Fragmentos de Jane

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Jane se levanta da cama lentamente, limpando a poeira de suas roupas com as mãos e se aproximando do baú localizado ao lado da cama. Maximilian já havia saído para cumprir a sua parte na missão a quase uma hora, deixando apenas o aroma de sua camuflagem para trás.

A vampira respira aquele cheiro profundamente, sacudindo levemente a cabeça para se livrar do torpor que tentava se instalar ali, buscando se concentrar no objeto a sua frente. Ela levanta a tampa do baú com um dedo, não encontrando mais do que cartolas, sapatos, bengalas de luxo, vestidos e jalecos antigos em seu interior. Jane se lembrava vagamente daquela moda, contudo, nenhuma peça em especial chamou sua atenção.

Na cômoda perto da janela ela encontrou mais peças de roupas antigas, além de alguns brinquedos infantis que provavelmente pertenceram a versão infantil de Maximilian. Haviam livros abandonados nas prateleiras perto da porta e um pequeno vaso sobre o criado-mudo, com algo que um dia fora um bonsai em seu interior.

Ela olha ao redor, reparando que o papel de parede era moderno e estiloso, apesar das portas e janelas possuírem uma arquitetura antiga e antiquada. Aquela decoração era difícil de entender e, em vários momentos, ela se perguntou se existia algum tipo de lógica em tudo aquilo ou se o camaleão apenas jogou as coisas a esmo, torcendo para combinarem.

Na sequência, a vampira se aproxima de um armário com designer moderno, abrindo suas portas com ambas as mãos e encontrando dezenas de materiais de desenho em seu interior. Nas prateleiras de cima haviam latas e mais latas de lápis de cores, gizes de cera e pincéis de vários tamanhos, além de um estojo com apontadores e borrachas que ela nem sabia se ainda prestavam. As prateleiras do meio continham potes de tintas de cores variadas, todas já secas pelo tempo em que ficaram ali, repousando. E, ao olhar para as prateleiras inferiores, encontrou duas grandes pastas de couro.

Algo cutucou o fundo de sua mente com relação aquilo.

Jane apanha ambas as pastas e retorna para a cama, arrancando a colcha empoeirada com apenas um movimento e a lançando sobre o baú, sentando-se diretamente sobre o lençol. Seus olhos vermelhos e atentos analisam as pastas, percebendo que uma estava lacrada com uma amarração de couro e a outra não, o que poderia indicar que uma delas já não era mexida há bastante tempo. Com dedos ágeis ela desfaz o nó da pasta lacrada, abrindo-a com certa ansiedade e retirando todo o seu conteúdo de uma só vez, deparando-se com dezenas de desenhos e pinturas feitas à mão.

A vampira salta da cama e se aproxima da janela do quarto, abrindo-a para que a luz do dia pudesse penetrar no cômodo e lhe dar uma visão mais clara de todas aquelas obras. A brisa da manhã entra no recinto assim que a janela se abre e os raios solares acertam o seu rosto como se lhe dessem "bom-dia" depois de muito tempo sem vê-la, fazendo sua pele branca cintilar como um diamante.

Ela olha ao redor para se certificar de que ninguém estava vendo aquilo e retorna para a cama, percebendo logo de cara que aqueles desenhos eram tão antigos quanto ela. Em sua maioria, eles foram feitos em papéis já amarelados com o tempo, e todos continham o nome de Maximilian no rodapé, escrito com a letra característica de uma criança.

Haviam maçãs, árvores e grotescos cachorros desenhados ali, como se, na época em que foram projetados, ele ainda estivesse aprendendo e aperfeiçoando o seu traço. E conforme ia-os passando, Jane percebia que os traços ficavam mais refinados e perfeitos, conforme Maximilian crescia e se tornava mais experiente. Ele tinha muito talento para a arte, pois desenhos de casas, jardins e um bebedouro foram registrados detalhadamente em desenho, apesar de não terem sido coloridos.

A vampira se detém no desenho do bebedouro por alguns minutos, tendo a ligeira impressão de já tê-lo visto antes, apesar de considerar que uma ou outra coisa deveria ser diferente. Ela se concentra em suas formas por alguns segundos, imaginando a pequena Jane em frente a ele ou bebendo de sua água, mas desiste na sequência, ao perceber que isso não lhe trazia memória alguma.

Coração GeladoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora