Capítulo 21

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A vídeo conferência não demora muito para começar, logo três empresários adeptos da língua italiana aprecem nas telas e começam a fazer propostas e a me fazer enxergar de uma vez o quanto isso é cansativo. Meu pai é o primeiro a responder, provando que seu italiano consegue ser melhor do que a fala de um próprio nativo.
Richard Grayson é imbatível.
Anthony insere algumas cláusulas nas pausas de nosso pai, se auto colocando na conversa e jogando todo o seu charme para dar uma boa impressão. De fato, esses dois juntos fazem um bom estrago aos bolsos desses caras atrás das telas, mas eu preciso fazer algo antes que algum deles questione minha posição. Começo a olhar novamente as pastas com o último balanço semestral do ano, de acordo com esses gráficos a empresa ganhou mais do que o previsto em cima de prédios que normalmente estavam quase indo ao chão. Eu nunca pensei que diria isso, mas Anthony fez um ótimo trabalho em comprar e demolir prédios aos pedaços na cidade de Roma para construirmos um novo edifício com o custo no chão, já que a propriedade estava desvalorizada por conta da contrução em péssimas condições.
- Potremmo continuare da dove Anthony ha lasciato, la società ha molto di più da guadagnare se smettiamo di acquistare solo terreni e iniziamo a concentrarci su edifici sottovalutati. ( Poderíamos continuar de onde Anthony parou, a empresa tem muito a ganhar se pararmos de comprar apenas terrenos e começarmos a focar em edifícios subvalorizados ) - expresso minha opinião, chamando a atenção dos homens nas telas e encarando meu pai. - Se continuiamo in questo modo, avremmo presto più posti da costruire e potremmo vendere gli edifici fino al doppio del prezzo attuale senza nemmeno spendere la metà di tutto ciò da costruire. ( Se continuarmos assim, em breve teremos mais locais para construir e poderemos vender os prédios até o dobro do preço atual, sem gastar nem metade de tudo para construir ).
- La strategia funziona signori, l'ho provata mentre ero in Italia e ora posso provarla con l'aiuto della mia famiglia. Prendi le offerte e lascia il resto a noi. (A estratégia funciona senhores, tentei enquanto estava na Itália e agora posso tentar com a ajuda da minha família. Só consigam os acordos e deixem o resto conosco.) - a fã de Anthony impulsiona a minha e o sorriso de nosso pai fica visível.
- Ti contatteremo a breve. ( Entraremos em contato em breve).
Com essa resposta curta e sem graça eles encerram a reunião, deixando a porra da dúvida na minha cabeça. Me dou a permissão de afrouxar o nó da gravata, encostando as costas na cadeira e respirando fundo mais uma vez.
- vocês me surpreenderam garotos, são ótimos nisso. - o elogio do meu pai bem mais como um xingamento.
A última coisa que eu quero é ser bom em algo junto com Anthony, mas se isso é o que vai me fazer ser dono da minha vida um dia, que seja.
- deveriam deixar de tentar matar um ao outro a cada segundo e começarem a trabalhar juntos, vocês são bons e tenho certeza que renderiam mais assim. Não tive dois filhos para serem inimigos e uma hora vocês vão se cansar desse jogo maldito de gato e rato.
Eu e Anthony apenas noa encaramos, opiniões divergentes brotando em nossas mentes. Coço minha nuca, pensando que meu pai pode ser muito convincente quando quer.
- bom, já que você mostrou um ótimo domínio de um assunto que aprendeu a poucos minutos atrás deixarei mais algumas pastas como essa na sua sala Andrew.
- Eu não tenho uma sala ! - digo rápido.
- bom, agora você tem. Vai passar um tempo considerável aqui dentro e eu não gosto de dividir minha vista, sua sala fica ao lado da do seu irmão caso precise de ajuda.
Agora fodeu de vez.
Me levanto, indo em direção aos enormes janelões de vidro e enfiando as mãos no bolso da calça. A cidade inteira fica visível, tudo parece ser tão pequeno daqui de cima ...
Tão passageiro.
O céu está límpido, sem nuvens e eu não sei se há algum vento.
Eu realmente queria ir embora daqui.
- é uma bela vista não ? - a voz de Anthony não soa divertida, ele parece sério diante o que nosso pai disse.
- para quem gosta de ficar trancado nessa sala o dia todo. - digo sem tirar olhos da paisagem, observando alguns pássaros voando na direção norte. - até que serve distrair a cabeça.
- é chato de ver como você sente a falta dela. - me viro para ele, o encarando friamente enquanto ele se senta na ponta da mesa. - diria que é até angustiante ver vocês dois sofrendo por algo tão ... Fútil.
- ela tomou sua decisão, não posso fazer mais nada agora.
- vai mesmo deixar o caminho aberto pirralho ? Eu esperava mais de você.
- não vou conversar sobre isso com você Anthony.
- hum, como quiser. Só não lamente quando ela estiver na cama de outro.
Travo minha mandíbula, fechando os punhos por dentro do bolso e fracassando ao tentar evitar o sorriso falso.
- isso não vai acontecer.
- como pode ter tanta certeza ? Pretendentes não faltam para preencher o seu lugar.
- você não entenderia, nunca amou ninguém e eu duvido que queria realmente saber.
Antes que ele possa dizer algo eu me viro, caminhando com passos firmes até a saída. Meu odiado irmão sabe como recolher informações para usar ao seu favor e não serei eu a entregar o jogo, não mesmo.

