Number four

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São Paulo, sábado de manhã

O céu nublado de um dia chuvoso em São Paulo em pleno sábado de manhã fazia cenário aos olhos verdes da mineira. Enquanto observava o movimento ali, de sua sacada, segurando uma xícara de chocolate quente, aquecendo-se por aquela enorme manta perguntava-se se o que havia acontecido nos dias atrás havia de fato ocorrido. Um sorriso cresceu em seus lábios enquanto tocava o líquido quente e lembrou-se da forma animada com a qual Bianca ingeria café. Podia ver dali boa parte daquela enorme cidade, mas era somente a ponta do iceberg, havia muito mais do que somente prédios, carros, casas e barulho. Haviam vidas. 

O som da campainha se fez presente e deixou a sacada para trás fechando as enormes portas de vidro e caminhou tranquilamente já sabendo de quem se tratava. Abriu a porta com um enorme sorriso podendo ver Manu com um moletom enquanto segurava as sacolas de compra. Riu do bico nos lábios da menor e achou fofinha a forma como seus cabelos molhados denunciavam que ela havia tomado chuva. 

-Será que a aventureira pode me ajudar com as sacolas? - perguntou irritada. 

Rafaella riu, assim que chegou em São Paulo avisou para a menor, sabia que Manu jamais a julgaria por ter caído de cabeça naquela loucura, mas também precisava escutar dela o que achava. Segurou as sacolas entrando rapidamente com tudo para a cozinha e pôde escutar a porta se fechando atrás de si. 

-Quer uma toalha? -perguntou rindo.- Tem chocolate quente também- continuou vendo-a tirar aquele casaco para em seguida cobrir-se com a coberta. - Maria Manoella vai molhar! 

-Você que lute- disse sentando-se enquanto observava a mineira servir chocolate quente na outra xícara. -Então você pretende começar a me contar agora ou... 

-Calma, vou contar. Então, você já sabe que eu cheguei em casa depois do Paris 6 e encontrei ela completamente sem rumo lá embaixo- começa a falar enquanto guarda as coisas trazidas por Manu nos lugares- Obrigada- indicou as sacolas vendo-a assentir enquanto tomava outro gole da bebida quentinha.-Perguntei para ela o que ela tinha e ela basicamente disse que iria sumir, se jogar no mundo, sem saber para onde ia, só se jogar- respirou fundo. - E eu não podia deixar aquela doida fazer isso. 

-Ai você decidiu que era o macaco botas da Dora Aventureira carioca e gata?

-Algo do tipo- disse divertida. -E ai bem, ai fomos para o Rio de Janeiro, ela ia dizendo algumas praias ou pontos turísticos e assim fomos tendo cinco dias de viagem- mordeu o lábio.- Ela é uma mulher incrível Manu, que já sofreu muito pelo que eu percebi, mas que isso não apagou nem um pouquinho do brilho dela sabe? É como se... ela tivesse vida em cada gesto, sorriso, fala. 

Manu tirou aqueles segundos enquanto sua amiga ainda estava encaixando alguma coisa na geladeira para processar o quanto ela parecia diferente, parecia mais viva. Seu sorriso parecia fixado em seu rosto, seus olhos eram despreocupados e sua voz completamente confortável, ali conseguia ver uma Rafaella que há muito tempo não via. Sabia que ela precisava de alguém doido para mover novamente sua base, só não esperava que fosse uma vizinha aleatória e que ela resolvesse ir para o Rio com uma desconhecida. 

-Você é muito sapatão- diz divertida vendo Rafaella rir, ela mesma não reclamaria daquilo.- Pegou o número dela ou algo do tipo?

-Não - suspirou.- Só fui pensar nisso quando já estava na estrada, a única coisa que eu sei é que se chama Bianca Andrade e é minha vizinha. - confessou. -Eu até pensei em procurar, adicionar ela em alguma rede social, mas... sei lá... prefiro esperar e ver o que o destino nos reserva, as coisas foram tão naturais, sabe?

Rafaella olhou sua amiga, se conheciam há tanto tempo que sabia que ela entendia exatamente o que queria dizer. A viu sorrir e imediatamente retribuiu, aquele dia seria para que pudesse processar todas as informações, contar para ela tudo o que viveu e poderia reviver algumas lembranças que tivera com Bianca. Não havia dito dos beijos, aquelas sensações queria guardar para si, mesmo que fosse por algum tempo.

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