Collins

Capítulo 26

Benjamin Collins parece ser um homem mal de longe, os olhos tão penetrantes e gelados observam a vizinhança como se o mesmo não reconhece mais o local. Chloe Parker apenas ajeita o sobretudo em seu corpo, jogando os cabelos loiros para trás enquanto o senhor Collins continua irritado e os olhando como se a qualquer momento fosse atear fogo nos dois. O casal parece não se importar muito com o que o general aposentado insiste em gritar.
Mas por que eles resolveram voltar depois de treze anos de abandono ?
Seguindo essa minha de raciocínio levanto meu olhar, voltando a encarar a janela do quarto da ruiva sentindo o peito apertar ao ver a mesma chorar nos braços do amigo. Sam a aperta como se a própria vida dependesse disso.
Literalmente, a volta deles não pode significar algo bom !
Aperto mais os dedos na madeira, odiando pensar que Mia está lá sendo mais uma vez vítima das atitudes impensadas dos pais e eu estou aqui, sem poder fazer nada para ajudar. Solto o batente da janela, caminhando a passos duros até a escrivaninha e pegando o celular em cima dela, os dedos tremendo sobre a tela de vidro. A mensagem não vai sair tão bem escrita, mas acho que dá para entender.

Preciso que você me explique o que está acontecendo, já vi que o problema é grave.
Por favor, me ligue assim que der. Não gostei do que vi através da minha janela.
Andrew.

Sei que esse é o pior momento para enviar uma mensagem ao Sam, mas ele é o único que pode me explicar toda essa merda. Tenho certeza de que Mia será a última pessoa a ter forças para me contar isso...
Não demora muito para que eles se dirijam ao carro que eu julguei desconhecido, abrindo a porta do veículo tão escuro quanto suas almas e saindo para fora da propriedade.
Eles vão voltar de novo ... E dessa vez com as armas que precisam para silenciar o senhor Collins !
Coço a nuca, o sangue gelado por finalmente perceber que a minha visita no hospital fez o efeito desejado e que Mia acreditou em mim, acreditou ao ponto de ter deixando que eu amasse seu corpo na segunda feira a noite.
A quanto tempo os fantasmas do passado dela voltaram ?
Perguntas e mais perguntas confundem toda a minha linha de pensamento, a cabeça doendo por não conseguir raciocinar direito por conta da neblina densa em minha mente.
Eu preciso de respostas !!!
Respostar que adoraria ter o mais rápido possível... Mas pode não ser tão fácil assim.
Horas já se passaram e eu ainda não tive um retorno de Sam, o loiro não deixou a casa da frente por um minuto sequer e isso está começando a me deixar maluco. Fecho os olhos, aproveitando que estou sozinho na sala para tentar diminuir a dor de cabeça.
Eu odeio não saber das coisas.
- problemas no paraíso fratellino ( irmãozinho ) ?
Sério que ele tinha que chegar agora ??
Abro os olhos, subindo o olhar de forma preguiçosa até Anthony e seu sorriso debochado.
- nossa ! O que foi isso na sua testa ? Se meteu em alguma briga ? Se quiser podemos juntos arrebentar a cara do idiota !! Estou precisando de um pouco adrenalina no sangue. 
- foi um acidente no treino, nada de brigas. - como assim ele se ofereceu para bater em alguém comigo ?
- Ah, bateu o carro de novo ?
- sério isso ? - o encaro incrédulo.
Ele não tem mais nada para perguntar ?
Anthony apenas me observa, os olhos azuis rolando antes de se sentar e deixar a jaqueta de couro sobre as pernas.
- sabe quem eram o cara barbudo e a loira gostosa que saíram da casa da ruiva ? - a pergunta me deixa um pouco inseguro, se eu contar ele pode ir correndo fazer o que eu devia : consolar Mia.
- os pais dela. - digo sério, uma pontada de dor aparecendo do lado esquerdo da minha cabeça.
O cerrar de seus olhos não transmitem nada além de estranheza, os segundos que se passam junto com seu silêncio é inquietante. Pisco os olhos devagar, absorvendo cada partícula de força que ainda me resta para tentar afastar a dor.
- achei que os pais dela estavam longe daqui. - e pela primeira vez na vida Anthony está com a voz baixa.
Ele parece preocupado com isso também.
- é, eu também achei.
- sabe o que eles querem ? - sua expressão fica séria de repente. - nunca ouvi Mia falando de seus pais e duvido que ela faça isso por falta de assunto.
- eu não sei o que eles querem Anthony, mas não estão aqui a passeio.
Ele se encosta no sofá, a camisa branca um pouco amarrotada...
- não sei o que você está pensando agora, mas isso com certeza está acima de nós.
- não estará mais se eles a machucarem ...
- não os conhecemos, não sabemos nada deles.
- sei quem pode dar um jeito nisso Andrew, eu já te disse uma vez antes de ir embora para não subestimar o poder que conquistamos.

