Caráter

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Kara ficou chocada como poucas vezes na vida. A frase de Carina ficou se repetindo, como um eco em sua mente perplexa:

– Kara, eu amo você...

– O que foi que você disse? – a garota tentou recapitular, como se fosse necessário.

– Que eu amo você – respondeu Carina, sorrindo.

O choque de Kara só aumentou. E dessa vez, ela ficou totalmente sem fala. Depois de alguns instantes, percebendo o que se passava com Kara, Carina começou a rir. E não foi um riso qualquer. Foi algo que aos poucos se tornou uma gargalhada.

– Você não achou que... – ela sequer conseguiu concluir a frase, e voltou a rir.

– Carina, o que é que está acontecendo? – protestou Kara.

– Nada, é que... Por um segundo pareceu que você tinha entendido que...

Kara reclamou:

– Poxa, Carina, você vem toda doce dizer que me ama e quer que eu pense o quê?

– Desculpa... – ela precisou de alguns segundos para retomar o fôlego e continuar falando, embora continuasse rindo. – Juro que não foi a minha intenção. Nossa...

– Argh! Francamente! – Kara começou a se levantar da cama.

Carina a deteve e finalmente conseguiu controlar o riso.

– Kara, desculpa mesmo. Apesar... Disso... Eu realmente preciso lhe falar.

– Diga.

– Eu estou indo embora – contou Carina. – Meu pai fechou o cerco de vez, quer que eu trabalhe ou... Sei lá. Já resolvi tudo o que precisava, vou voltar para Amsterdã.

– Mas...

– Graças a Deus que eu não estava me declarando de verdade, porque a sua reação, hein? – provocou Carina.

– Sua chata, me pegou completamente desprevenida! – ralhou a garota.

Carina voltou a rir.

– Aposto que estava com a cabecinha no quarto errado, hum?

Kara atirou um dos travesseiros sobre Carina.

– Para!

– Ah, vai negar pra mim, agora?

A garota estava preparando uma resposta, mas acabou desistindo dela. Com uma expressão chateada, apenas se afundou no colchão e ficou esperando pelo interrogatório de Carina.

– Mas e aí? Todo esse tempo e nada ainda??

– E que remédio? – Kara deu de ombros.

Carina se aproximou, puxando a garota de volta para o seu ombro.

– Passar por cima do fato de ela ter namorada não é uma alternativa para você, certo?

– Você me conhece. A resposta é óbvia – confirmou Kara.

– Ah, Ka, mas...

– Nem tenta argumentar, Carina. E vamos falar da sua viagem.

– Tudo bem, você que sabe...

– Por que sair do país? – inquiriu Kara.

– Estive pensando, eu posso ficar um tempo por lá, onde já conheço tudo, e dizer ao meu pai que estou procurando trabalho. Com isso eu enrolo ele por uns seis meses. Depois, digo que desisti e vou tentar em outra cidade. Mais seis meses. Outra cidade. E por aí vai – sorriu.

Kara balançou a cabeça.

– E pensar que os meus pais estão decepcionados – comentou.

– Bem, eu nunca processei os meus, né? – devolveu Carina.

– Você é contra? – estranhou Kara.

– Não... No seu caso, não. Por falar nisso, como andam as coisas?

– Audiência marcada para daqui a quinze dias.

Carina animou-se:

– Então você vai vê-los?

– Não. Só o meu advogado vai.

– Mas você não sente saudades?

Kara se aconchegou nos braços de Carina antes de responder.

– Sinto.

– Então, menina, é a sua chance de revê-los!

– Caso eles resolvam ser grossos, o que é muito provável, eu prefiro não estar por perto. Um dia eu quero esquecer esses telefonemas e lembrar só das coisas boas, de quando eu ainda morava com eles e eles me amavam.

– Eles não deixaram de amar você, só não entendem a sua orientação. E tudo o que fazem é porque acham que estão ajudando. Pra eles, homossexualidade é uma doença e você precisa ser tratada, afastada disso.

