Plano de espionagem

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Na sexta-feira seguinte, Winslow não via a hora de se livrar do trabalho. Andava de um lado para o outro, entre as prateleiras da livraria, alinhando os produtos, e recolocando alguns no lugar.



Era um homem bastante perfeccionista e chegara à subgerência pela simpatia com que tratava todos os clientes. Por conta disso, ganhava mais. Mas também tinha de ficar sempre além do seu horário, ajudando a fechar o caixa.



O movimento já tinha diminuído bastante quando ele viu um rosto conhecido entrando na loja.



-Annie!



- Winn!



Abraçaram-se calorosamente, trocando beijos no rosto.



- Nossa, você está linda - olhou-a de cima a baixo, sorrindo.



A garota ruborizou e Winslow logo se arrependeu do comentário. Annie fora sua namorada por três anos, e nos quatro últimos, sempre dava um jeito de deixar claro que ainda o amava.



Por isso, e por outras tantas razões, Winslow escondia dela o verdadeiro motivo do rompimento. Em mais de uma ocasião entrara em apuros para continuar escondendo da ex-namorada sua verdadeira orientação sexual.



Seus amigos achavam graça da situação, mas na medida do possível, ajudavam. Lena já se fizera passar por sua nova namorada, Andrea também. As duas o faziam de bom grado, mesmo que não entendessem como Annie poderia ser tão cega.



- E você continua com esse charme irresistível.



Ele se limitou a sorrir, sem graça.



- Então, posso ajudar?



- Claro. Estou procurando um presente para um... Aaam... Um amigo.



- Já pensou em algo? O que ele faz?



- ... artista plástico - derreteu-se a garota.



Winslow olhou desconfiado e ela ficou vermelha.



- Só "amigo"?



- Mais ou menos...



"Coitada" pensou Winn, enquanto a auxiliava. Depois dele, Annie já tinha se envolvido com outros dois gays. E, da mesma forma, estava inocente na situação.



Aquilo era mais um dos motivos que faziam o jovem reprovar o comportamento de certos homossexuais. Ao não se aceitarem, fingiam-se de héteros para satisfazer a sociedade, mas acabavam brincando com pessoas como Annie.



Por outro lado, até que podia entendê-los. Logo depois de "se descobrir", o próprio Winn fingira por alguns meses, mas não por temer o preconceito e sim porque gostava muito da moça.



Só se deu por vencido quando além da atração latente que sentia por homens, apaixonou-se por um. E teve a prova final de que ela era apenas uma amiga com quem tinha empatia na cama.



Quando romperam, prometeu-se que ela continuaria sendo sua melhor amiga, mas por não poder revelar certas coisas, acabou se afastando muito. E depois dos primeiros meses, acabara desistindo de contar por vergonha de ter escondido aquilo tanto tempo.



Era uma situação complicada que o deixava pisando em ovos sempre que a reencontrava ou alguém de sua família.



Levou-a até a sessão de livros de Artes e ficou por perto, caso ela precisasse de alguma ajuda. A garota ficou indecisa entre dois exemplares e como achava os dois adequados, optou pelo mais barato, por falta de outro critério.

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