05 | faith gwyneth

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Eu só quero ser feliz para caralho

Happy, Julia Michaels

    EU OBSERVEI SALEM bater as patas pretas felpudas contra o focinho de Cash.

Eu estava tentando revisar as centenas de anotações que fiz durante uma aula de manhã, debruçada sobre minha colcha cor de creme. Mas eu estava aérea e me distraía até mesmo com o meu gato e o de Thirteen brincando no corredor. Eu os observava por uma fresta da porta, completamente fascinada. Eu era louca por gatos e a visão deles se debatendo era cômica e fofinha. Talvez eu pudesse gravá-los por alguns segundos no meu celular...

Suspirei, chutando a porta para mantê-la fechada. Eu precisava focar no conteúdo de direito se quisesse me sair bem nas eventuais provas. Eu tinha que me lembrar a todo momento que isso aqui era Harvard e não qualquer outra faculdade. Minha mãe estava enchendo o saco para fazer uma videochamada na suposta fraternidade onde eu deveria estar. Mas eu sempre me esquivava de suas tentativas de bisbilhotar e controlar minha vida mesmo a muitos quilômetros de distância dizendo que eu estava sempre ocupada com a cara enfiada nos livros.

É claro que parte disso era verdade. Eu passava mais de setenta por cento da parte do meu tempo livre lendo artigos ou na biblioteca do campus buscando por dezenas de livros que os professores pediam mas eu poderia encaixar a ligação no Skype com minha mãe depois que eu tomasse meu banho na parte da tarde. Isso se eu quisesse — o que não era o caso.

De repente, a porta do meu quarto foi aberta e Thirteen enfiou a cabeça para o lado de dentro.

— Você vai ficar a noite inteira trancada no quarto estudando? — ela indagou.

— Vou. É terça-feira. Preciso revisar o conteúdo, então... — Apontei para o caderno, suspirando. — Sem folgas para mim.

— Beleza. Desce para jantar depois. Michel e Ethan estão cozinhando macarrão.

Só pude finalmente descer para comer quando tinha lido três artigos antigos de ex-alunos brilhantes da Harvard que se formaram com honras. Mas até mesmo para mim, se formar em dos três graus de honras (Cum Laude, Magna Cum Laude e Summa Cum Laude) parecia impossível. Meu sonho seria receber uma carta da Juilliard, sendo aprovada para o departamento de dança. Isso seria fantástico — mas provavelmente não aconteceria nunca. Fiz uma audição escondida de minha mãe e até agora não havia recebido nenhuma correspondência e o ano letivo já havia se iniciado. Então, tudo o que me restava era a faculdade de direito.

Depois que engoli o prato de macarrão deixado para mim no microondas com uma proteção de alumínio, escovei os dentes e desabei sobre minha cama. Acordei cedo no dia seguinte, estava um pouco mais frio que o habitual — o que me fez vestir um suéter cor-de-rosa, calça jeans e botas marrons de cano curto da Chanel. Eu peguei carona com Michel em seu Ford e no caminho nós entramos em uma discussão inútil sobre quem escolheria a música no rádio no curto trajeto de três ou quatro minutos até a faculdade.

— O carro é meu. É justo que eu escolha a música. — Ele mudou a estação no rádio pela milésima vez e um rock horroroso preencheu o interior do automóvel.

— Para de ser chato. Não importa de quem é o carro. Eu tenho princípios, não vou ouvir essa merda.

Apertei o botão e Taylor Swift explodiu nas caixas de som.

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