I Want You To Stay | Rabia

Único: I Want You To Stay

"Que droga que eu vou fazer na casa do Diogo?!", olhou para o celular se sentindo perdida. Fitava pelo retorno da câmera aquela garota de cabelos castanhos esvoaçantes, boca provocantemente pintada de vermelho e olhos negros como a noite. Não se reconhecia. Mesmo a jaqueta de couro sobre sua blusa preta e a saia vermelha que já tanto usara. Ela sabia. Bianca sabia, de algum modo, que não deveria ter concordado com convite de Diogo. Mesmo com tanta insistência. Não se sentia amistosa o suficiente para curtir a noite naquela reunião de amigos. Mesmo assim, entrou no carro em direção a casa dele.

Dentro de si ainda lutava contra a vontade de ficar estagnada. Bianca ainda não estava preparada para seguir em frente. Sentia que a situação a faria mais mal do que bem. Mesmo assim, ignorando seus sentidos, avaliou que precisava daquilo para diluir sua dor. Ao finalmente resolver abraçar sua confusão interna, conseguiu sentir-se anestesiada o bastante para se dar uma chance sincera de se divertir.

Desceu do carro, agradecendo ao motorista. E lá estava ela, após ser confirmada na portaria, adentrando os portões do condomínio dele.  Caminhou vagarosamente até a residência mais iluminada da primeira quadra, podendo ouvir a vibração da música mesmo antes de entrar. "Agora não tem volta", pensou, tocando a campainha. Logo um estranho familiar, talvez colega de curso de Diogo, abriu a porta. Agradeceu e seguiu adiante.

Ao pisar gramado adentro, precisou piscar duas vezes para que acreditasse no que viu. Ainda não sabia se era uma surpresa positiva. No entanto, jamais, nem em um de seus sonhos mais insanos, estaria esperando por aquilo. Era ela.

Diretamente em frente a Bianca e do outro lado do jardim, estava a outra garota. Bianca não pôde deixar de fitar seus cabelos loiros escorregando por seus ombros livres que sustentavam apenas as alças de um vestido completamente azul. Estremeceu ao subir seu olhar, encarando os profundos olhos esverdeados de Rafaella. A expressão da outra indicava, a princípio, que também estava surpresa em encontrá-la ali.

No entanto, estranhamento da garota deu lugar a um sorriso extenso, como de quem abre a alma. A morena, por sua vez, sentiu seu estômago dar um giro completo até retornar ao eixo, para poder sorrir de volta. A outra abriu os lábios e pretendia dizer algo... mas as palavras não saíram. Tudo começou a ficar turvo... um borrão cinzento, quando Bianca a viu cerrar os lábios, interrompida pelo toque de mãos firmes em seus quadris. Mãos que vieram acompanhando um rapaz surgindo por trás de Rafaella.

Bianca sabia exatamente de quem se tratava, e não precisou nem olhá-lo para confirmar. Abaixou o olhar e seu corpo girou abruptamente em direção à parte interna da residência, isso numa velocidade apenas inferior com as quais suas pernas a levaram para dentro.

No caminho ainda conseguiu escutar alguém gritar seu nome, um tom grave e familiar que só poderia pertencer a Diogo, mas não olhou. Continuou sem olhar para trás, e, por isso, não pôde notar o tremer do queixo e os olhos baixos da loira com seu coração chorando em pedaços.

Bianca apenas continuou o caminho até, ofegante, chegar a um quarto e jogar-se no edredom da cama. Fez isso depois de atravessar a porta, fazendo-a bater violentamente. Puxou o acolchoado sobre suas pernas desnudas, levando-o ao seu joelho. Joelho que abraçou com o peito, fortemente, tentando conter as lágrimas que lhe atrapalhavam a visão. "Que entrada triunfal!", amargou, afundando o rosto em seu próprio abraço.

Estava tão concentrada em não se desfazer por completo que ignorou que na escadaria abaixo desse quarto havia um conjunto de vozes, debatendo alterado. Quando a discussão se silenciou, dessa vez, pôde ouvir com atenção o barulho de passos subindo em direção a porta. Mas decidiu manter-se parada ali, sem se mover um milímetro sequer. Esse alguém entrou em um rompante, quase como um furacão, e a porta fechou novamente, antes de um clique trancá-la.