vinte e seis.

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Estou pulando nos calcanhares tentando alcançar uma caixa no último compartimento do armário do quarto de hóspedes quando Carson atravessa o corredor. Ele está voltando de seu passeio noturno e a primeira coisa que pergunto em silêncio é se o plano deu certo. Mas o novo celular que ganhei de James vibra na minha mão, antes que ele responda. O vídeo em que meu pai me bate está circulando por toda a rede. E as pessoas estão marcando o meu Instagram tentando me fazer contar a história toda.

― O que você quer fazer agora? ― Carson surpreendentemente pergunta. ― Tem um crédito comigo por isso, Liv Wilder.

― Só mostrei a verdade. ― Ignoro Carson e o Instagram, voltando a fitar a caixa. ― Você acha que tem alguma roupa que me sirva naquilo? Eu inesperadamente encontrei um vestido nesse guarda-roupa. Então eu pensei que...

― Esquece. Isso é de alguma prostituta do meu pai.

Olho para Carson com espanto. Ele está encostado no batente da porta com os braços cruzados e os olhos cravados em mim. Os fractais azuis em suas órbitas fazem uma varredura em meu corpo e forço-me a olhar para o outro lado, sentindo minhas bochechas corarem de constrangimento.

― Quando você diz prostituta...

― Alguma namorada elegante que sempre será uma prostituta se comparada à minha mãe. 

― Você é um imbecil, Carson. 

― É. Diga algo que não sei. Por que você precisa de roupas, afinal?

― Porque preciso ir ao St. Vicentti daqui a pouco e essa está suja. Hoje, finalmente, é a cerimônia de nomeação do novo presidente do clube de debates. E eu, como atual presidente, tenho que fazer as honras.

Carson começa a gargalhar. É ruim que ele bata uma palma, causando uma espécie de indignação em mim. Reviro os olhos, saltando na ponta dos pés outra vez e batendo os calcanhares com força no chão.

― Não vai achar nada aí adequado ao seu clube de debates. Mas eu tenho algo para você. ― Volto a fitá-lo com curiosidade. ― Vai ser esquisito porque você vai se parecer muito mais com uma Rowan se usar o que estou pensando.

― Não seria irônico? ― Dou de ombros e seguro as alças da jardineira em jeans macio que pendem em meus ombros. ― Perder Liv Wilder pelo caminho.

Carson arrasta dois dedos no ar me chamando enquanto se vira e some pelo corredor. Eu deveria ter medo dele, ou algo parecido. Mas um espírito esquisito se apossou de mim. Um nerd qualquer me enganou, beijei alguém que pode ser meu irmão, fui estapeada pelo xerife e estou dormindo na casa dos inimigos. Não me importo, realmente. Por isso, entro na bagunça que é o quarto de Carson sem nem pedir licença.

― Primeira regra Rowan: não entre no quarto de ninguém sem ser convidada!

― Primeiro: eu achei que os Rowan não tivessem regras. E segundo: você me chamou aqui, Carson!

― Estou brincando! ― Ele sorri, abrindo espaço entre seu videogame e alguns discos no chão. ― Tinha que ver a sua expressão. Mas não sei se seria legal você estar no quarto de Seth sem ele por perto.

Carson aponta uma porta em frente a dele e mexo os ombros. Não sou uma entrona, de qualquer forma. E estar com os Rowan é temporário. Tenho certeza de que meu pai, Jonathan Wilder, vai se arrepender de tudo e me buscar. Afinal, ele tem sido o meu pai por dezessete anos. Isso criou algum tipo de amor entre nós, mesmo que primitivo e rude.

Volto a minha atenção ao quarto de Carson. O cheiro intenso de tabaco se mistura ao seu perfume impregnado nas dezenas de peças de roupas jogadas pelo chão de linóleo. Gosto das luzes de led em tons de azul profundo instaladas embaixo da mesa acoplada em uma das paredes. Ilumina seu painel de madeira e seu calendário de hóquei em cima da escrivaninha desorganizada. Por mais incrível que pareça, há diversas datas riscadas em todos os meses do resto do ano, indicando algum evento esportivo dos Ice Cage.

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