Capítulo 51

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Danyelle acordou na manhã de sábado, ouvindo o som de água corrente vindo do banheiro, assim como a voz de Vítor, que cantarolava uma música da Banda Engenheiros do Havaí. Ela permaneceu quieta, de olhos fechados, escutando, deitada de lado, abraçando o travesseiro com o seu perfume impregnado no tecido da fronha. Não é que ele canta bem! - pensou sorrindo e passou a mão na barriga nua embaixo do cobertor, lembrando que tinha um pedacinho do amor deles crescendo ali.
A noite tinha sido maravilhosa. Vítor a amou com ternura, cheio de cuidados bobos e o amor que fizeram os levou a se desmancharem em um êxtase diferente, anunciando assim, uma nova fase da vida deles.
Ela levantou, passando a mão num kimono curto de seda azul escuro, que se encontrava jogado na guarda da poltrona. O vestiu e chegando de mansinho pela porta entre aberta do banheiro, prendeu a respiração e uma onda de excitação percorreu seu corpo quando o viu nu, parado ao lado da banheira, jogando algumas gotas de uma essência, sobre a espuma convidativa, que chegava a borda da banheira. Ele herdara o porte atlético do pai. Augusto apesar da idade ainda era um homem bonito, que chamava atenção.
__ Psiu!- ela chamou em voz baixa para não assustá-lo. 
Vítor virou-se, sorrindo.
__ Oi. Estava terminando aqui, para te acordar. Mas já que apareceu...- ele largou o frasco e cantarolou o refrão da música baixinho.__" teus lábios são labirintos... que atraem os meus instintos mais sacanas..."- sem desviar os olhos dos dela, se aproximou e estendeu a mão para desfazer o laço do kimono.
__ Vem tomar banho. - convidou, a puxando para perto de si, já a despindo e a ajudando a entrar em meio a espuma perfumada.
Ele a acompanhou sentando-se a sua frente e Dany se acomodou melhor, atravessando-se sobre seu quadril. E entre beijos, abraços e afagos fizeram amor calmamente e aquela aventura, envolvida pelas águas cálidas e perfumadas da banheira deixava o momento ainda mais especial. Dany e Vítor estavam vivendo o amor que tanto sonharam enquanto estiveram separados.
E ainda no quarto, ao tempo em que se vestiam, conversaram e decidiram que ainda não era hora de contar sobre a gravidez, por cautela. Danyelle temia uma represália da parte de Celeste , o que Vítor compreendeu. Ela estaria só, pelo menos por uma semana e assim, ele ficaria mais tranquilo também.
Duas horas mais tarde, perto do meio dia, Vítor estava sentado na varanda, as crianças brincavam pelo espaço sob a atenção cheia de carinho do avô, que bebia seu chimarrão, quando Dany, que voltava da cozinha, avistou uma das Frontiers branca, entrar no portão, parando no estacionamento lateral e ao ver de quem se tratava os passageiros, seu coração se encheu de ansiedade. Mesmo sabendo que elas chegariam a qualquer momento, não tinha suficientemente conseguido preparar seu psicológico para aquele momento de reencontro. Não  parava de pensar no acontecimentos envolvendo Lizandra e Celeste e a  simples visão da mulher elegante caminhando com firmeza, em direção a eles na varanda a aterrorizava.
Priscila e ela subiram as escadas, sendo seguidas pelo peão do estábulo, que carregava as bagagens.
Acuada, Dany segurou Alice com força no colo e procurou abrigo junto ao corpo de Vítor, que passou o braço por cima de seus ombros.Os protestos da pequena Alice quebravam o silêncio, querendo se juntar ao irmão na roda de brinquedos no chão. Vítor, também o levantou nos braços.
Augusto se apressou para recebê-las e já foi repreendido pela voz da esposa.
___ Achei que ao menos, poderia ter nos esperado na pista de pouso, Augusto! Sabe que detesto andar nessas caminhonetes, que são de lida! - dizia enquanto oferecia a face para um beijo, o qual foi dado sem emoção.__Que indelicadeza de sua parte! Faz quase dois meses que estou fora e sou recebida assim, sem nenhum entusiasmo?
___ Desculpa, querida, - a voz do padrinho escondia bem seus sentimentos em relação a esposa.__ não achei que ficaria assim tão ofendida. - ele a beijou novamente, se voltando para a enteada.
__ Como vai, Priscila? - a voz continha um tom que Dany percebeu ser de pena, embora Augusto sempre tenha tido um carinho especial pela menina que criou.
Ela respondeu com uma humildade que Dany jamais sonhou que um dia pudesse presenciar vindo da parte de sua rival.
__ Estou bem, Augusto. Fazendo de tudo para me recuperar. Um dia de cada vez, é tudo o que preciso viver!
__Que bom, querida, fico feliz, que está sendo forte.
Danyelle correu os olhos pela figura magra de Priscila, impressionada com a aparência, que não lembrava em nada a exuberante, linda e sensual moça que ela vira pela última vez no seu aniversário.Estava muito diferente também das fotos das redes sociais e das últimas, quando se deitou ao lado do noivo, em Brasília. A face esquálida, mostrava que não andava bem, talvez por causa de ter que se abster das drogas, que segundo conversas com Rute, não tinham ficado só na Cocaína.
Danyelle não pode deixar de sentir uma certa pena, embora seu senso de justiça falasse alto, pensando nas voltas que o mundo havia dado.
Há pouco menos de 3 anos, numa manhã, tinha deixado aquele lugar e as pessoas que amava para trás, porque ela, com seu jogo sujo, havia engravidado. Teve seu coração despedaçado naquela madrugada, e depois, tinha passado boa parte daquele tempo, amargando um sofrimento, achando que os dois eram felizes e que viviam o conto de fadas que tinha sonhado ao lado de Vítor. Mas agora, vendo Priscila daquele estado, não pode deixar de ser humana. Talvez, Priscila aprendesse alguma coisa. Rute sempre dizia que o sofrimento ensina a pessoa a ser melhor. Esperava de coração que ela aprendesse, principalmente por causa de Enzo, que merecia ter uma mãe presente.
Celeste então, desviou os olhos para o casal e sorriu fingida, parando na menininha no colo da mãe e depois, em seu enteado.
__ Como está, Vítor?Então essa é a sua filha, Danyelle? - encarou a afilhada de seu marido, com um sorriso cínico, se voltando para Vítor em seguida.__ Tenho que admitir que ela é uma belezinha.- elogiou e estendeu os braços para Enzo, mudando a voz para um tom meloso.
__ Querido da vovó...!! Deixa eu te dar um beijo, meu amor! - pediu com os braços para que Vítor lhe entregasse o menino; ele o fez.
Dany não esperava nada de Celeste, por isso não se surpreendeu em ser praticamente ignorada pela esposa do padrinho. Durante muito tempo, ela não existiu, não seria agora, dada as circunstâncias que Celeste a trataria como uma pessoa que fazia parte da família. Priscila se aproximou deles.
__ Como vai, Vítor?- se elevou para beijá-lo na face, para depois cumprimentar Danyelle.__ E você como está? - sorriu sem jeito, parando os olhos em Alice, por alguns instantes.__ Sua filha é linda! Uma mistura de vocês dois.
Danyelle não soube se naquelas palavras haviam alguma sinceridade, arrependimento ou vergonha, mas se fingia, estava fazendo muito bem. Por isso, preferiu não se deixar levar pela atitude de boa moça, que subitamente ela tinha adquirido. O seguro havia morrido de velho, o ditado martelou a mente.
 A resposta veio num tom formal, já que não conseguia achar outro jeito de se dirigir a Priscila depois de tudo.
__ Estou bem, Priscila, obrigada. E você?- indagou educada.
__ Repensando a vida, Danyelle. - declarou buscando a face de Vítor.
Com aquele gesto, Dany teve a certeza que ela ainda o queria. As fotografias dos dois na cama, vinham em flashs na sua mente, soando um alerta: ninguém muda da noite para o dia. Precisava ser cautelosa e esperta. Mãe e filha tinham interesses e não fizeram tudo, para que agora, esbarrassem nela e numa criança.
Alice, começou a se debater, querendo descer do colo,  e aquilo a trouxe de volta a realidade que se apresentava no momento. Danyelle viu uma ótima oportunidade para sair do recinto apressada.
Pediu licença, alegando que precisava ajeitar a filha para que almoçasse, e com a cabeça erguida, começou a andar em direção a sala, logo, entrando no corredor que levava aos dormitórios.Mal fechou a porta, tentando acalmar a filha e Vítor apareceu atrás.
Ela se virou assim que sentiu sua presença.
__ Viu como ela olhou para Alice?- os olhos de Dany traziam o medo.
Ele se aproximou, pegando a menina em seus braços, falando com carinho.
__ Combinamos que não seguraria mais peso, lembra?
Danyelle sentou na cama, erguendo a cabeça para encontrar seus olhos azuis acinzentados.
__ Alice não é pesada. Ademais, foi meu instinto protetor!- mordeu o lábio. __ Priscila não estava assim da última vez que a vi naquelas fotos.
Vítor soltou a pequena pelo quarto, se agachando a sua frente, segurando suas mãos.
___ Não. Ela tinha começado uma medicação nova, talvez, os efeitos colaterais explique sua aparência atual. O problema de Priscila é se deixar ser manipulada pela loucuras da mãe! Aquelas fotos comigo na cama, lá no apartamento....coisa da Celeste! Priscila embarca nessas ilusões que ainda pode me conquistar!
