Vinte e um

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Rafaella sentiu seus músculos completamente doloridos, por outro lado, também estavam excepcionalmente relaxados. Ela se espreguiçou e percebeu que não tinha acordado sozinha, senão pela cutucada de um dedo fino em seu ombro.

-- Hey, delícia... -- A risadinha fina escapou por entre os lábios de Bianca assim que as orbes verdes se abriram. -- Se veste rápido... -- A menor sussurrou, depositando um doce selinho em seus lábios. -- Suas irmãs estão batendo na porta. Já vai... -- Gritou, finalmente.

Os olhos verdes se arregalaram e ela levantou em um pulo, vestindo suas roupas em um piscar de olhos. Ao constatar que Bianca também estava devidamente vestida, ela destravou a porta, abrindo-a e bocejando.

-- Bom dia, Rafa. -- A baixinha disse animada.

-- Bom dia, Manu! -- Em anos, aquela foi uma das poucas vezes onde Rafaella empregou o "bom" junto com o "dia" para Manu e a loirinha, lógicamente percebeu.

-- Se chover de novo eu vou te assassinar, sua vagabunda. -- Marcela disse irritada. -- Você nunca acorda esse horário.

-- Dirigi até mais tarde ontem. -- Rafaella disse e as três assentiram sérias. Rafaella pegou sua escova de dentes, sua toalhinha, a garrafa de água, como em toda manhã, e saiu para escovar seus dentes.

Os três sorrisos sugestivos subitamente se abriram na direção de Bianca e então ela soube: Elas ouviram Rafaella gemer na noite passada.

-- Eu já te amo só por isso. -- Gizelly sussurrou e Bianca corou.

-- Não sei do que estão falando. -- Bianca disse cabisbaixa.

-- Não há razão para se envergonhar. Gozar é bom. -- Marcela disse e Bianca ergueu a cabeça, lhe fitando.

-- Não acredito que fez Rafaella gritar feito uma mocinha... -- Manu disse baixinho, levando uma mão à própria boca para abafar uma risada.

-- Ela... -- Gizelly foi interrompida por uma tosse seca de Marcela e, ao se virar, viu Rafaella voltando. Todas se ajeitaram nos bancos, averiguando se não tinha gozo por alguma parte; não queriam se sujar com a porra de sua irmã e, no caso de Gizelly, cunhada.

-- Estão muito quietas hoje. -- Rafaella disse, vendo Bianca sair para escovar seus dentes.

-- Sou um zumbi antes do meio dia. Não fale comigo. -- Marcela disse séria e mal humorada.

-- Ainda estou com sono. -- Manu resmungou e Gizelly apenas se deitou sobre o peito de Marcela. Rafaella suspirou internamente por ver que suas irmãs e cunhada não desconfiavam de nada e abriu a tampa do isopor.

-- Precisamos parar em algum canto e comprar mais gelo e mais coisas para nossas refeições. -- Ela disse.
Assim que Bianca voltou todas comeram em total silêncio, mas quando Rafaella terminou primeiro Bianca lhe olhou surpresa.

-- Uau, estava mesmo com fome. -- Ela disse e Rafaella sorriu.

-- Depois de ont... -- Ela paralisou ao notar o que iria dizer, mas foi surpreendida por um grito de Gizelly.

-- Céus! A porta... Vem Marcela, me ajude a fechar direito! -- A morena disse, saindo rápido do caminhão.

-- Manu, pode vir também sua folgada! -- Marcela gritou e Manu sorriu amarelo.

-- Eu... estou indo. Licença meninas. -- E seguiu as garotas. Rafaella franziu o cenho e olhou para Bianca.

-- O que deu nelas? -- Bianca riu e se encostou de costas entre as pernas de Rafaella, que escorou suas próprias costas na porta.

-- Não sei, mas que tal me dar um beijinho gostoso de bom dia? -- Bianca sussurrou, inclinando e virando um pouco o rosto para olhar para Rafaella.

-- Elas já devem estar vindo. -- Rafaella sussurrou de volta, vendo Bianca se levantar um pouco e aproximar as bocas.

-- Não estão não. Dá tempo de me dar um beijo. -- Ela sussurrou com a boca já colada na de Rafaella. A maior respirou fundo, sentindo o cheirinho de hortelã da pasta de dente, mesmo Bianca tendo comido uma fruta depois de escovar os dentes. Rafaella se inclinou ligeiramente e tocou seus lábios nos lábios geladinhos, macios e refrescantes de Bianca. A menor introduziu a língua na boca de Rafaella e sentiu a garota sugar seu lábio inferior com gana, antes de finalizar com um selinho.

-- Precisamos ir, mademoiselle. -- Rafaella disse em um sorriso, buzinando no momento seguinte. As três garotas entraram no caminhão e começaram a conversar entre si.

Rafaella ligou o caminhão e começou a dirigir, deixando um sorriso enfeitar seus lábios ao sentir Bianca encostar a cabeça em seu ombro. A mais velha não resistiu e se inclinou, depositando um doce beijo na testa de Bianca antes de olhar para trás para verificar se estava sendo observada. Encontrou as três garotas olhando para o teto e voltou a olhar para a frente. Bianca riu internamente, não entendendo como era possível Rafaella não perceber que suas irmãs sabiam.

Elas não queriam contar que sabiam à Rafaella porque a garota ficava bem mais à vontade quando pensava não estar sendo observada e, se dependesse delas, não contariam que sabiam.

-- Ra, posso ligar a rádio? -- Bianca perguntou.

-- Claro, Bi. -- As três garotas vibraram internamente, afinal, era dia das quarenta mais.

-- Adoro essa música! -- Bianca afirmou ao ver que tocava uma música antiga que ela amava, ainda mais na versão do nome dela. (N/A: a música está disponível na capa do capítulo para quem quiser ouvir lendo)

-- Eu também. -- A maior disse, abrindo o vidro do seu lado e sentindo o vento esvoaçar seus cabelos e refrescar o interior do veículo.

-- Quando estou com você, o mundo parece não girar... Oh, Bianca, te quero! -- Rafaella cantarolou junto com a música e Bianca suspirou bobamente, virando seu rosto para contemplar a vista de Rafaella cantando, com a voz grave e rouca.

-- Sabia que essa música tem várias versões? A minha preferida é essa, que tem meu nome. -- Ela disse animada.

-- Seu nome é muito bonito. Realmente você combina com a música. -- Rafaella disse gentilmente, com um sorriso nos lábios. O coro das três meninas interromperam a troca de olhares e a maior voltou seus olhos para a estrada.

-- Tua pureza me faz te amar. Te espero noite e dia, Oh... Bianca, Bianca... -- As três cantaram, sendo acompanhadas por Rafaella.

Bianca sorriu diante da cena. Era cômodo, confortável e e gostoso estar ali entre elas. A sensação de pertencer à uma família, que ela nunca tivera, dava as caras naquela altura de sua vida. A moça sorriu tristemente ao lembrar que sua viagem estava quase no fim.

Estúpido coração e sua mania de se apegar tão rápido.

Destino Incerto | Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora