Capítulo 32

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Eles estavam de bruços, escutando o silêncio. Absolutamente sozinhos. Ninguém os observava.Ninguém mais estava ali. Nem tinham absoluta certeza de que eles próprios estivessem ali.

Muito tempo depois, ou talvez tempo algum, ocorreu a Lucida que deviam existir, deviam ser mais do que pensamento incorpóreo, porque estavam deitados, decididamente deitados, sobre alguma superfície.

Portanto, possuíam tato, e a coisa sobre a qual deitavam também existia. Quase no instante em que chegou a esta conclusão, Lucida tomou consciência de que suas roupas se tornaram um belo vestido branco, limpíssimo. Ao olhar ao redor, descobriu estavam deitados em meio a uma névoa brilhante, embora não se parecesse com névoa alguma que Lucida já tivesse visto. O espaço que os rodeava não estava toldado, pelo contrário, a névoa vaporosa ainda não se formara ao redor deles. O chão em que estavam  deitados parecia ser branco, nem quente nem frio, existia apenas, algo plano, vazio sobre o qual estar.

Ela se sentou e Harry também. Seus corpos pareciam ilesos. Lucida apalpou o rosto. Não estava mais usando óculos.  Ela encarou Harry, o garoto também não estava mais de óculos e suas roupas estavam limpas e brancas, assim como o vestido de Lucida. Ela esticou a mão e aproximou do braço de Harry, e o besliscou.

– Aí! Por que fez isso? – perguntou o garoto passando a mão no local em que Lucida havia beliscado

– Não é óbvio? Nós não estamos sonhando – Disse a garota arregalando os olhos

– Oque não seria possível por que estamos no mesmo lugar e falando um com o outro

– Será que já estamos no inferno?

– Por que estaríamos no inferno? – perguntou Harry erguendo as sobrancelhas

– Você eu não sei, mas eu fui muito má. Lembra quando estávamos dormindo n'A Toca, e aquele gnomo usou sua escova de dentes para tomar banho? – Harry assentiu – Eu dei a escova para ele.

– Você oque? Eu achando que havia sido Fred e Jorge!

– Em parte eles também estavam envolvidos.

Então, do nada informe que a névoa os cercava, chegou-lhe aos ouvidos um barulho: as batidinhas suaves de algo que adejava, se açoitava e se debatia. Era um barulho que inspirava piedade, mas também era ligeiramente obsceno. Lucida teve a desconfortável sensação de que estava bisbilhotando alguma coisa furtiva, vergonhosa. Pela primeira vez, desejou ter um casaco.

– Queria ter um casaco – mumurou

Mal acabara de formular mentalmente esse desejo, apareceram dois casacos a uma pequena distância.

– Será que é seguro? – perguntou Harry olhando para os casacos

– Já estamos mortos mesmo – Disse Lucida dando de ombros

Apanharam os casacos e vestiram: eram macios, limpos e quentes. Era extraordinário como tinham aparecido, instantaneamente, no momento em que os desejara...

Estariam em alguma ampla Sala Precisa? Quanto mais olhava, mais havia para ver. Um enorme domo de vidro faiscava ao sol, lá no alto. Talvez fosse um palácio. Tudo era imóvel e silencioso, exceto por aquelas estranhas lamúrias e pancadas surdas que vinham dali perto em meio à névoa...

Lucida se virou lentamente no mesmo lugar, e o ambiente pareceu se reinventar diante de seus olhos. Um grande vão, claro e limpo, um salão muito maior do que o Salão Principal com aquele teto abobadado de vidro. Vazio. Ela e Harry eram as únicas pessoas ali, exceto por...

– Ali – Disse Lucida

Encolheram-se. Localizara a coisa que estava produzindo os ruídos. Tinha as forma de uma criancinhas nua, enroscada no chão, a pele em carne viva e grossa, parecendo açoitada, e tremia embaixo de uma cadeira onde fora deixada, indesejável, posta fora de vista, tentando respirar.

 ↢sℓyτнєriท Ϟ Harry Potter↣ 『4』Onde histórias criam vida. Descubra agora