ter esses irmãos como possíveis concorrentes, mesmo sabendo que Mia não ficará com ninguém.
Ou ficaria ?
E se ela desistiu de mim e não estiver disposta a me ouvir ?
Será que a ruiva ficaria com um desses três ?
Balanço a cabeça negativamente, sentindo a raiva aparecer junto com o pensamento de ver a ruiva com outra pessoa. Ela disse que me amava e eu a amo também, espero que isso seja o suficiente para que eu não à perca.
- como sabe que ela não vai ficar com ninguém ? - o sorriso idiota nos lábios do meu amigo não escondem a zombaria.
Não me teste Brandon, você não vai ganhar.
- Mia me ama e o sentimento é recíproco, mesmo com o coração em pedaços ela não daria a chance de alguém juntar os cacos, esse direito é meu e a ruiva sabe disso.
- essa sua confiança em si mesmo e no relacionamento de vocês me deixa feliz, mas creio que aconteceu alguma coisa e você não me contou.
- as vezes eu consigo vê-la da janela do meu quarto, foram duas ou três vezes no máximo, mas eu a vi. Hoje nossos olhos se encontraram pela primeira vez em quatro dias Brandon, e eu vi o quando ela continua tão linda quanto antes. Nos encaramos por cerca de cinco segundos e eu tenho a impressão de que isso acontece a mais tempo do que eu possa contar, esses cinco segundos são nossa linha de ligação e o fato desse contato visual ter durado esse exato tempo me passa a ideia de que ela vai me ouvir.
A expressão dele é confusa, mas nada que comprometa sua linha de pensamento. As sobrancelhas dele ficam arqueadas e isso mostra que enfim ele entendeu tudo o que eu quis dizer.
- espero que você esteja certo sobre isso.
- eu também cara. Sam deu alguma notícia ?
- sim, ele me ligou de manhã avisando que amanhã já vai voltar a vir para a escola.
- só ?
- só Andrew, mas ele ficou de me ligar antes da Mia sair para a o leilão.
Confirmo com a cabeça e volto a minha antiga posição, os olhos baixos encarando duramente a folha ainda sem nenhum rastro da caneta. A senhora Jacobs fala algo em frances e meu cérebro se recusa a entender e até mesmo a ouvir com atenção cada palavra que sai de sua boca. Para a minha salvação o sinal toca, indicando o fim desse filme de terror mal feito e eu me apresso para apanhar os materiais antes que a turma toda devida sair ao mesmo tempo. Inclino minha cabeça para o lado, fazendo um sinal com a mesma para que Brandon venha comigo para fora desse âmbito irritante.
Último ano Grayson !
O corredor lotado parece pequeno a quantidade de alunos, o tecido da gola da jaqueta do time coçando em minha nuca não é pior do que as encaradas que Gabe Kenner e seus malditos cães de guarda encostados na porta do meu armário.
Mas que porra !
O que eles tem com o meu armário ?
- que merda você quer Gabe ? - rolo os olhos, me aproximando rápido antes de deixar a mochila cair no chão.
- é assim que recebe os amigos Grayson ? Cadê a sua educação ? - os dentes do infeliz brilhando em expectativa.
Ah Gabe, você não me pegou em um bom dia.
- está na porra da calcinha da sua mãe, agora some daqui.
Os caras ao redor dele começam a vir devagar em minha direção, atraindo a atenção não só dos desocupados que ainda estão no corredor mas também do resto do meu time.
- o que está acontecendo aqui ? - a voz de Kevin aparace e quando eu me viro para trás, todos os caras estão lá.
Os braços envolvidos pelo tecido amarelo da jaqueta e as expressões nada amigáveis. No final da fila os olhos azuis de Daniel me fazem questionar o porquê dele estar ali.
- parece que deixaram um grande saco de lixo na frente do meu armário, vou precisar de ajuda para jogá-lo fora. Quem topa ?
- nem precisa perguntar Grayson.
Me viro para Gabe, exibindo meu melhor sorriso ao ver seus cachorros engolirem seco. São dez contra seis, uma luta injusta porém realizadora. Gabe Kenner merece ter a visibilidade que tanto deseja, mas tenho certeza de que ele irá se arrepender de me desafiar.
- o que vai ser Gabe, sair daqui com o os ossos do corpo ainda no lugar ou ir de primeira classe para a enfermaria com suspeita de mais do que o nariz quebrado ? - enfio minhas mãos no bolso frontal do jeans, revezando o olhar entre os caras da gangue do Kenner. - vou ser tão legal dessa vez que você tem o direito de escolher.
Mas que bela gangue em bundão.
- e se eu enfiar minha mão na sua cara ? O que vai fazer ?
- isso. - com rapidez, retiro a mão direita do bolso e enfio um murro certeiro no nariz dele, ficando sério ao ver esse traste deslizando pelo metal do armário.
Os cães deixam suas posições, dando um passo a frente na tentativa de me intimidar e logo parando ao perceber que meu time está disposto a entrar na porrada por mim. A mão de Gabe cobrindo o nariz já se encontra com sangue, me abaixo devagar, vendo os olhos desse maldito ficarem marejados.
- vou te colocar no seu lugar toda que vez que achar ser melhor do que eu Kenner, e acho que você não sabe o quanto eu estou me divertindo com isso. Essa é a segunda vez em menos de dois meses que eu quebro o seu nariz, sorte sua que meu humor está ótimo hoje ou você não sairia daqui andando.
Me levanto, o encarando por cima e sorrindo com seu olhar de ódio.
- não suje meu armário com sangue.
Apanho minha mochila no chão e volto a conversar com o garoto jogado.
- pare de tentar chamar a atenção desnecessária e aprenda a se defender antes de querer vir me desafiar. Não faça isso de novo, eu não estou de bom humor todos os dias.
Não faca nenhuma burrada Andrew.
Desculpe Sam, mas creio já ter estragado metade dos planos que você fez.

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