" "

Me sento na beirada da piscina, a água molhando minha pele até o joelho enquanto eu continuo subindo o tecido da calça do terno.
Essa merda tinha que ser tão apertada ?
Desisto do feito e deixo alguma parte do pano molhar, secando as mãos na camisa branca e esticando o braço para apanhar o celular novo que comprei no caminho para casa. Tudo já está sincronizado, os contatos, a agenda, as músicas .... As fotos e as mensagens. Fecho os olhos, segurando o celular firme em minhas mãos ao escutar o barulho do vento chacoalhar as folhas das palmeiras no fundo do meu quintal.

Nós ainda tínhamos tantas coisas a fazer.

Foi tudo tão rápido quanto tempo em que estive no hospital, tempo no qual eu duvido que meu pai tenha deixado alguém fora da família saber. Ah, não seria a primeira vez que ele esconderia algo assim para evitar escândalos. Tudo para preservar o nome que sujei mais de uma vez com essa história de envolver bebida e direção, próprias palavras dele. O celular toca, me fazendo abrir os olhos para encarar a tela recém comprada e me arrepender instantemente quando vejo o nome de Anthony. Apanho o aparelho rápido, atendendo no terceiro toque.
- o que você quer ?
- já te disseram que receptivo é o seu nome do meio ?
- diga de uma vez Anthony.
- ah, okay. Preciso que você venha até a Dionysus ver uma coisa, melhor ainda, buscar uma coisa. - suspiro lentamente, não tendo o mínimo de interesse em sair de casa pelo resto da noite.
- não sei se ir até aí buscar uma garrafa de whisky me será útil.
- quem disse que é whisky ? Olha, pare de ser idiota e venha logo antes que alguém ponha as mãos nela, e eu nem estou falando de mim. - a música alta tocando ao fundo não me surpreende, é claro que depois de um dia desses ele está aproveitando.
- nela ?
- se eu dizer quem é acaba a graça fratellino (irmãozinho), só venha logo, não consigo evitar a merda por muito tempo.
Assim ele desliga, me deixando mais irritado do que nunca. Me levanto rápido, largando o paletó ali e correndo com os sapatos nas mãos para sair de dentro de casa e entrar dentro do carro.
A Dionysius não fica muito longe, o que me faz percorrer apenas quinze minutos de carro para chegar até ela. A faixada escura com o nome gravado em um dourado extremo logo chama minha atenção, claro que não mais do que o tamanho da fila para entrar na casa noturna.
Porra Anthony, vai amanhecer o dia e eu estarei nessa maldita fila.
Deixo o carro próximo a um prédio vizinho, olhando em volta para ter certeza de que eu voltarei e ele ainda estará aqui. Me coloco para fora do Mercedes e jogo a chave no bolso da calça, caminhando a passos largos até a entrada. Um dos seguranças logo percebe minha aproximação, esticando os braços para apanhar um tablet das mãos do outro.
- Andrew Grayson. - digo ao chegar perto o suficiente para que ele me ouça sem ser interrompido pelos gritos dos outros na fila.
Não demora muito para que minha entrada seja liberada, passo as mãos pelos meus cabelos e continuo andando por um tipo de corredor. O jardim bem iluminado é separado por algumas barras de um material dourado, a estátua de Dionísio no centro dele é o que me deixa mais intrigado.
As portas duplas são abertas, a visão do local é simplesmente muito louca. A enorme e larga pista de dança está recheada de pessoas, palcos pequenoas e redondos com mulheres dançando em barras de ferro, os camarotes monocromáticos de cores metálicas sendo extremamente chamativos, um bar com uma enorme diversidade de bebidas.
Esse lugar é incrível.
A música alta controla o ritmo das luzes coloridas, o clima psicodélico é basicamente uma chama para quem quer se queimar até o sol nascer.
- chegou rápido até. - a voz dele chega ao meus ouvidos rápida e alta.
- como conseguiu que me liberassem lá na frente ? - pergunto de cara.
- minha boate, minhas regras. - na mesma hora minhas sobrancelhas ficam arqueadas.
- sua boate ? - pergunto descrente.
Quando ele teve tempo para abrir uma boate ?
- minha boate caro Andrew.
- me chamou aqui só para mostrar sua nova aquisição ?
- não, não foi só para isso. - ele se coloca a minha frente, se escorando no balcão do bar. - vá para o centro da pista de dança e a pegue, acho que quem veio com ela se esqueceu de a manter na linha.
Respiro fundo, olhando no fundo de seus olhos uma última vez antes de virar os pés para ir até o local que me foi indicado. O fluxo de pessoas é espantoso, a maneira como mexem seus corpos é surreal, o caminho é feito com um pouco de dificuldade, as mãos que passam em meu peito a cada passo dado deixam de importar quando as mexas ruivas aparecem em meio aos corpos suados.

Mia ...

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