Tombo

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A primeira semana até que foi suportável para Bianca, ela conseguiu passá-la inteira dentro do apartamento, sem descer para absolutamente nada.

Tinha focado em tentar traçar novos projetos e colocar no papel novas ideias. Pensou que, ainda que não tivesse qualquer projeção de quando poderia voltar a colocar em prática suas estratégias, quanto mais ideias ela tivesse, maior seria a chance de resultar algo positivo ao final daquele confinamento.

Limitou o contato com seu público, porém. Não teve muito cabeça para aparecer nos stories e julgou que melhor ela faria se mantivesse seu olhar apreensivo e angustiado fora do foco. Tinha total noção do quanto influenciava seus seguidores e, sendo assim, não queria passar nenhuma energia ruim naqueles dias tão difíceis.

Naquela quarta-feira, porém, ela tinha acordado mais disposta e, aproveitando o impulso, desceu para ir até o mercado e comprar mais pães, frios, frutas e demais produtos perecíveis que já não tinha no estoque.

Durante o processo inteiro ela se manteve reflexiva. Pensou no quanto odiava essa rotina na antiga vida que todos nós vivíamos, costumava delegar todas essas funções aos seus assistentes e sua mãe, quando ela estava por ali com ela.

Aliás, sua mãe... Desde março não via Dona Mônica e nem sua irmã, e quanta saudade ela sentia!

Mas o fato é que sem ninguém, a rotina só competia a ela mesma e ela não podia estar gostando mais de fazer aquilo. Sair para ir ao mercado tinha sido o ápice de sua existência nos últimos dias, e eram esses os novos tempos que vivíamos. Só restava aceitar.

Voltando para casa, seu celular tocou. Parou um instante na rua, colocou as sacolas no chão para pegar o fone, colocou-o no ouvido e atendeu, bastante emocionada.

B: MARCELAAAA! – o tipo Bianca de "emocionada".

M: Oi, Bi! Tudo bem?

B: Garota! Que coisa boa falar com você... – e era tão genuíno – Tudo bem, sim, e você?

M: Tentando sobreviver ao tédio e ao vírus, né? – Suspirou – Mas vem cá, tenho visto que você anda ausente das redes sociais, estranhei e por isso resolvi te ligar...

B: Ah, miga... – suspirou de volta – Ainda tô falhando miseravelmente em aceitar toda essa mudança de vida, então tô quietinha na minha, mas é só um tempinho. Hoje mesmo, acordei ótima, tô até voltando do mercado agora, veja só!

M: Que maravilha! E nem são duas horas da tarde ainda, madrugou! – Debochou.

B: Palhaça você, né, Doutora Marcela! – Fingiu um tom ofendido – Mas vem cá, e onde você está? Na casa dos seus pais no interior?

M: Queria! – Fez uma voz de dengo – Mas não... Fiquei presa em São Paulo mesmo.

B: Ah, MENTIRA! – O tom animado já colocou a amiga em estado de alerta, sabia o que viria – Poxa, nem pra gente ficar confinadas juntinhas de novo, né, Má?

Marcela gargalhou.

M: Você é IN-COR-RI-GÍ-VEL, Bianca Boca Rosa! – O tom divertido alargou o sorriso em Bianca – VonTADE de esmagar e morder essa cara!

B: Ui! Não fala assim que eu vou querer cobrar, hein? – A voz sexy fez Marcela sorrir vencida do outro lado – Tu sabe que eu sempre fui Bicela, né?

M: Sei. Sei, sim, Bi. – Não parava de rir, só piorava.

B: Tu que nunca colaborou e....

Cinco Dias (RABIA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora