Capítulo 51

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Sentir seus lábios contra os meus novamente é como estar perdido em uma bela e estranha mistura de desejo e surpresa. Seguro em sua cintura fortemente, temendo que ela fuja a qualquer momento. Aperto meus olhos com força, tomado por algum tipo de sentimento no qual eu não gosto de ter. A saliva se prende em minha garganta, fazendo com que eu afaste não só o corpo dela de mim, mas seus lábios também. Mia me olha sem entender, o rastro molhado das lágrimas ainda em suas bochechas.
- é injusto comigo ganhar esse beijo sem saber exatamente o que está acontecendo. Não ache que eu não quero isso, eu quero, quero muito. Só não posso criar expectativas sem saber se você vai estar comigo amanhã. - respiro fundo.
- o que ?
Ela parece perdida em meio as minhas palavras, os olhos piscando rápido demais, o cérebro sendo forçado a entender tudo o mais depressa possível.
- eu não quero ser usado como uma válvula de escape ruiva.
Fecho os olhos com força por um segundo, absorvendo todas as sensações esquisitas que esse momento traz. Talvez eu não devesse ter ido até ela, talvez escalar aquela árvore sem ter certeza das coisas foi um erro grave.
- preciso que me conte o necessário para me fazer ficar, por favor.
Ela leva uma das mãos até meu rosto, o toque macio esquentando minha bochecha.
- tudo bem.
Nos sentamos em sua antiga cama, os olhos focados nos movimentos suaves de suas mãos nervosas. Respiro fundo, já arrependido de tê-la afastado naquela hora e me privado de mais alguns segundos de seu beijo.
- eu não sei os motivos que meus pais encontraram para sequer voltar a esse continente, mas posso te contar que ... - a pausa dela é sofrida.
Continue ruiva.
- eles precisam de mim para alguma coisa, algo grande e que pretendem manter escondido até que eu esteja em suas mãos. Vovô ainda está tentando descobrir do que se trata, mas ele já me adiantou que pode ser muito mais do que possamos imaginar.
- eu não vejo outro motivo para eles terem voltado ruiva, sinto muito por isso.
Um sorriso triste e singelo permanece em seus lábios por um segundo, os olhos cinza azulados incrivelmente brilhantes por conta da pouca iluminação. O perfume doce que emana dela chega até meu olfato, a fragrância suave e delicada me chamando para mais perto. Querendo sentir cada uma das notas diretamente de seu pescoço macio e cheiroso.
Eu sinto tanta falta dela.
- sei que não te dei tantas respostas quanto você merecia.
- foi o suficiente.
Mia se levanta, demostrando parte do seu nervosismo ao mexer de forma incomum em suas madeixas avermelhadas. Eu deveria me levantar e ir até ela, envolver seu corpo frágil em meus braços e finalmente tomá-la para mim. Mostrar a minha ruiva que meu coração ainda está inteiramente em suas mãos. Respiro fundo, deixando com que meus instintos tomem a frente e me levem até a garota que amo. Estico as pernas, indo até ela de forma rápida para enfim a puxar de encontro ao meu corpo. Ter sua cabeça repousada em meu peito depois de tanto tempo é um alívio. Aperto um pouco meus braços ao redor dela, a insegurança - na maioria das vezes inexistente - atacando meu psicológico um pouco frágil após tanta merda.
Eu não posso deixá-la ir !
- tem alguma idéia de quanta dor de cabeça eu tive nesses últimos dias ?
- eu posso imaginar Andrew.
É um pouco complicado ouvir a voz dela em meio a queimação de meu sangue nesse momento, o fluído correndo como lava em minhas veias. Minha pulsação acelerada demais para quem só está abraçando uma garota.
Mia Collins não é só uma simples garota.
Nunca foi.
- então ... Eu não sei como definir exatamente o que somos agora.
As palavras saem perdidas da boca dela, a confusão brincando com o meu psicológico não me deixa saber se devo considerar isso um retorno ao nosso relacionamento ou qualquer coisa do tipo. Eu poderia manter seu corpo delicado e frágil por perto para sempre, sentir cada onda de calor que emana de sua pele pelos restos dos meus dias.
Ela ergue o queixo, deixando o mesmo apoiado em meu peito para encarar, a expressão não escondendo nenhum pouco a ansiedade em poder apenas respirar tranquila após tantos dias de tormenta que já se passaram ... E os que ainda estão por vir.
- e o que você quer que sejamos ?
Minha pergunta é rápida como uma bala, a atingindo de uma maneira tão inesperada e atrevida. Ver suas bochechas serem tomadas pela tonalidade avermelhada em questão de segundos será algo que eu nunca me cansarei de assistir.
- O que nunca deveríamos ter deixado de ser.