– Mas estão errados!

– Só querem o melhor pra você.

– O que é melhor pra mim quem decide sou eu – disse Kara, zangada.

– Ah é? Tente explicar isso para qualquer pai ou qualquer mãe do universo, que eles não sabem mais o que é melhor para sua filha...

– Tudo o que eu precisava era você defendendo eles, Carina – reclamou.

– Não estou defendendo eles Ka, só estou elencando fatos. Não queria chatear você – Carina a abraçou com força.

– Tá, desculpa... – disse a garota, fechando os olhos.

– Vou sentir muito a sua falta, Ka. Mais do que qualquer pessoa, eu quero que você seja feliz. Não consigo pensar em ninguém que mereça mais.

– Sua boba... – disse Kara, sem graça, em tom sonolento.

– Agora é melhor a gente descansar, né? – Carina a beijou na testa, puxando o lençol sobre seus corpos.

– Uhum. Ah, Carina?

– Hum?

– Também te amo...

As duas adormeceram sorrindo.



* * *



Lena foi a primeira a deixar o quarto e foi se sentar à beira da piscina, com uma xícara de café. Enquanto organizava seus pensamentos, ela notou que seus amigos começavam a despertar para aquela manhã ensolarada de domingo.

Mike e Kara, ao verem Lena do lado de fora, partiram para lá.

– Que café horrível, foi você que fez? – Kara perguntou à advogada.

Lena respondeu com um sorriso amarelo enquanto Mike tentava sem sucesso sufocar o riso. Para amenizar o clima, o garoto comentou:

– Novidades? Como a And reagiu?

Kara logo se meteu, arregalando os olhos:

– Você contou pra ela?

A advogada respirou fundo e respondeu:

– Sim, contei.

– Uau! – Kara acabou sorrindo. – Parabéns.

Lena virou os olhos.

– Eu sou tão ruim assim que quando faço uma coisa boa vira essa comoção toda? – questionou.

Mike e Kara trocaram um olhar divertido.

– Seus chatos – reclamou Lena. – E cadê o Barry e a Carina?

– Dormindo, lógico – respondeu Kara, com uma expressão maliciosa.

– Acho que eles precisam descansar um pouco, né? – arrematou Mike, com o mesmo olhar.

Ao ver os dois batendo as mãos espalmadas infantilmente, Lena fingiu estar enjoada, e só recebeu mais olhares superiores de Kara e Mike.

– Ahhh, isso mesmo, vamos lá pra piscina jogar na cara dela que passamos a noite nos divertindo enquanto ela nem dormiu de preocupação...

– Ah, Lena, se o seu mau humor não fosse tão atraente, eu até devolvia essa sua frase aí – provocou Kara.

Lena estreitou os olhos, e preferiu não dizer nada. Mike assistiu à cena em silêncio, comentando o que quer que fosse apenas consigo mesmo.

Quando o celular de Lena começou a tocar, ela se afastou dos outros dois e prontamente atendeu:

– And?

– Oi – disse a namorada, do outro lado da linha.

– Conseguiu dormir? Olha... Desculpa por ter ligado àquela hora...

– Eu dormi um pouco, sim – disse Andrea. – Onde você está?

– Ainda aqui com o pessoal. Estava tomando café com a Kara e o Mike.

– Sei...

– And... – Lena respirou fundo em busca de calma para continuar a conversa. – Eu sei que lhe devo um milhão de desculpas.

– Falaremos disso depois, Lena – respondeu ela, friamente. – Você tem falado com o Winn?

– Na verdade, não. Por quê?

Como tinha o discurso todo em mente, Andrea respondeu com naturalidade:

– Porque achei estranho você ter convidado todo mundo menos ele.

– Ah, pois é. Mas o Mike veio com o namorado novo. Seria, no mínimo, estranho.

– Entendo. Então ele não estava nem sabendo disso, como eu...