___ Ela ainda te ama! - concluiu.
___ Não ama Dany! Se me amasse ela não teria feito o que fez. Pôr uma criança no mundo daquela forma! Viu, que ela nem olhou para o filho?- ele levantou e deu alguns passos, passando a mão no rosto, semblante em amargura.
___ Ver como ela age com o menino me corta o coração!
___ Achei ela mais humilde... Quem sabe não está mudando...Não consigo pensar que uma mãe não ame seu filho. Algum motivo tem! Talvez, ela tenha tido depressão pós parto! Os medicamentos demoram a fazer efeito...   - Dany queria se agarrar a uma ponta de esperança, embora seu coração dissesse que não. Quem sabe uma desculpa, caso, algum dia Enzo quisesse saber o porque da rejeição da mãe.
___ Não, Priscila nunca aprendeu a amar ninguém. Ela me queria e tentou de tudo para que sua vontade fosse realizada. Amor não pode ser vendido em frascos ou comprimidos. Se ela me amasse, ela amaria Enzo, assim como você, que está disposta a cuidar dele por que simplesmente é meu filho.
A encarou com firmeza. 
___ Isso é amor, Danyelle! Amar o outro como a si mesmo. É assim que te vejo em relação a mim e acredite, sinto o mesmo por você. - se achegou pousando as mãos em seus ombros a puxando para perto. __ Não quero que se sinta insegura quanto ao meu amor. Aquelas fotos, nunca teriam acontecido se estivesse acordado.
Dany cingiu sua cintura, a presença de Celeste e de Priscila mexia com os nervos de todos dentro da casa. Até Alice, que era calma, havia demonstrado sinais que sentia isso. 

O almoço foi servido e a tensão tomou conta do ar, principalmente, quando Augusto indagou à Rute, que estava dispondo os pratos servidos na mesa, sobre a ausência de Lizandra.
__ Ela almoçou mais cedo, com as crianças e as meninas, na cozinha e saiu. 
Celeste parou com o copo no ar. Se fosse em outra ocasião ninguém analisaria seus trejeitos, mas Dany observou sua boca se transformar numa linha fina, antes de falar com surpresa na voz.
__ Lizandra também está aqui?
__ Sim, D. Celeste, ela veio me visitar. Está de férias do trabalho.
Celeste, balançou a cabeça com um sorriso sarcástico.
__ Os gatos saem e os ratos tomam contam da casa! Desde quando, a filha de Rute faz as refeiçoes com a família na mesma mesa, Augusto?
Rute engoliu o desaforo e os olhos de Dany passaram pelos de Vítor e pararam na amiga. Ela não fazia cerimônia para ofender e rebaixar as pessoas. Estava cada dia pior, pois agora, nem o padrinho estava respeitando. Teve vontade de jogar a jarra de suco na cara daquela assassina odiosa, mas se controlou, pois sentiu a mão de Vítor apertando a sua mão sobre a mesa. Priscila, parecia alheia a tensão do momento, obviamente, estava sob efeito da medicação.
Augusto voltou a cabeça para a esposa. Suas narinas se dilataram. 
__ Desde que me conheço por gente, que nesta mesa, a qual meu avô e depois, meu pai ocuparam lugar, as visitas, sejam elas quais forem, sempre sentaram-se com a família. Está ofendendo Rute, que nos tem servido com lealdade por muitos anos! A filha dela não faz parte do quadro de nossos empregados!
Celeste torceu a boca, num risinho debochado, ignorando o comentário do marido, olhando para Rute, ordenando.
__ Pode sair, Rute. - voltou seus olhos para Vítor.__ Então, me conte, como foi que decidiu largar a política?
Vítor interrompeu a refeição e descansou o garfo e a faca, na beira do prato, para encarar a madrasta.
__ Desde o dia em que reencontrei Danyelle! - disse intencionalmente para provocar-lhe.
__ Sem sombras de dúvida, acho que fez bem. - ela o desafiou.__ Não daria pra conciliar ser casado com uma dançarina de boate com a vida política... Logo seria desmascarado pela sua falta de moral, a qual foi o carro chefe de sua campanha! - pausou analisando se as palavras haviam atingido o alvo.__Desculpa, mas na internet...sabe, ficou impossível não morrer de vergonha. Nossos amigos e conhecidos, ligando para saberem da novidade... Um horror!
Celeste falava, enquanto cortava a carne no prato e parou levantando a cabeça para jogar seu veneno em Dany.
__Imagina, que até Francisco  Alighier veio me dizer que já havia cruzado com você, Danyelle, numa noite qualquer?! Você soube Augusto, o que sua pupila fazia em São Paulo para sobreviver?
