Capítulo 16

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Com o peito carregado de angústia empurro as postas duplas do extenso corredor monocromático, as paredes brancas e todas as portas me deixam tonto. Meus olhos vagam pelo lugar até encontrar algum rosto conhecido, felizmente encontrando Sam com a cabeça baixa. Ele está escorado na parede ao lado da porta, os braços esticados e as mãos enfiadas no bolso do moletom. Corro até ele, ignorando a atual dor em meus pés por ter subido três lances de escada após preferir não usar o elevador lotado.
- como ela está ? - chamo sua atenção.
- um pouco desorientada pela pancada, mas bem. O médico só pediu para que ela ficasse aqui por mais duas horas antes de receber alta por conta da concussão, só para ter certeza se ela está bem.
Apoio uma das mãos na parede para recuperar um pouco do fôlego, respirando tão rápido quanto se estivesse em um dos treinos de basquete. Olho rapidamente para a janela da porta, quase travando ao vê-la deitada no leito com os cabelos espalhados pelo travesseiro.
- já sabe o que causou a queda ? - pergunto a Sam sem desviar os olhos dela.
- o médico constatou que Mia não anda se alimentando corretamente, ficando longos períodos sem ingerir nem mesmo água. Essa maluca não está comendo direito a dias e por isso desmaiou.
- o senhor Collins não percebeu isso ?
- não, ela nunca foi de comer muito.
Ver o avô sentado aos pés de sua cama me faz pensar no quanto ele se preocupa com ela. Provavelmente Mia não contou a ele o que aconteceu entre nós.
O que eu poderia usar ao meu favor agora.
- eu conversei com ela hoje, depois da aula de alemão. Essa cabeça dura está pensamos que eu venho a traindo por todo esse tempo, achando que eu a usei de alguma forma para justificar a merda da minha fama, isso é loucura Sam.
O loiro me encara, a boca levemente repuxada nas laterais como se estivesse ouvindo algo que não tivesse a mínima chance de ter acontecido, acho que até corcordando comigo na parte disso ser uma loucura.
Eu nunca trairia ela.
- você está brincando comigo né ?
- acha mesmo que eu brincaria com uma merda dessas Sam ? A ruiva disse na minha cara que ligou os pontos e se deu por convencida de que era apenas um objeto nas minhas mãos.  - faço um sinal de aspas com os dedos ao citar os pontos que ela insinuou ter encontrado. - eu nunca pensei que passaria por isso algum dia, Mia é tudo para mim mas confesso ficar desarmado quando ela me acusa assim.
Sam passa a mão direita pelo rosto, como se todos seus pensamentos fossem embaralhados depois do que falei. Os olhos castanhos se colocam mais uma vez em minha direção, transmitindo não só confusão mas também um possível brilho que pode ser resultado de uma ideia.
- entre lá e fale com ela.
Minhas sobrancelhas ficam franzidas no mesmo instante, o olhar sugestivo dele não mostra dúvida em seu pedido.
- não sei se é uma boa idéia, você mesmo disse que ela está meio desorientada, não quero deixá-la pior.
- você vai deixá-la pior se não entrar lá e arrancar essa paranóia maluca da cabeça ruiva dela.
- o senhor Collins está lá ainda.
- peça licença, vovô não sabe que vocês estão rompidos e com certeza vai te dar um tempo a sós com ela. - ele coloca uma das mãos em meu ombro direito. - faça algo logo antes que eu não consiga diminuir a proximidade com seu irmão, esse é um laço que só você pode manter desatado Andrew.
Engulo seco e respiro fundo, pegando na maçaneta gelada da porta e empurrando devagar. Os olhos dela logo pairam sobre mim, um curativo pequeno está na parte superior do supercílio esquerdo e um corte mínimo na lateral direita dos lábios se mostram presentes em seu belo rosto. Os cabelos vermelhos alaranjados espalhados pelo travesseiro são a única coisa viva nesse quarto.
Assim como eram no meu apartamento.
Logo o senhor Collins percebe minha presença, sorrindo fraco antes de se levantar e estender uma das mãos para me cumprimentar.
- você chegou rápido garoto.
- fiz o possível para não demorar. - solto sua mão gelada, pensando que ele pode estar um pouco mal com o pequeno acidente dela.
- vou deixar vocês sozinhos, sei que foi um susto e tanto quando Sam te ligou. - ele se vira para Mia. - qualquer coisa me ligue, deixei seu celular debaixo do travesseiro e estarei na cafeteria. Cuide dela Grayson, já tive emoções demais por hoje.
