Capítulo 24

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Assim que passamos pela porta da sala de física Brandon me sinto mais aliviado por saber que aqui fora o senhor Pierce não irá nos interromper.
- quando sua mãe volta de viagem ? - pergunto enquanto o acompanho pelo corredor até nossos armários.
- daqui a alguns dias.
- vai contar a ela o que seu pai está fazendo ? - giro o cadeado, colocando a senha e o destrancando.
- ela já deve saber Andrew, tem câmeras na casa inteira e eu duvido que minha mãe não tenha acesso a elas pelo celular.
- e então, o que acha que ela vai fazer quando voltar ?
- provavelmente vão se trancar no escritório e tentar resolver isso de uma forma que eu não entendo, nem sei se algum dia vou entender.
Olho rapidamente para meu amigo antes de enfiar a mão esquerda no armário e retirar meus livros de história e literatura.
Matérias tediosas e necessárias.
- o velho Martin está esperançoso quanto ao próximo jogo. - tento mudar de assunto, sabendo que Brandon pode não deixar claro mas está totalmente chateado com a situação de seus pais.
- pelo menos alguém está animado com isso, os caras estão sentindo muita pressão por conta dos olheiros.
- é, isso deveria ter ficado em sigilo até o jogo acabar mas já que não está o jeito é fazer o que sabemos de melhor : ganhar. - a breve risada dele me faz sorrir.
- você é muito convencido cara.
- eu ? Haha. - abro o zíper da mochila, enfiando os livros em meio aos cadernos.
- não me venha dizer que não, porque você é muito convencido cara.
- se eu concordar a gente pode ir para sala logo ? - jogo a mochila nas costas.
- claro. - esse desgraçado está louco para ouvir isso a anos.
- eu até posso ser convencido.
- não era bem com essa palavras que eu queria ouvir. - ele ri baixo, jogando os livros debaixo do braço.
- aí você já está querendo demais, vamos logo.
Lhe dou um soco de leve no braço, o puxando para o final do corredor para subirmos a escada. Pego no corrimão, me apoiando um pouco na hora de virar para rir das gracinhas de Brandon, que quase caiu ao tropeçar no primeiro degrau da escada. Ergo os olhos, logo ganhando uma expressão neutra quando encontro Mia parada a alguns degraus na minha frente. Os cabelos presos em um rabo de cavalo desajeitado no tipo do cabeça, os olhos tão cansados.
Alguém não teve uma boa noite de sono.
Não sei quantas pessoas passaram por nós reclamando de estarmos parados no caminho, mas que se foda toda essa gente chata.
Só olhar para ela já faz meu coração palpitar.
- oi ruiva. - digo antes de molhar os lábios, a boca ficando seca do nada.
- oi Andrew. - seu tom parece melancólico, o que me deixa já em aperta.
- você está bem ? - aproximo minha mão da dela, tocando a ponta dos dedos.
Gelados ...
Ela suspira, desviando o olhar rápido do chão para finalmente me olhar nos olhos.
- estou.
Mentira.
Sorrio fraco, engolindo a vontade de perguntar o porquê dela estar mentindo na cara dura mas se a memória não me é falha... Ela não me deve explicações.
- é... Eu vou indo.
- bom, eu também vou. - e assim ela termina de subir os degraus, sumindo da minha vista em poucos segundos.
Trinco o maxilar, subindo a escada com o desgosto de não poder sabe do que esta acontecendo e de muito menos poder fazer algo para ajudar. Brandon apenas me segue calado, notando meu incomodo após a " conversa " que tive com Mia.
- aconteceu algo entre vocês dois ? - ele pergunta enquanto nós aproximamos da porta da sala de história.
- é uma longa história que acabou do jeito que eu imaginava.
- e que seria ? 
- ela provou que ainda me ama e que sente minha falta mas ... Tem algo que está a impedindo de voltar para mim.
- será Anthony tem alguma haver com isso ? - empurro a porta, entrando na sala e evitando se olhar na direção da ruiva.
- não, é algo bem pior.
- pior ?
- eu acho que sim, mas não vou forçar ela a me dizer.
Vamos dizer que eu entendi o que significa dar espaço a uma pessoa.
Mesmo que eu não queria ficar longe...

