9° Reinado: Fragmentação

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ATENÇÃO: Esta não é uma história adequada para qualquer leitor. Se sentir qualquer espécie de incômodo além do aceitável NÃO leia. CONFIRAM as tags.

fragmentação

substantivo feminino

1. ato ou efeito de fragmentar(-se).

👑

Todos tem um ponto de quebra. Se puxar, esforçar, desgasta, em algum momento o material irá ceder, por mais resistente que seja. — Jungkook? — Seokjin entrou no quarto de Chung-hee, escurecido por lençóis, do qual o Príncipe havia se apossado, já que há dias não pisava no próprio quarto. — Eu te trouxe seu almoço. — comentou, colocando a bandeja no pequeno móvel, na cabeceira da cama de solteiro.

Não houve resposta ou movimento. Talvez bebesse água vez ou outra, apenas para desperdiçar a matéria em mais lágrimas silenciosas, quando estava absolutamente sozinho, geralmente à noite, enquanto a insônia o atacava, levando parte por parte de seu corpo, um pouco a cada noite. Seokjin suspirou, sentando na beirada da cama e tocando o ombro de Jungkook. — Meu amigo... Eu sei como é difícil. — sussurrou. — Mas precisa se reerguer, e voltar a ser quem era antes. Todos aqui precisamos de você. — prosseguiu.

Jungkook poderia estar repassando aquela noite, como fez centenas de vezes nos primeiros dias. Poderia imaginar mil versões diferentes de como tudo poderia ter acontecido, como tentou imaginar antes. Mas com o passar do tempo, sua mente apenas era um vazio, que ecoava as vozes de quem passava por aquela porta, e os sons que conseguiam ultrapassar a janela. — Nós colocamos Hanu nas bordas da floresta, devolvendo, uma vez que ele veio de lá. Talvez ele sempre pertenceu à aquele lugar. — continuou falando. — Ele certamente se sentia preso aqui, por melhor que tratássemos, não é a mesma coisa.

Silêncio. — Já viu meu presente? Eu sei que me atrasei, mas eu mesmo fiz. Um avião. É uma maquete realista, eu diria, talhei parte por parte. — riu soprado. — Era nisso que eu estava trabalhando daquela vez, que não te contei... Não é bom ficar sozinho, Jungkook. Quando ficamos com nós mesmos pode ser bom, mas não solitários, por tempo demais. É solitário lá fora sem você. — comentou.

Jungkook não se deu conta, mas em algum momento, depois de falar mais, e contar mais coisas, Seokjin saiu dali, se despedindo dele tocando mais uma vez em seu ombro. Sentia o cheiro da comida subir, mas lhe faltava forças em vários aspectos para se alimentar.

Quando se levantou tempo depois, sentindo o suor grudar o corpo, e o próprio suor o incomodar, caminhou até o banheiro, se despindo para tomar um banho, se colocando debaixo do jato de água, apenas deixou que esta o lavasse, por minutos a fio. E quando saiu, escurecia finalmente.

Se aproximou do espelho, para se trocar com roupas que Chung-hee em algum momento havia lhe entregado, ou em algum outro dia, encarando o próprio reflexo. Não se reconhecia.

Não se reconhecia, nem seu reflexo seguia seus movimentos. O coração abatido deu um pique, encarando o espelho. Sua imagem o encarava de volta, mas não parecia estar refletindo seu próprio rosto e expressão, mas sim uma própria. Ódio.

Por mais que se mexesse no lugar, e sentisse suas próprias feições de espanto, apenas enxergava as olheiras profundas no rosto pálido, os olhos enviesados e estreitos, destilando toda a raiva que fosse possível expressar, de um jeito que nunca havia visto em si mesmo antes. — Devia ter ido.

Engoliu em seco, tentando ignorar, respirando rapidamente.

— Quando ele te chamou, devia ter ido. Ele poderia estar vivo agora, então de quem é a culpa?

Apertou os olhos assentindo, confirmando pelo que era a sua própria verdade absoluta. Se tivesse ido, pelo menos na pior das hipóteses estaria morto também. Pior das melhores.

[CONCLUÍDA] Overlord| JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora