Capitulo 7- O desabafo

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   Chegámos lá a cima um pouco depois das 18 e a minha respiração estava descompassada, acho que nunca tinha andado tanto na minha vida. O pior é que o Nathan decidiu ir por um atalho que ele afirma que só ele sabe sobre aquele caminho e assim estaríamos mais à vontade para conversar, mas valeu a pena, eu estou a muitos poucos metros do letreiro de Hollywood! Nunca pensei que isso fosse acontecer.

   -Senta-te miúda, afinal este passeio tinha um propósito, mas antes de saberes o que se passou ontem, tenho de te contar algumas coisas sobre mim para perceberes.

   Wow não estava à espera disto, não pensei que fosse assim tão grave...

   - Nathan, não te sintas pressionado a sério, não te quero obrigar a contar nada...

   - Não a sério eu preciso de contar isto a alguém, só o Travis é que sabe o que se passou e eu estou a confiar em ti.

   - Sim claro, podes confiar...

   Ainda estou um bocado surpreendida, porque raio é que ele vai contar a história da sua vida a uma rapariga que conheceu há 3 dias? Enfim decido não ligar, ele é que sabe...

   - Quando eu tinha cerca de 8 anos, o meu pai normalmente chegava muito tarde a casa, nunca me perguntei porquê, eu admirava-o como pessoa, ele era advogado e eu estava sempre a gabar-me disso aos meus amigos. Eu notava que a minha mãe andava mais cansada do que ultimamente, ela era enfermeira mas nunca a tinha visto assim. Uma noite, eu estava no quarto com a minha irmã que na altura tinha 6 anos e a minha mãe pensava que nós estávamos a dormir, nunca tínhamos mentido para ela mas naquele dia apeteceu-nos deitar mais tarde. Eu e a minha irmã sempre fomos muito próximos, eu sempre tive a necessidade de lhe proteger de tudo e de todos. Naquela noite, ouvi o meu pai a chegar a casa e comecei a ouvir gritos, era definitivamente a voz da minha mãe, decidi ser rebelde e desci as escadas para ver o que se passava, nessa altura a minha irmã já estava a dormir. Quando cheguei à sala deparei-me com o meu pai a bater na minha mãe, não tive reação, a minha mãe estava com o rosto vermelho, ela tinha estado a chorar, quando o meu pai parou e se virou, reparou em mim. Ele estava com uma cara que eu nunca tinha visto, os olhos dele estavam injetados, ele sorria para mim como se o que eu tinha acabado de assistir fosse a melhor coisa do mundo. A minha mãe mandou-me para o quarto e disse que estava tudo bem. Eu sabia que não estava, a pessoa que eu mais admirava no mundo estava a bater na minha mãe e acima de tudo na sua esposa. Aquela noite foi terrível, perguntei- me a mim mesmo se aquilo já acontecia há muito tempo, não dormi, era impossível tirar aquela imagem da minha cabeça, cada vez que fechava os olhos via aquele monstro a bater-lhe. No dia seguinte a policia veio até a nossa casa, prenderam-no, a minha irmã tinha conseguido ligar para a polícia e relatar o que tinha visto na noite anterior, sim ela não estava a dormir e decidiu seguir-me. A minha mãe disse-nos que nunca o tinha denunciado porque pensava que era apenas uma fase e ia passar, mas depois ele começou a ameaçá-la a dizer que nos ia levar para longe dela e isso era o que ela menos queria. O seu marido e pai dos seus filhos era o seu pior pesadelo, não consigo imaginar a dor que ela sentia, quem me dera puder ter feito alguma coisa para impedir aquilo mas eu não sabia, arrependo-me disso todos os dias da minha vida. Tanto eu como a minha irmã não nos conseguimos esquecer de tudo o que aconteceu. - ele parou de falar.

   Eu estava em choque, não sabia o que dizer ou fazer, ele já estava com lágrimas nos olhos, deve ser muito difícil de revelar isto para alguém. Faço a única coisa que tenho mente e abraço-o com toda a força que tenho.
   - Lamento muito que tenhas passado por isso a sério, tu não merecias, tinhas 8 anos e eras um miúdo indefeso que ainda não tinha bem a noção das coisas, não te podes culpar pelo que aconteceu Nathan.

    -Tu não percebes Sammy, não foste tu que passaste por isto, enfim a pior parte já passou, mas ontem... Eu recebi um telefonema. Passado 10 anos o meu pai saiu da prisão, não sei como, mas eu fiquei extremamente abalado. Eu só conseguia pensar em tudo o que aconteceu há 10 anos... Tu não sabes mas... A minha mãe quando o meu pai foi preso estava a ficar sem dinheiro, ela não ganhava muito como enfermeira e o meu pai é que nos  suportava. A minha mãe sempre sonhou em abrir um restaurante então eu decidi fazer isso por ela, queria fazê-la feliz e ela chorou quando eu lhe contei. O que eu ganhava com o restaurante dava para pagar parte das despesas e eu ficava muito feliz. O Travis ajudou-me em muitas fases difíceis da minha vida e nunca me julgou, tu podes pensar que eu sou daqueles mulherengos, mas não, eu tenho medo de me tornar igual ao meu pai e nunca namorei...

   Fiquei sem palavras outra vez, ele passou por muito mesmo.

   - Eu sinceramente não sei o que dizer, tens de ficar calmo, o teu pai se calhar aprendeu a lição e não vai voltar a tocar nem que seja com um dedo na tua mãe... Achei a ideia do restaurante incrível, tu amas mesmo a tua mãe e dá para perceber isso, quanto a não teres tido nenhum relacionamento, acho que devias confiar em ti próprio, será que tu te vais tornar no teu pai? Nathan, se fores tu próprio isso nunca irá acontecer, tu não és o teu pai, tu nunca te tornarias no teu pior pesadelo, pensa nisso ok?

   - Obrigado Sammy, a sério, és uma grande amiga.

   Abraço-lhe outra vez, neste momento é o que ele mais precisa e eu estou disposta a fazê-lo. Fico a pensar se lhe deveria contar acerca do meu passado ou não e depois de muita coragem digo:

   - No dia a seguir ao meu 5° aniversário, acordei e os meus pais não estavam em casa, procurei pela casa toda e achei estranho, eles estavam sempre em casa quando eu acordava e naquele dia não. Quando fui ver na cozinha, vi a minha avó a chorar e quando me viu tentou disfarçar mas eu sabia que algo se passava. Ela disse me que eles tinham de fazer uma viagem de negócios importante e não conseguiram despedir-se de mim. Claro que eu acreditei, passaram-se meses e anos e eu fui perdendo a esperança. Quando tinha 12 anos, cheguei da escola e encontrei uma carta em cima da minha secretária, era uma carta dos meus pais para a minha avó, li-a com muita atenção, nunca me vou esquecer das suas palavras a dizer que eu era um peso muito grande na vida deles e eles não conseguiriam suportar-me... Nunca cheguei a entender, eles eram ricos, tinham tudo o que uma pessoa sempre sonhou ter e abandonaram-me. Será que eu não era boa o suficiente? Faço esta pergunta todos os dias a mim mesma. Desde aí vivo com a minha avó, ela tratou de mim sempre, a minha melhor amiga Vicky também me ajudou imenso a perceber que eu não precisava dos meus pais para viver porque a minha avó era tudo o que eu precisava, e depois ela achou melhor que eu viesse para aqui viver, então eu vim...

   - Não fazia ideia que tinhas um passado difícil, parece que estamos os dois no mesmo barco. - ele diz para tentar amenizar a situação arrancando-me um sorriso - Se precisares de alguém para falar podes falar comigo está bem?

   - Digo o mesmo... Está tarde e tens de ir trabalhar, é melhor irmos andando...

   
    Chegamos ao restaurante e ele diz :

    - Obrigado pelo dia.

    - Sempre às ordens!

    - Até quinta Sam.

    Sam? Nunca me tinham chamado isto, decidi aproveitar-me da situação.

    - Até quinta Nate.

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Música do capítulo dedicada a uma das pessoas que mais me tem apoiado, sofiacarvalho27💛



NathanOnde histórias criam vida. Descubra agora