Eu juro que estou prestes a arrancar os olhos desse canalha se ele novamente ousar olhar com segundas intenções para ela.
Eu poderia quebrar seus óculos em seu rosto, ver o sangue escorrer de seu nariz e ainda sim não ficaria satisfeito.
- senhorita Collins, poderia me fazer um favor ? Entregue esses trabalhos corrigidos a turma.
O desconforto da Mia fica evidente assim que Smith termina de falar, o jeito com que ela ajusta os óculos mostra claramente que seus pensamentos estão rodando em volta do " por que eu ? ".
- deixa que eu entrego. - me levanto depressa, cruzando os braços ao ser encarado por ele.
- mas eu não pedi a você senhor Grayson.
- não importa, se o senhor não tem coragem de se levantar daí e entrar os trabalhos você mesmo não tente forçar Mia a fazer isso, eu faço.
Sem esperar que ele responda eu caminho até a mesa de madeira, pegando as folhas com raiva e começando a entregar, deixando as em cima das mesas de cada um. Ao chegar perto da ruiva apenas sou mais gentil na hora de entregar, esperando que ela pegue a folha para sair e continuar minha tarefa.
Eu realmente não gosto de história.
Os sorrisos das garotas se tornaram comuns depois que a aliança de prata não está mais em meu dedo, principalmente daquelas que sempre deixaram bem claro suas intenções comigo. Apenas olho sério, não dando a mínima para todos os olhares que me são lançados.
Eu só queria ir para casa.
Me sento na cadeira com meu trabalho nas mãos, um grande oito e meio está riscado no canto da folha, a nota não é ruim, mas com certeza meu pai irá me encher o saco se encontrar essa folha. O celular vibra em meu bolso, apanho o aparelho e o vejo que recebi uma mensagem de um número ainda não salvo nos contatos.

Obrigada por entregar os trabalhos.
Estou te devendo uma ...

Olho para o lado, vendo a ruiva digitar com calma em seu celular. Encho as bochechas de ar, as esvaziando antes de começar a digitar.

Está tudo bem, esse cara é babaca.
Andrew.

Salvo seu número, não lembrando por que eu não o adicionei antes... Eu devo ter esquecido em meio a tudo isso.

É, isso é verdade.
Mas obrigada do mesmo jeito.
Ruiva 💔.

Relaxa ruiva...
Andrew.

Devolvo o celular para o bolso, apoiando os cotovelos sobre a mesa estralando os dedos das mãos.
Acho que preciso malhar um pouco.

" "

A visão da cidade é reconfortante, ver todas as luzes acesas me faz lembrar que já faz horas que estou enfiado nesse prédio depois de um treino pesado para o jogo de sexta. Duas videoconferências com os italianos foram necessárias para concluirmos um projeto de meses de negociação, digamos que a Grayson Corporation vai lucrar milhões esse ano sem fazer muito esforço.
Isso com certeza paga o carro e me deixa livre da dívida com meu pai.
As luzes da sala estão no modo noturno, a iluminação é fraca para apreciarmos a sensação de estarmos inertes em nossos próprios pensamentos. O terno preto em meu corpo está quente, não quente o suficiente para me fazer suar mas quanto o suficiente para conseguir me deixar irritado.
Eu odeio esse tipo de roupa.
O barulho da porta sendo aberta não me faz virar para ver quem está querendo me incomodar depois de um dia desses, simplesmente me mantenho parado, olhando pelo reflexo da janela Anthony se aproximar.
- você fica estranho de terno, parece um daqueles caras que querem impressionar o sogro no primeiro encontro.
- você também fica e eu não falei nada. O que quer ?
- você me deve uma. - rolo os olhos, desabotoando o paletó ao me virar para ele.
- é, e você não demorou para me cobrar dessa vez. Eu repito, o que quer ?
- Eu ainda não sei o que quero, mas acredito que não vou demorar a descobrir.
- e você veio até aqui só para me encher o saco ? - tiro as abotoaduras da camisa, as jogando dentro dos bolsos do paletó. .
- não, vim te falar que papai está tão animado com nosso progresso hoje que me pediu para convencer você a começar a cumprir seu contrato mais cedo.
- logo você quem ele mandou perguntar isso ? Que ridículo.
- fazer o que. - ele encara as unhas das mãos, fingindo desinteresse. - mas o que me diz ? Preciso de uma resposta logo.
- tem algum compromisso ? - pergunto com receio, esperando que ele não vá encontrar Mia.
- não é da sua conta.
- uma informação pela resposta.
- eu odeio o fato de você usar minhas frases contra mim.
- pena.
- sim, eu tenho um compromisso agora me responda de  uma vez droga !
- diga que eu aceito se for ganhar o mesmo que você.
- okay. - Anthony faz cara de poucos amigos, se virando para deixar a sala.- ah, mais uma coisa.
- porra, o que foi ?
- Mia está com problemas, fale com aquele amigo loiro dela e veja o que está acontecendo.
- acha que eu não percebi isso ?
- dane se isso, só descubra logo e trate de resolver antes que a garota faça alguma merda. 
Eu literalmente não entendo esse desgraçado !!!

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