Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico)

Remate

“ Você diz que me ama, e então me deixa de joelhos
Despedaçado
Perdendo a fé (...)

Jogos malvados e eu sou sua vítima
Se você não me ama, por que você não me deixa livre?
Então, por que você pegou meu coração? Meu coração(...)

Deixe ir
Deixe ir
Para o desconhecido
Deixe ir
E só Deus sabe
Que eu não vou te deixar ir(...)

Luzes da costa e eu posso nos levar para casa
Mas eu não vou (...)”

— Di... Mi... Tri, é tu?! — Talita questiona assim que vê a figura trevosa materializada com os olhos castanhos perdidos por um cômodo iluminado por velas brancas grossas, cujo lençóis da mesma cor voam de cá para lá.

— Você falhou Talita — dispara decepcionado — A conexão não foi completada. Beatrice deveria ter morrido pelas suas mãos... — agora apenas a voz do Espírito ecooa pelo ar.

— Eu sinto muito...  - ela pede vacilante pela emoção tentando enxergá-lo na penumbra - Eu me lembro vagamente das minhas ações... Só me recordo de ver a Ane e sentir uma pontada aguda no peito esquerdo... Sofri um infarto? Irei desencarnar ou já desencarnei?!

— Foi a Ane quem a matou num momento de desespero. Porém, não é sua hora ainda... Sinto te desapontar. Compreende por que deve ficar longe dela?

A vaqueira abaixa a cabeça fitando seus pés descalços. E ciente da projeção astral, arfa. Ela olha para trás e no fundo tosco vê seu corpo de carne travado na cama, à espera do desenlace definitivo. Fita a claridade. De seu órgão indispensável escorre um sangue vívido, que mancha sua vestimenta acinzentada.

— O que há comigo? Não consigo respirar... Faz essa dor parar... - implora caindo agachada com a mão segurando o pescoço.

— Não sou eu o responsável. O coração da Ane sangra de dor, de medo, de culpa, e você absorve cada sensação inconscientemente. Vocês estão ligadas por esse sentimento que as une além do tempo... Você deve se sacrificar verdadeiramente, Talita. Deve fazer sua escolha crucial: Ane ou a tarefa que nos foi incumbida!

— Eu a amo... Não posso deixá-la. Se está sofrendo devo ficar e...

— Se escolher Ane você desencarna essa noite - Dimitri a interrompe severo - Não vou poder mais te ajudar... Nem você à mim... E nossa missão será repassada para quem estiver apto a concluí-la.

— E se eu escolher a missão...

— Os mestres superiores nos selarão a fusão.

— Como?!

— Seu dom... Ele é mais poderoso do que imaginei... Ainda não se perguntou por que ainda vive mesmo com uma fratura que deveria ter sido fatal?

— Está dizendo que eu posso me curar?! - indaga perplexa.

— Sim. Entretanto, para isso, os mentores do plano maior terão que realizar um passe de transgressão em seu chackra coronário e ativar sua memória de autocura. Sabe o que isso significa? Um poder inimaginável em nossas mãos...!

— Uma responsabilidade a mais...

— Exatamente... A decisão está em suas mãos, vaqueira... Em suas mãos...

— Eu escolho... — o perispírito de Talita é puxado de volta ao envoltório corporal.

Qualquer vidente poderia ver um grupo de almas iluminadas se posicionarem em torno do corpo desfalecido de Talita, vestindo  túnicas azuis celestiais, donde em suas mãos rojam luzes esplêndidas, que variam entre as cores do arco-íris.