Danyelle respirou fundo.Sabia que seria atacada, mas não com tanta força . 
Augusto largou o guardanapo com força sobre a toalha.
__ Que assunto mais desagradável, Celeste! Vítor me contou tudo e eu o apoiei. Se não está feliz na política, não sou eu que vou obrigá-lo. Basta os meus erros! - deixou escapar, mas calou-se em seguida.
Vítor riu, sarcástico. Usar o mesmo cinismo com a madrasta, mostraria que não estavam abalados com a tentativa de qualificar Danyelle como uma vadia. 
__ Como vê, quem expôs a vida de Dany não logrou muito êxito na empreitada. Quando decidi assumi-la como minha noiva, sabia muito bem das consequências! Não sou nenhum adolescente! Sei que nada, Celeste, mas nada, fica encoberto nesse mundo!Todos nós temos manchas em nossas vidas, acredito eu, que ninguém é perfeito. 
Dany se mexeu na cadeira, lembrando de Flávio e de todos os seus conselhos durante as terapias. Estava na hora de calar a boca daquela mulher. Se manifestou.
__ "Apesar de", estou aqui, sentada na mesma mesa que você, Celeste! E quer goste ou não, Vítor e eu nos casaremos em breve e é bom já ir se acostumando com minha presença novamente dentro desta casa! Formaremos uma família e estou disposta a cuidar de Enzo, já que sabemos que Priscila está sem condições para isso.  - respirou, ganhando fôlego. __Talvez, queira contar, já que Enzo entrou no assunto, como você e sua filha armaram para pôr uma criança no mundo?
Celeste estreitou os olhos  bem maquiados. Parecia não se abalar. Iludia-se que Augusto acreditaria nela sempre, pois sabia como manipular os assuntos para que lhe favorecessem.
__ Não sei do que está falando. - limpou a boca, deixando uma mancha vermelha no guardanapo branco.__ Priscila e você, Vítor - parou no enteado.__ sempre dormiram juntos, não sejamos bobos e inocentes! Engravidou minha filha e a deixou com uma criança, sozinha, em Porto Alegre! Se Priscila esta nesse estado hoje, é somente por culpa sua!
Vítor se levantou, a voz grave ecoou no ambiente.
__ Chega, Celeste! Não vou permitir que ofenda Dany e que me chame de negligente! Assumi meu filho, não sua filha! Você a manipula ao seu bel interesse! Não me culpe, por Enzo ter nascido, sabemos bem como isso aconteceu! Não se faça de inocente, que esse papel não lhe cai bem!
Augusto interveio, vendo o quanto o filho havia se descontrolado.  Temeu que, por um rompante de raiva, pusesse tudo o que haviam planejado por água abaixo.
__ Chega! - falou com autoridade.__A discussão está encerrada! Todos erramos e está na hora de pensarmos no bem estar dessas crianças! Vítor e Danyelle se casarão com a  minha benção, assim como prometi ao seu pai na ocasião de sua morte e assim será! Priscila, precisa de apoio para se tratar. Enzo precisa dela. Vamos ver as coisas pelo lado bom. Enzo terá duas mães, uma eu sei que já o ama e a outra, precisa descobrir o amor da maternidade!
Nosso erro, Celeste, foi termos feito de tudo para que Vítor e Priscila ficassem juntos. Nossos incentivos para que casassem causaram tudo isso! Nosso erro foi fazer com que nossos sonhos se realizassem usando a vida dele!
Não tínhamos esse direito!!
Augusto bebeu um gole da água. Nitidamente, aquele assunto o estressava. Dany aconselhou, para o bem de todos e principalmente, para o bem do padrinho e sua saúde:
___ Vamos nos acalmar e aceitar as coisas como elas se desenham a partir de agora. O padrinho precisa de paz, não queremos que algo ruim aconteça com ele.
Priscila, levantou os olhos da toalha, parecia estar alienada, mas não foi isso o que se ouviu de sua boca.
__ Dany tem razão. Augusto sempre dedicou carinho a mim... e foi o único que não me julgou quando aconteceu aquela desgraça com Enzo. Aquele homem foi uma escolha minha, na vã tentativa de chamar a atenção de Vítor. Sou culpada pelo que ele tentou fazer ao meu filho. Nunca fui uma boa mãe, admito. Eu só queria dizer que preciso de um tempo... - seus olhos marejaram e pousaram no enteado de sua mãe. __Naquela noite, em Londres...eu usei de métodos nada convencionais para segurar o seu amor, Vítor! - uma lágrima caiu.__ Sou uma pessoa horrível! Não consigo amar meu filho..., não consegui que me você me amasse... Nem meu pai me amou! - olhou para Celeste.__ E nem você, mamãe! Agora, com as terapias, começo a enxergar algumas coisas óbvias!

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