" "

O calor aquece de forma irritante o lado esquerdo do meu abdômen, e nesse momento eu me xingo de todos os nomes possíveis quando me recordo de ter deixado a cortina aberta noite passada. Minha raiva logo cessa ao sentir a respiração dela próxima ao meu pescoço, os longos cabelos avermelhados espalhados pelo travesseiro de capa escura.
Certo, isso realmente aconteceu ?
Tê-la aqui, deitada em minha cama com o corpo apenas coberto por uma camisa preta minha me faz pensar que Mia deve ter passado por muita coisa enquanto ainda insistia em me deixar fora disso. Felizmente, essa cabeça ruiva mudou de idéia quando me viu ali em pé em seu quarto, segurando sua chave na mão como se fosse a coisa mais preciosa no mundo.
Pelo menos para mim, Mia Collins é a coisa mais preciosa que poderia existir na face da terra.
- se continuar me olhando assim vai me deixar com vergonha.
Moto enfim que ela já está acordada, os olhos tão claros como um céu manchado pelo cinza.
- assim como ?
Rodeio meus braços ao redor de sua cintura fina, a pele quente em contato com as palmas das minhas mãos acende algo dentro de mim que por tão cedo não era despertado.
- como se a qualquer momento eu fosse fugir.
Como se eu fosse deixar isso acontecer de novo.
Molho os lábios devagar com a ponta da língua, pensando em uma resposta que não a deixe tão eufórica a essa hora da manhã.
- não, você não vai fugir de qualquer maneira, mas nada me impede de aproveitar cada segundo com você depois desse inferno que passamos desde aquele baile maldito.
Seu olhar vacila quando o baile é citado, as pernas dela pouco se encolhem e se deixam ficar mais perto das minhas. Esse assunto ainda é muito complicado, falar abertamente sobre o que aconteceu lá foi feito - pelo menos pela minha parte - no dia em que ela sofreu o acidente dentro de casa, mas não colocamos todos os pontos nos i's ainda.
Acho que esse terá de ser o nosso próximo passo.
- não quero estragar o momento, mas vamos nos atrasar para a escola se continuarmos deitados.
O telefone dela toca, a melodia melancólica me chama a atenção. O toque alegre e vivo de antes não está mais ali.
Assim como nossa foto.
Não noto quando a mesma o atendeu, muito menos quando passou a perna esquerda para dentro da calça. Ver que esse tempo separados pode ter danificado, muito mais do que eu imaginava, algumas características dela que eu considerava ingênua e romântica. Talvez possamos ir a praia novamente depois que tudo passar, aproveitar um dia de sol em algum parque de diversões aqui perto ou até mesmo ir no cinema Drive in para dar alguns beijos e curtir o por do sol. Sim, eu faria tudo isso para ter a minha ruiva sorrindo por tudo novamente.
- Andrew ?!
Volto meu olhar para ela, os cabelos ainda um pouco bagunçados e a roupa amassada.
- sim.
- pode me levar até lá embaixo ?
Faço que sim com a cabeça, pegando a bermuda do chão e me vestindo para não matar Susan do coração ao me ver sem roupas. Okay, a cena é até engraçada, o que me faz rir sozinho rapidamente, mas não quero que Susan olhe para algumas coisas que não devem ser vistas por mulheres que já as limparam quando eu era menor.
- espera ruiva.
Chamo sua atenção quando a mesma já está próxima a abrir a porta do quarto, fazendo a parar e ajeitar os óculos. Respiro fundo, caminhando descalço mesmo até a escrivaninha e pegando a caixinha escura.
- vou colocar algo em seu dedo, algo que não deveria ter saído daí de uma maneira tão errada. - ando até ela com as duas mãos agarradas as alianças dentro da caixa. - espero que possa aceitar isso de volta.
Devagar, toco sua mão direita, apanhando a aliança com a pedra avermelhada e me dando por satisfeito ao vê-la novamente em seu ligar.
- eu te amo ruiva, prometo fazer cada segundo valer a pena. Volte a ser minha.
Algumas lágrimas escapam e começam a traçar caminhos diversos em suas bochechas.
- eu amo você Andrew, sempre amei.
Mia se joga em meus braços e eu deixo com que meus joelhos toquem o chão para melhor agarrar seu corpo. Seus lábios estão entre abertos, um pelo convite para um belo beijo de bom dia.
- eu nunca deixei de ser sua Grayson, achei que já havia te alertado que já era tarde demais para desistências.
Acredite ruiva, nunca será tarde demais para nós dois.

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