Capítulo 17

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Abro a boca várias vezes a fechando rapidamente, as palavras girando em uma ordem completamente frenética em minha mente não me dão espaço para continuar.
Ela precisa ouvir tudo.
Solto o ar devagar, tentando encaixar as frases antes de voltar a encarar seus olhos e continuar a desentalar minha garganta.
- você é a melhor coisa que já me aconteceu ruiva, a melhor coisa que já me apareceu em toda essa minha vida de merda e nem fodendo eu iria te trocar por aquela garota maluca. - estico uma das mãos com calma, tocando em seus dedos e sentindo a eletricidade de nossos corpos chamarem uma pela outra. - cada segundo do meu dia é o inferno por saber que quando ele chegar ao fim você não estará lá para dizer que ama.
Mordo novamente a ponta da minha língua, deixando que a dor física me impeça de ceder as lágrimas que insistem em aparecer.
- você, Mia Parker Collins, criou um buraco tão grande no peito quanto o que acha que deixei em você.
Fecho os olhos, me xingando mentalmente por estar quase chorando sem nem ao menos estar olhando para ela no momento. Abaixo a cabeça, o sangue correndo rápido pelas minhas veias, queimando de dentro para fora.
- se você deixar, e por Deus, eu quero deixe. - digo escondendo o rosto entre as mãos, querendo esconder minha expressão de dor. - podemos curar um ao outro.
Com os batimentos cardíacos acelerados me levanto rápido, limpando os olhos com a manga da camisa. O ar entrando e saindo sem controle, o maxilar endurecendo junto com o silêncio dela.
Droga ... E se ela tiver desistido ?
Me levanto rapidamente, sentindo meus músculos relaxarem e me viro para ela. O rosto todo molhado, os olhos avermelhados e os lábios tremendo.
- não preciso de uma resposta agora, só coma direito ruiva, por favor.
A porta se abre de repente, me viro rápido e toda a porra do alívio que eu estava sentindo vai para ares junto com a minha paciência. O olhar dele me ignora a todo o instante, os olhos azuis focados na minha garota.
Maldito seja !
Levanto o queixo, o encarando friamente enquanto Anthony se aproxima dela. Inspiro profundamente, perdendo toda a sensibilidade que o momento havia me trazido e deixando a grosseria pairar.
- era por isso que não me queria aqui... Pois bem ruiva, eu já terminei.
Sorrio irônico, vendo esse filho da puta se sentar aonde eu me encontrava a segundos atrás e pegar uma das mãos dela, acariciando os dedos com um cuidado no qual eu nunca vi. Mia continua com o olhar pedido, as bochechas ainda molhadas e eu entendo isso como uma deixa para ir embora.
Já falei tudo o que precisava...
E ela já ouviu tudo o que merecia.

A pior coisa agora é vê-la longe de mim mesmo sabendo a verdade.

" "

A cadeira a minha frente está tão vazia quanto o meu coração, a cada palavra que escrevo para terminar o trabalho de química é torturante. Olho novamente para o celular, esperando alguma mensagem, alguma ligação ou até mesmo algum sinal. 
Mas nem Sam da algum sinal de vida.
Fecho o caderno com raiva, puxando o notebook para o colo e me distraindo nas redes sociais. Meu perfil não foi mexido desde a festa de Kevin, a última foto postada se resume a Mia dando um beijo na minha bochecha.
Aquela noite foi uma loucura.
Tanto na festa ... Quanto na cama.
Continuo a descer a página, encontrando fotos do tempo das férias dos outros anos escolares.
Mia é a única garota entre elas.
- Andy. - levanto o olhar, encontrando Susan parada na porta. - você não vai descer para jantar ?
- não Susan, não vou. - fecho o notebook e o jogo para o lado, esticando as penas em cima da cama.
- Mia ainda está mechendo com a sua cabeça ? - o sorriso dela é fraco, não tão fraco quanto o meu em resposta.
- e quando ela não mexeu Susan ?
- já conseguiu conversar com ela, não foi ?
- consegui, mas ainda não tenho uma resposta e o fato dela ter Anthony por perto não ajuda.
Ela sacode a cabeça negativamente, talvez se lembrando das várias vezes em que Anthony aprontou alguma com ela.
- já parou para pensar no porquê de seu irmão sentir toda essa raiva por você ?
- já, muitas vezes, mas acho que só ele sabe o verdadeiro motivo, talvez até nem ele mesmo saiba.
Nós dois apenas nascemos para destruir um ao outro.
Testar um ao outro.
Ferrar um ao outro.
- ele sabe sim Andy, seu irmão é inteligente o suficiente para saber até o momento perfeito para dizer o motivo disso tudo.
- Anthony é um filho da puta, isso sim.
- hey Andy, cuidado com o palavreado.
- que seja.
Bato palmas e as luzes se apagam, a claridade que entra no quarto se deve a luz do corredor que ainda está acesa e de Susan ainda estar parada ali, com os braços cruzados me olhando.
- você nunca teve paciência Andy, Mia vai voltar para você é só esperar um pouco. Boa noite Andy.
O problema Susan é que eu não quero esperar.
Eu quero ela agora.
Eu preciso dela agora.

