Capítulo 36

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A dor latejante em minha cabeça se adiantou ao meu despertador, as sombras dentro do quarto não me assustam tanto quanto a idéia de ter deixado meu celular ligado. O barulho de mensagens chegando uma atrás da outra é incrivelmente irritante. Abro os olhos, esticando um dos braços preguiçosamente para apanhar o aparelho.

Andrew !!
Samuel.

Porra Andrew, que merda aconteceu ontem ?
Samuel.

Andrew !! Eu acabei de receber fotos de você com uma garota em uma festa !
Samuel.

Que ?
Fotos ?
Que merda isso daria ?
Não aconteceu nada !
Coco os olhos, bocejando em seguida.
Eu deveria me preocupar com isso ?
Aperto em ligar, mas logo me arrependo.

- Andrew ! Por Deus, me fala que porra de fotos são essas ? - a voz dele consegue ser tão estressada pela manhã.
- Sam, eu nem sei do que você está falando.
- alguém me mandou fotos de você e uma garota na festa do Kevin ontem.
- ainda não encontrei um motivo para você estar todo histérico.
- Grayson, eu recebi isso da Mia.

Molho meus lábios com a língua, respirando fundo para forçar meu cérebro a entender a situação.
Meu raciocínio não funciona muito bem depois de beber.

- e o que você quer que eu diga ? - sussurro, colocando as mãos na testa.
- Andrew. - o tom de voz dele ameniza. - sei que a morango terminou definitivamente com você por conta dos problemas dentro da casa dela.
- e ?
- mas você tem noção do quanto isso pode ter a machucado ?
- noção do quanto isso a machucou Sam ? Sério isso ?! Sam, entenda uma coisa : foi ela quem terminou comigo e você, melhor do que ninguém, sabe o quanto eu tentei fazê-la ficar. Então por favor, sem esse negócio de me culpar por cada lágrima que ela derruba.

Eu já estou machucado o suficiente para você se importar !!

Encerro a ligação, desligando o celular em seguida para talvez, só talvez, ter alguma noção do que acabei de ouvir. Cubro o rosto com as mãos, me virando de costas para o colchão e respirando fundo até sentir minhas vértebras dorsais se estralando. Com os olhos fechados com força paro para pensar em quem poderia ter tirados as fotos de Ollivia em meu colo e mandado para a ruiva, se bem que com um pouco de imaginação não fica difícil relacionar Raven a tudo isso.
Essa garota não desiste !
Sinto meus batimentos cardíacos se alterarem, ficarem cada vez mais pulsantes e raivosos. Uma leve eletricidade percorre meus nervos ao lembrar do quão próximo eu estava de dar adeus ao bom senso. A saliva desce amarga pela minha garganta, imaginar Mia vendo as fotos assim que acordar é algo preocupante. Sim, eu ainda me preocupo com ela e duvido que isso vá mudar ! Sam deixou bem claro que a mesma havia mandando as fotos para ele mas não me disse o porquê. Provavelmente a ruiva queria que o amigo confirmasse algo, talvez que, dissesse a ela que eu havia a superado e voltando a minha antiga vida. Mas consequentemente com a resposta que dei a Sam sei que o mesmo terá sua própria interpretação dos fatos, só não sei se ele saberá como responder a amiga sem danificar mais ainda seus sentimentos.
E mais uma vez eu sou o culpado por isso ?
Eu peguei Ollivia no colo para ser gentil com uma garota bêbada e a deixar sentada em algum lugar que não fosse meu colo, com certeza quem tirou aquelas fotos - que eu nem sequer vi ainda - estava de olho em mim a mais tempo do que eu poderia perceber.
Jogo os braços para as laterais do corpo, um calafrio correndo toda a extensão da minha pele anuncia que meu tempo de paz pode ter chegado ao fim. E eu acho que chegou, o barulho da campainha tocando é um pleno sinal disso. Me levanto sem ao menos me preocupar em colocar uma camisa ou calçar os chinelos, andando pela casa lentamente para atender a porta e descobrir quem veio até aqui para tirar o pouco do fôlego que ainda me resta. As portas do elevador se abrem e Brandon aparece com sua típica cara de que as notícias não são boas.
- se veio até aqui para me falar das fotos eu já sei, Sam me mandou mensagens até eu acordar.
- não vim aqui te dizer nada sobre a Mia, vim perguntar se você está bem Andrew.
Me sento em uma das banquetas perto da copa da cozinha, encarando o chão enquanto meu amigo se senta de frente para mim.
- sei que você se culpa por muita coisa que não faz sentido.
- da onde você tirou isso ? - pergunto fazendo bico, sei que ele odeia que eu me faça de desentendido.
- para cima de mim não Andrew, é sério. - ela deixa a chave do carro sobre a madeira. - quem era a garota das fotos ?
- Ollivia.
- e vocês ficaram ?
- não que ela não quisesse e eu também, mas eu não fiquei com ela.
- mas você queria ? - suas sobrancelhas franzidas chega a ser engraçado.
- queria, mas o problema é não conseguir tirar a ruiva da cabeça. Não é a minha intenção transar com uma garota pensando em outra. - me pego olhando para minhas mãos. - eu ainda amo a Mia, amo tanto que chego a me odiar por não conseguir pensar em mim por um momento. Ela me deixou mais de uma vez, disse coisas que me magoaram mais de uma vez e mesmo assim eu continuo aqui, apaixonado por ela.
- sinto muito se Sam disse algo desnecessário na ligação, eu sei o quanto ele pode enxergar apenas o que quer quando se trata da Mia.
- relaxa com isso, não é a primeira vez que isso acontece e duvido que será a última.
- você vai para a escola hoje ? - a mudança de assunto repentina só mostra que ele conseguiu o que queria.
Me fazer dizer o quanto me incomodo com a falta de atitudes simples por parte daqueles que me rodeiam.
- vou sim.
- okay, vai tomar um banho e eu vou ver o que tem na geladeira. Estou morrendo de fome.
- quando você não está com fome cara ?
- quando eu estou comendo.
- idiota. - rio baixo, descendo da banqueta e caminhando de volta até meu quarto.

