Capítulo 34

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Eu odeio domingos com toda a minha alma, antes talvez eu não tivesse todo esse ódio desse dia por estar ocupado em festas ... Mas quando se está sem ânimo até mesmo para levantar da cama, tudo fica bem mais fácil de se ter raiva. Estico as pernas, deixando com que meus membros inferiores fiquem mais relaxados.
Mordo meu lábio, apertando fortemente a camisa do Bob esponja em minhas mãos, o tecido de algodão macio contra minha pele.
Pelo menos ele ainda tem o cheiro dela...
Com os olhos fechados respiro fundo, o perfume de lavanda entrando em meus pulmões e me trazendo lembranças ... Lembranças dolorosas. Afasto a camisa do rosto, deixando meus braços caírem ao lado de corpo e abrindo os olhos para enfim encarar minha realidade. Sozinho em meu quarto em pleno dia de sol cheirando a camisa da minha ex namorada... É Andrew, os últimos dias foram fodidamente ruins.
Deslizo o lençol escuro pelo corpo, vendo logo de cara algumas marcas da luta da madrugada com Anthony. O abdômen vermelho é um claro sinal de que ambos nos machucamos naquela tentativa de tirar nossas frustrações do peito, mas claramente não funcionou. Tudo bem, eu consegui dormir depois mas as coisas são mais complicadas do que parecem.
A cortina blackout impede que os raios solares invadam meu quarto, o celular toca escondido por baixo do meu travesseiro me fazendo obrigar meu braço esquerdo a se manifestar para apanhar o aparelho.

- alô ?
- enfiado em casa em pleno domingo Grayson ? Isso eu realmente não esperava de você. - a voz de Kevin se torna extremamente irritantes com tom de deboche.
- e eu não esperava que você ainda tivesse o meu telefone, mas já que tem só me diga o que quer de uma vez. - sinto minha cabeça latejar.
- estou recebendo umas pessoas em casa para uma pequena reunião e queria que você viesse, aproveitar o sol e pegar umas gatas.
- não sei se é uma boa idéia, não estou afim de aguentar esse tipo de bajulação.
- ah Grayson, não finja que você não gosta de ser o centro das atenções. Agora pegue esse seu traseiro branco e o traga até a minha piscina. - ele suspira, parecendo meio constrangido por algo. - eu sei que você está meio mal por conta da ruiva, mas não pare a sua vida por causa de uma garota. Eu e os caras estamos dispostos a te ajudar, fora que está cheio de gatinhas aqui. Por favor cara, venha nem que seja para encher a cara de cerveja.
- se eu for você vai parar de falar besteira ?
- já parei.

Encerro a ligação, com uma leve impressão de que essa " reunião " pode ter vindo em uma boa hora, deixar minha cabeça longe da ruiva pode ser bom para a minha sanidade mental. Deixo a camisa sobre a cama, me levantando pela primeira vez no dia e indo até o banheiro.
Só um banho gelado pode me acordar direito.

" "