Normalmente eu sempre acordo socando o saco de pancadas na academia, quase quebrando os dedos na tentativa de tirar ela da minha cabeça, mas o dia ensolarado mudou a minha rotina. A piscina gelada é a única coisa que consegue resfriar um pouco a adrenalina em meu sangue, a única coisa que consegue destravar meus músculos e me incentivar a ir aquele inferno de escola mais uma vez.
Vê-la sorrindo sem eu ser o motivo é inquietante.
Mergulho mais uma vez, sentando brevemente no fundo da piscina e olhando pra cima. A água embaça minha visão, mas ainda possibilitando que eu veja a luz latejante do sol. Volto a superfície, dando um impulso único com os pés e nadando até sentir o vento quente bater em meu rosto.
Respiro fundo antes de praguejar baixinho, o olhar feroz dirigido a mim não esconde o orgulho, talvez ele goste de me ver sofrendo... Ou até mesmo faz de tudo para que isso aconteça com ele por perto. A jaqueta em seu corpo é uma provocação clara e felizmente eu não ligo.
- o que você quer ? - pergunto antes de dar uma braçada para trás, me colocando mais para frente.
- nada fratellino (irmãozinho), só pensando que você está solteiro a algum tempo e ainda não vi o seu lado pegador entrando em ação.
- não se preocupe comigo, sei que está pegando garotas no meu lugar.
Ele sorri, provavelmente já ligando os pontos e sabendo que eu ouvi quando suas visitas noturnas chegavam.
- Mia está pensando em voltar com você.
Paro de nadar no mesmo instante, analisando sua expressão serena e forçando minha cabeça a não ignorar esse palhaço.
- deixa eu adivinhar, ela te disse isso ?
- disse, parece que o seu teatrinho ontem deu certo e ela já está derretendo. Eu te entendo Andrew, perder uma ruiva daquelas não pode ter sido fácil, mas com certeza ter ela de volta... Já vai ser mais complicado.
- fale de uma vez o que você sabe e me deixe em paz. - perco a linha, já pisando em um dos degraus.
- não vou te contar nada se não falar algo que me interesse antes.
Rio baixo, entendendo a linha de raciocínio desse desgraçado. Anthony me viu conversando com nosso pai, quer alguma dica do que se tratava aquela discussão e por isso veio atrás de mim. Ele não quer me ajudar, quer se ajudar a passar na minha frente.
- tudo bem, eu falo e você fala em seguida.
- okay.
- tenho uma data de validade para administrar a empresa, depois disso a escolha de ficar ou sair é totalmente minha. Sua vez.
- boas informações monello (pirralho), obrigado. - ele se vira, saindo devagar em direção a entrada da casa.
- não está esquecendo de algo Anthony ?
- ah, é mesmo. - ele para, não muito longe de onde estava quando me encarava. - Daniel Carter foi visitar a ruiva ontem assim que deixei o hospital, se fosse você cuidava para que essa garoto fique longe, ele me parece ... Como posso dizer, mal intencionado com aquelas flores.
- tão mal intencionado quanto você ?
- não como eu, meu interesse nela é algo não carnal, diferente do dele.
Aquele filho da puta não aprende.
- por que está me ajudando ? - digo logo, não querendo prolongar o assunto.
- não considere uma ajuda, eu ainda não vou com a sua cara e duvido que um dia isso vai mudar. Só estou atendendo um pedido da minha mãe, não quero ficar longe dela de novo por sua causa.
Chocado com o que ele acabou de falar permaneço no mesmo lugar enquanto o vejo de afastar até desaparecer por detrás da porta.
Que merda aconteceu aqui ?
Eu ouvi certo ?
Porra, ou a situação está estranha demais e o babaca está amolecendo ou esse cretino está preparando algo...
Eu prefiro acreditar na segunda opção, já que em todos esses anos de convivência Anthony nunca se preocupou em me ajudar. Se bem que não seria a primeira vez que ele tomou essa atitude desde que chegou...
Estaria ele tentando mudar ...

Não quero pensar que Mia possa ter razão quando disse que Anthony não era tão ruim.

Eu conheço esse maldito a vida toda, o filho da puta está apenas fazendo o que sabe de melhor : manipular as pessoas a seu favor nesse jogo ferino que ele inventou para conseguir tudo o que quer.

Obter algum controle sobre a ruiva é o primeiro objetivo.
E eu vou aceitar jogar para protegê-la.

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