Os corredores da Jacksonville High School nunca me pareceram tão sufocantes, os olhares fulminantes sempre foram algo que faziam a  " coroa invisível "  em minha cabeça pesar mais do que deveria.
Mas quem colocou ela aqui ?
Coloco as mãos nos bolsos, andando calmamente até chegar na sala de história da arte e pintura. O senhor Scott apenas me encara rapidamente, retirando os óculos do rosto e voltando a ler algo em seu caderno antes que o sinal toque. Em alguma segundos já estou sentado na última carteira do canto da sala, aproveitando o vazio do fundo que quase ninguém, pelo menos nessa aula, ocupa. Retiro o caderno da mochila, notando dolorosamente o momento em que Mia passa pela porta com seus belo rosto um pouco mais sem cor do que de costume. Os cabelos presos em uma trança lateral e uma blusa de manga comprida cobrindo os braços.
Em pleno dia de sol quente.
Estreito os olhos, observando cada detalhe dela. Sentindo vontade de tocar seus lábios e finalmente demostrar minha saudade.

Ela terminou tudo Grayson, aceite.

Mia se senta em seu típico lugar, perto da mesa do senhor Scott mas longe o suficiente para que ele não note sua tristeza. Até porquê é incômodo para ela que quase qualquer pessoa possa saber o que está acontecendo apenas por olhar no fundo dos seus olhos. O sinal toca, causando um leve despertar em mim.
Eu não deveria olhar tanto para ela.
Não deveria deixá-la incomodada com meu olhar queimando suas costas.
- bom turma, sei que muitos de vocês estão curiosos sobre o destino das telas depois da exposição. - ele larga o caderno sobre a mesa, se levantando para se encostar no quadro negro. - após muitas reuniões e conversas demoradas, a direção do colégio decidiu entregar as telas a vocês.
- e se eu não quiser a minha de volta ?- digo alto, atraído olhares para mim.
- eu perguntaria o motivo se não o conhecesse senhor Grayson, mas o senhor não é obrigado a aceitar seu trabalho de volta.
Apenas aceno com a cabeça, não escutando uma palavra do que ele segue falando pelos próximos segundos em que ia olhos dela pairaram sobre mim.

Vermelhos como se estivesse sentida com algo.

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