Capítulo 31

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Respiro fundo mais uma vez, cansado de ler e reler as anotações que Charlotte me mandou por e-mail sobre a pauta da próxima reunião.
Sério que até nos sábados ela não vai me dar uma folga ?
O lado bom de tudo isso é que o arquivo não passa de cinco páginas, compensando que eu já estou na penúltimo logo meu tormento terá fim.
- lavoro sabato marmocchio? ( Trabalhando aos sábados pirralho ?)
- infelizmente a secretária que vocês contrataram não entende que eu não trabalho nos finais de semana.  - me viro na cadeira, cruzando os braços em cima do peito para o encarar.
- ah, você não pode a culpar Andrew,  a garota é praticamente movida a trabalho.
- mas eu não sou, então, seria legal se ela me deixasse fora dos assuntos da empresa nesses dois únicos dias em que não preciso estar preso dentro daquele prédio. - Anthony faz um cara de tédio, os olhos azuis visivelmente sonolentos.
- a Dionysius está tirando o seu sono ?
- aquele lugar é o meu paraíso, deveria ir até lá mais vezes... Vai ver que nem sempre as coisas que repudiamos são ruins.
- isso soou com um duplo sentindo para mim. - penso alto, sabendo que Anthony pode estar citando a si mesmo na frase.
Estaria ele amolecendo e finalmente deixando de ser tão babaca ?
Provavelmente, não !
- entenda como quiser, eu vou dar o fora e aproveitar a noite. Deveria fazer o mesmo e parar de dar uma de dramático.
E assim ele me deixa ali, novamente sozinho com meus papéis.
Meus ?
Ainda é estranho para mim saber que as coisas são diferentes do que eu pensava, atingir objetivos que não estivam em meus planos nunca me pareceu tão instigante e cansativo ao mesmo tempo. Mas quando se consegue descansar sabendo que Mia está sofrendo com a proximidade tóxica dos pais ? Quando vou conseguir me livrar dessas dores de cabeça ocasionadas pelas informações daquele dossiê que mal consegui digerir ?
Hum, está aí algumas das questões que tiram o meu sono.
- Andy. - e pela primeira vez em dias ouço a voz da minha mãe.
Volto a me virar em direção a porta, encontrando minha mãe com uma caixa média nas mãos.
- isso chegou para você ontem a noite.
- eu não fiz nenhuma encomenda. - digo confuso, deixando a cadeira para ir até ela e pegar o embrulho.
- tinha um carimbo da escola no documento que tive que assinar.
Coloco a caixa em cima da cama, rompendo o lacre com a ponta dos dedos e abrindo a mesma. Em meio a bolas de isopor está uma pasta grossa preta, pequenas linhas douradas fazem os detalhes espalhados pelo tecido negro. Estico a mão para pegá-la, sentindo o toque da camurça e das linhas estranhas.
- acho que é o seu álbum do baile Andy. - não me viro para olhar em seu rosto, mantando os olhos focados no tal álbum que eu não tinha noção de que existia.
- eu não pedi álbum nenhum mãe. - o retiro da caixa, percebendo que meu nome está gravado na capa em letras finas.
- mas alguém pediu, caso contrário isso não teria chegado aqui.
Assim ela se vai, o barulho dos seus saltos entregando sua saída tão repentina quanto a entrada. Mordo a ponta da minha língua, os dedos se movendo para que eu finalmente veja o conteúdo desse álbum.
Eu realmente não esperava por essa ... 
São tantas fotos, tantos ângulos diferentes, algumas que nem eu mesmo pensei que poderiam ser fotografadas. Momentos nossos que foram flagrados pelo fotógrafo curioso e esperto.
- acho que eu já sei quem pediu.
Devolvo o álbum a caixa, suspirando pesado ao fechar a tampa e me sentar ao lado da mesma. Se eu pudesse saber o que está acontecendo naquela casa, só uma informação ...
O celular toca, me arrancando brutalmente de toda a minha linha de pensamento.
Saco !
Apanho o aparelho, fechando os olhos para atender.

- alô ?
- hey Andrew, sou eu, Sam. - não, é Madonna.
- o que você quer ?
- nossa, que mau humor em.
- Sam, só ... Fala de uma vez.
- ahn, okay. - ele faz uma pausa, parecendo repensar todas as palavras que precisa me dizer. - hoje de manhã eu fui ver como a minha morango estava e não gostei do que encontrei, parece que os pais dela estão se apossando da casa.
- como assim ?
- antes de entrar no quarto dela eu vi algumas malas no quarto de hóspedes, acho que estão se mudando.
- o senhor Collins não deixaria. - ele não permitiria que rolasse toda essa maldita falsidade.
- Andrew, a essa altura do campeonato o vovô não pode fazer muita coisa.

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