Finjo sorrir, me sentindo mal o suficiente por não ter consigo proteger Mia de Raven, por não estar conseguindo proteger ela de Anthony...
Por muito menos não ter conseguido proteger ela de mim.
Quando o som dos passos dele somem eu sinto vergonha de olhar para ela, sabendo que Mia não está confortável com a minha presença.
- o que você está fazendo aqui Andrew ? - o sussurro parece cansado, como se desejasse o meu sumiço.
- vim ver você. - enfio as mãos no bolso frontal do jeans, mordendo a ponta da minha língua. - fiquei preocupado e mesmo que você não me queira aqui, eu não me importo, só precisava saber que você estava bem, ver isso com os meus próprios olhos.
Mia suspira ruidosamente, fechando os olhos por um tempo maior do que eu esperava. Ela molha os lábios com a língua, esticando os dedos dos pés por baixo do lençol.
- sei que você está desconfortável comigo aqui, e acredite quando eu digo que mesmo que não aparente, isso dói em mim. - respiro novamente, tentando ignorar as lágrimas nos olhos dela.
Pare de adiar esse sofrimento e me deixe beijá-la.
Por Deus ruiva, apenas pense !
- eu já estou sem ter o que falar para que você acredite em mim, na verdade, estou até cansado de fazer isso. Todas vezes você foge, você corre e para foder mais com a minha cabeça, você ainda me acusa de não ser fiel. - sinto meu maxilar enrijecer, os músculos ficarem duros. - ah ruiva, eu estou tentado, estou fazendo de tudo para arrumar essa merda de situação e não é legal da sua parte me acusar dessa forma.
- Andrew ...
- não, não. Me deixa falar. - a corto rapidamente, observando com angústia a lágrima escorrer por sua bochecha. - Raven soube me manipular naquela noite, usou e abusou do meu temperamento explosivo para me aproximar dela. Não que você quisesse ouvir antes, e eu duvido muito que queira vir agora mas vou te falar do mesmo jeito. Eu te defendi naquela noite como se minha vida dependesse daquilo, disse coisas que aquela garota maldita merecia ouvir a muito tempo e ninguém havia tido coragem para dizer. Eu a fiz olhar no fundo dos meus olhos e entender que eu amava você, não ela e por um momento de distração, só um momento, ela se aproveitou e me puxou para um beijo. Apertou tão forte em meus braços que as marcas das unhas ficaram mesmo com a proteção da roupa, e foi aí que você apareceu. Depois disso eu tentei, tentei mais de uma conversar, até mesmo chegar perto de você mas não deu certo. Você havia fugido de mim mais uma vez.
As lágrimas caem constantemente e eu me vejo forçado a para um pouco, chegando mais perto da maca. Me sento na ponta contrária de onde o senhor Collins estava, o bolo entalado em minha garganta.
- naquela noite, debaixo de toda aquela chuva eu vi você arrancando a aliança do dedo e a deixando cair como se declarasse que tudo havia acabado, vi você subir na moto do Anthony e me deixar ali, largado no chão após ter levado um soco. Eu me senti horrível por não ter continuado andando e evitado todo o teatro de Raven, mas com certeza me senti pior ainda quando vi aquele maldito na sua casa. No final das contas ele estava certo, você decidiu quem quer ouvir, decidiu quem quer por perto... E infelizmente, era ele quem estava lá, não eu.
- Andrew ... - a voz chorosa quase me faz pular em seus braços, querer sentir o calor de seu corpo perto do meu outra vez.
- eu ainda não acabei ruiva. - a corto novamente, meus olhos ardendo pelo nervosismo.
Fale de uma vez Grayson !
- eu te amo, amo tanto ao ponto de respeitar sua decisão de voltar ou não comigo depois do que acabei de falar. - foco os olhos nela, os globos cinza azulados vermelhos por culpa do choro. - só saiba que eu ando preocupado com você, Anthony pode estar sendo uma boa companhia agora mas ele sabe como ninguém como ferir alguém. Fique longe dele e eu ficarei longe de você, essa é a melhor maneira de te proteger, já que falhei nisso mais de uma vez.
A maneira como ela morde o lábio quando está nervosa é tão linda que chega a me distrair, o jeito com que os dedos ficam se mexendo entre si.
Tudo nela me distrai.

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