Retiro a chave da ignição do carro e saio do mesmo, encarando por trás do óculos escuro um grupo de pessoas entrando na casa de Kevin. O imóvel claro tem uma entrada digna de uma capa de revista, coisa que parece meio demais pra mim. A música está em um volume absurdo, tanto que até mesmo antes de abrir a porta o som já chega aos meus ouvidos. Empurro a porta, vendo que a " reunião " só foi um pretexto para me arrastar a uma puta festa. Rolo os olhos, engolindo seco ao notar que mais pessoas pararam para me olhar do que eu imaginava. Okay, eu não queria tanta atenção ...
- bem vindo Andrew ! - o grito vem das escadas, o que me faz tirar os óculos e olhar para cima.
Kevin está lá, agarrado a uma loira alta descendo o espiral para chegar até mim.
- só uma reunião não é ? - digo irônico, pendurando o óculos na abertura da camisa.
- se eu tivesse falado que era uma festa você não teria vindo. - ele sorri, a loira se agarrando ao corpo dele antes de me analisar dos pés a cabeça.
- claro que teria.
- não, o Andrew antes da ruiva teria mas o Andrew depois da ruiva ficaria jogado na cama pensando em tudo o que aconteceu e enchendo a cabeça de problemas.
- ok, chega de falação e me mostra aonde estão as cervejas.
- na cozinha cara, fica a vontade. Mi casa es tu casa. ( Minha casa é sua casa ).
Saio de perto dele, constrangido por ter sido alvo do olhar da loira sobre mim. A casa realmente está cheia, garotas de biquíni correm pelos corredores com garrafas e copos nas mãos como crianças brincando de pega. Rio baixo, não acreditando que estou no meio dessa zona mais uma vez ...
Qual foi a última festa em que fui solteiro ?
Acho que o dia em que soquei Gabe Kenner nunca será esquecido, mas o dia em que beijei Mia pela primeira vez com certeza vai ser lembrado pelo resto da minha vida.
Puts ! De novo ela !
Balanço a cabeça, tentando remover esses pensamentos da minha cabeça antes de novamente ficar desanimado. Encontro a cerveja em cima da bancada da cozinha, os pequenos barris com torneiras cercados de garrafas e caixas de suco. Estico o braço para pegar um dos copos, mexendo suavemente os ombros em resposta a música. Passo a mão no cabelo antes de encher o objeto vermelho com o líquido fermentado.
- oiê. - a voz feminina atrai meu olhar antes de eu retirar o copo debaixo da torneira.
A garota de cabelos acobreados está sentada na ponta da bancada, o corpo coberto por um biquíni preto e um short jeans claro. A pele bronzeada dela chama mais atenção do que os olhos escuros e a boca carnuda.
- oi. - levo meu copo até a boca, tomando um gole generoso da bebida.
Isso consegue ser fraco ao ponto de ser deprimente.
- sugiro que você não tome muito dessa cerveja, ouvi dizer que ela não cai muito bem depois de algumas horas. - ela joga os cabelos para trás, não que tenha tido muita dificuldade em tirar os fios curtos do rosto.
- sugiro que isso está dizendo isso por experiência própria. - estreito os olhos, me perguntando o que essa garota tem em mente.
Ela ri, uma risada suave e calma. Até parece mesmo que está achando graça do que eu disse.
A quanto tempo eu não faço ninguém rir ?
- pode se dizer que sim, mas mantenha isso apenas entre nós dois.
- como quiser. - descarto o copo, despejando o líquido na pia.
Volto a encarar a bancada, escolhendo uma bebida que, dessa vez, me deixe um pouco mais perto do estado " foda se ".
- que tal um Martini ?
- não sei fazer um. - admito sem vergonha alguma.
- eu faço para você.
Ela pula da bancada, vindo para perto de mim e apanhando uma taça sobre o mármore branco.
- quer me dizer seu nome ? Não acho que seja plausível começarmos uma conversa sem nos apresentarmos.
- Andrew Grayson. - digo, observando ela ir até a geladeira e pegar uma azeitona em conserva.
- prazer Andrew, eu sou Ollivia Russel. - Ollivia sorri, jogando uma azeitona dentro da vodka.
Kevin Russel, puts, eles são parentes.
- Russel ? Você é parente do Kevin ?
- sim, sou prima dele.
Apenas sinto minhas sobrancelhas se movimentarem para cima, os olhos dela dificilmente deixam os meus.
- aqui está Andrew, seu Martini a Ollivia.
Pego a taça de sua mão, não conseguindo segurar a risada ao notar sua frase com malícia.
- você faz Martins para todos os caras que conhece ? - pergunto, desafiando esse sorriso diabólico que ela traz em seus lábios.
- não. - Ollivia inclina a cabeça para o lado, parecendo ter a resposta na ponta da língua. - só os caras interessantes ganham um Martini.
Mordo minha bochecha internamente, sem saber o que responder para essa garota audaciosa.
- vou aceitar isso como um elogio.
- você Andrew, pode aceitar isso como quiser.
Ela molha os lábios com a ponta da língua antes de sair da cozinha.
Essa garota é louca !
Aprecio minha bebida enquanto um casal de beija freneticamente na porta, esperando que eles se cansem um do outro e me dêem passagem para ir até a piscina.
- hey gatinho.
Paraliso no mesmo instante em que reconheço a voz daquela diaba, largando a taça de vidro na pia.
- foi divertido para você me drogar e depois me largar para morrer ? - a raiva não consegue ficar escondida na minha fala.
E eu não quero que ela fique !
Ver o rosto dela dessa vez não me deixa dúvidas de que eu estava delirando na outra noite, os traços são totalmente diferentes do rosto angelical da minha ruiva, sendo mais marcantes e maduros.
- não exagere gatinho, não havia nenhum indício de que o carro poderia explodir, seu sistema de segurança funcionou muito bem. - a forma com que ela trata um acidente é despreocupada, como se não ligasse nem ao menos para o que poderia acontecer a nós dois caso a batida tivesse gravado meu sistema de segurança.
Me aproximo devagar dela, vendo sua expressão mudar a cada passo que dou. Os olhos escuros dela não passam mais divertimento, não passam mais a ironia. Eles apenas apresentam um pouco de medo.
- nunca mais se aproxime de mim, você me criou grandes problemas que eu acho até melhor sair daqui antes que alguém descubra o que fez.
- você não pode fazer nada comigo. - ela diz convencida, jogando as mechas em um vermelho gritante para trás.
- eu não, mas a polícia pode. - ela franzi o cenho. - você drogou um adolescente de dezessete anos, acha mesmo que a lei não vai ser dura com você e com seu rostinho bonito.
Bingo !
Aí está a expressão que eu desejo ver em seu rosto desde que acordei naquele hospital. Enfio a mão devagar no bolso traseiro do short dela, apanhando sua carteira de identidade e a trazendo para mim.
- você vai sair daqui, vai sumir da minha frente e nunca mais pisar os pés no mesmo lugar que eu. Entendido ?  - olho para a carteira, lendo seu nome em voz alta. - Beatrice Anne Ross.

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