O dossiê está em minhas mãos, o livro grosso dever ter mais de setenta páginas incluindo fotos. O poder aquisitivo de Richard Grayson é maior do que eu pensava e a prova disso está aqui. Em menos de duas horas as informações que nunca pensei em ter estão encadernadas em uma capa escura e lisa.
- eu não sei o que tem aí dentro, mas não fique surpreso com o que ler. Existem pessoas ruins Andrew, e os pais da ruiva estão um patamar acima.
Engulo seco, o ar pesado adentrando o quarto assim que Anthony sai do mesmo com uma cópia do dossiê.
Um patamar acima da ruindade...
Respiro fundo, abrindo o livro com um certo receio. Todas as páginas contém fotos e papéis comprometedores, transações econômicas fora dos trâmites legais e muitas, mas muitas coisas erradas. O nome de Chloe Parker aparece em muitas das páginas, ser associada com empresários, políticos e mafiosos que ese livraram de acusações absurdas a deixou famosa.

O geólogo e a advogada mais importes do mundo.

Foi assim que meu pai se referiu a eles durante o primeiro jantar de Mia nessa casa. O status não veio a toa, ela pode até não ser a melhor do mundo, mas foi de extrema importância para que muitas pessoas cruéis não fossem presas pelo resto de suas vidas. A cada página foleada um pedaço do passado horrível dos Collins é revelado, me deixando incrivelmente aliviado por esses babacas não terem criado Mia em meio a essa vida que eles levam.
Ainda estou na metade, não sei que horas são mas a escuridão lá fora pode significar que já se passou das duas da manhã. Todas as fotos que encontrei de Mia enquanto era bebê até seus cinco anos estão jogadas sobre meu colchão, o sorriso dela era tão puro quanto é agora. Não são muitas, cerca de dez fotos de uma garotinha ruiva que parecia feliz com os pais.
Feliz até certo ponto ...
Quando a ruiva tinha cinco anos os pais receberam a proposta de trabalhar ao redor do mundo, viajando e ganhando rios de dinheiro em troca de uma vida agitada atrás de petróleo e diamantes de sangue.
Espera ...
Diamantes de sangue ?

Porra ...

Tráfico de diamantes de sangue na Karowe, em Bostwana.

Puta merda ...

A vida de Benjamim e Chloe é ainda pior do que Mia imagina, muito pior.

Mas por que agora eles decidiram voltar ?
O casal tem uma fortuna escondida em diversos bancos
Nunca sequer foram indiciados ou envolvidos legalmente no esquema criminoso na Bostwana.
Eles tem milhares de casas espalhadas ao redor do mundo.

Que porra eles querem depois de tantos anos ?

Continuo lendo, me espantando em saber tanta coisa podre de quem eu nunca pensei que iria conhecer. Tanta coisa podre que Mia nem imagina que seus pais foram capazes de fazer.
Mia não sabe o favor que os pais fizeram em a deixar com o avô.

" "

Os feixes de luz em meu rosto me fazem amaldiçoar a hora em que esqueci de fechar as cortinas, meus olhos mal conseguem se abrir com a claridade. Tento me levantar, encostando a palma da mãos em algo duro.
O dossiê.
Viro para o lado, deixando o sol bater em minhas costas e conseguindo abrir os olhos sem ser ferido pela luz clara. As fotos e algumas páginas ainda estão sobre minha cama, algumas caídas no chão e outras jogadas sobre minha escrivaninha. A porta é aberta do nada, Susan passa por ela rapidamente e quando seus olhos encontram a bagunça ela leva uma das mãos até o peito.
- meu Deus Andy, o que aconteceu aqui ?
- estava lendo algumas coisas e acabei sendo desleixado com a arrumação, não precisa se preocupar, vou deixar tudo no lugar antes de ir para a escola. - digo ainda um pouco sonolento, esticando os braços.
- tudo bem. - seus olhos vagam pelas fotos, confusos. - aonde conseguiu isso ?
- não fui eu, Anthony arrumou isso.
- eu nem vou perguntar como.
- é, eu também não perguntei. - tiro os cabelos da testa, sacudindo a cabeça para dispensar o sono.
- ande, se arrume. A senhora Grayson está te esperando para tomar café.
Aceno positivamente com a cabeça, observando quando ela deixa o quarto.
As fotos ...
As páginas arrancadas ...
Tantas coisas ruins ...

Eu vou proteger a Mia.
Só não esperava que fosse dos próprios pais...