E aí, comeu? ¹

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No estádio de futebol

As arquibancada de um estádio de futebol são o elo perdido entre os ancestrais da caverna e o homem contemporâneo. Torcedores em ação lembro mais a tribo urrando, durante a caçada ou em volta das fogueiras, do que os homens que inventaram satélites, a internet e o ovo em pó.
Jeon Jungkook, arquiteto recém-separado, Kim Namjoon, escritor, solteirão não tão convicto, e Jung Hoseok, jornalista da velha guarda, casado, são amigos de longa data - e, como de hábito, estão na arquibancada do honorável estádio do Canindé, lotação máxima de 20.004 pessoas, à beira da marginal do Rio Tietê.
Os três fazem parte da diminuta torcida da associação portuguesa de desportos, a gloriosa Lusa, nenhuma vez campeã mundial, nenhuma vez campeã da libertadores, nenhuma vez campeã nacional, fundada em 14 de agosto de 1920.
Se bem que ela ganhou o campeonato Brasileiro da série B em 2011, dois torneios Rio-São Paulo na década de 1950, e três Paulistas, 1935, 1936, 1973 - o último, dividido com Santos, depois de uma gafe grotesca do juiz, que errou na matemática de cobrança de pênaltis.
O time que revelou Park Chanyeol, Jeon Somi, Dener, Kaisoo, Luccas, se gaba por ter recusado Maradona. Reza a lenda que, em 1975, Diego Armando Maradona foi oferecido à Lusa por 300 mil dólares por seu empresário, Juan Figger. Aplicar vida diretoria portuguesa se recusou a contratar o menino franzino de 16 anos.
O locutor anuncia os times. Jungkook, Hoseok e Namjoon viram o adversário, um time que nem conheciam de uma cidade do interior de que nunca ouviu falar, e depois canta um hino com referência e a mão no peito: "Vamos à luta, ó campeões, hão de vibrar os nossos corações. Na tua glória, toda certeza que tu és grande, ó Portuguesa!"
É daqueles jogos em que há mais gente trabalhando no estádio do que assistindo na arquibancada. Cujo público pagante é menor do que convidado. E que não muda absolutamente em nada a situação na tabela do campeonato. Exatamente o jogo que os três amigos nunca perdem.
Namjoon tem um cigarro apagado na mão. Durante todo o tempo, ele fuma esse mesmo cigarro, assoprando uma fumaça inexistente. Tenta a meses largar o vício. Comem pipoca fria e churros com doce de leite vendidos a um preço exorbitante de um dos ambulantes que passeiam pela arquibancada vazia.
Começa o jogo. Xingam o juiz. Reclamam da retranca do time adversário. Parece mais um daquele jogos em que um torcedor brasileiro se pergunta por que nasceu para torcer por um time que dá tão poucas alegrias, e não catalão, para torcer para o Barcelona.

- Toca a bola! - Jungkook grita, apontando para o volante indeciso, diante de dez defensores e um goleiro.

- Mete! - reclama Hoseok.

- Vai fundo! - grita Jungkook de novo.

- Enfia! - grita Hoseok.

Os dois se erguem e berram, com os punhos cerrados: "Mete! Mete!"
O volante lança para ninguém. Bola fora. Nada. Não aconteceu nada. E pelo visto não acontecerá nada. Já deu para sentir que o jogo será truncadíssimo. Ideal para que aproveitem o tempo falando de outro assunto tão excitante como futebol.
Namjoon olha os amigos e se lembra: - Faz meses que não dou uma metida.

- Porque não quer. - diz Jungkook se sentando.

- Já está me dando enxaqueca. - murmura Namjoon.

- Deve ser o cúmulo de espermas no cérebro. - divaga Hoseok.

Jungkook apoia a mão no ombro do amigo e pergunta: - Nem uma 'bronhinha?

- Umazinha aqui, outra ali. Manutenção. Minha mão me adora.

- Eu bato quase todos os dias. Manter o demônio oxigenado. - conta Hoseok.

E aí, comeu? [jjk+pjm] Onde histórias criam vida. Descubra agora