– Aaaam... É. Basicamente é isso, And.

– Sei...

– E então?

– Então o quê, Lena?

– Nossa, eu acho que eu prefiro você surtando do que falando comigo nesse tom...

Andrea fez uma longa pausa silenciosa. Dos seus olhos escapavam lágrimas quentes, que ela procurava ignorar.

– Eu preciso de um tempo pra pensar, Le. Acho que as coisas saíram do controle de nós duas.

– Concordo – disse a advogada. – Devo desligar?

– Sim. Mas... Aaaam... Tenta não fazer nenhuma besteira.

Lena quase riu.

– Não precisa se preocupar. Eu vou ficar esperando, ok? E fico muito, mas muito feliz que estejamos resolvendo isso com calma. Só lamento que as coisas tenham chegado a esse ponto para que... Bom, você entendeu.

– Só mais uma coisa – disse Andrea. – E confiarei que sua resposta vai ser sincera...

– Claro. Diga.

– Você armou esse final de semana para ficar com a Carina de novo?

Lena percebeu, apenas pelo tom de voz, o quanto tinha custado à And verbalizar aquela pergunta num tom verdadeiro, e não de simples acusação, como sempre havia sido.

Tal comportamento mostrava não apenas que Andrea estava agindo cautelosamente, mas que ela realmente tinha medo de perder Lena para alguém.

– Não, And. Nem com ela nem com qualquer outra pessoa.

– Está bem. Eu ligo mais tarde, então.

Lena ficou olhando para o telefone, como se fosse difícil acreditar naquela conversa. Mas por fim, sorriu com esperança.



* * *



Assim que desligou o celular, Andrea olhou na direção da geladeira. Ellie a tinha aberto, em busca de alguma coisa para beliscar.

– E aí? O que mais ela disse?

Andrea se sentou antes de responder:

– Que não falou mais com o Winn e que não planejou nada com a Carina.

– Hum. E você vai tirar essa maluquice da cabeça, agora?

Ellie fora chamada ao flat por Andrea. Apesar de tudo o que acontecera na noite anterior – e a garota fora obrigada a ouvir a narrativa até mesmo dos detalhes sórdidos – Ellie se considerava antes de tudo amiga de Andrea. E precisava ficar ao lado dela naquele momento.

– Não sei – respondeu Andrea.

Ellie também se sentou, mantendo seu olhar sobre o copo de suco que havia apanhado. Andrea havia lhe posto a par de suas três diferentes teorias sobre o acontecido.

– Sabe qual é o seu problema? – disse Ellie. – Não importa o quanto você confirme que as outras teorias estão erradas, até porque elas são ridículas... O que lhe detém é que a única explicação plausível para a última noite torna você uma bela de uma filha da puta, que infernizou a namorada por meses e ainda traiu ela com uma completa desconhecida.

Sem fala, Andrea nada fez para disfarçar seu choque.

– E não me olhe com essa cara. Para uma pessoa como eu dizer que uma teoria é ridícula, é porque você forçou muito a barra com aquela história de que a Lena só ligou pra você porque levou um fora da outra.

– Nossa, com você por perto, quem precisa de inimigos, não é mesmo? – disse Andrea, magoada.

Ellie não mudou de tom:

– Você é sua maior inimiga. Sempre foi. Desculpa se estou sendo dura, mas parece que é o único modo de fazer alguma coisa entrar na sua cabeça. Entenda, And, você fez uma merda com M maiúsculo e não adianta tentar culpar os outros. Foi você e você fez isso sozinha! Vai ter de viver com isso.

– Eu ainda não tenho certeza de que nada aconteceu – disse Andrea.

– E se tiver acontecido? Você não fez a mesma coisa?

Andrea baixou os olhos.

– Eu não consigo entender como cheguei a esse ponto. Tudo bem que ciumenta eu sempre fui, mas com a Lena... Nossa, parece que alguma coisa toma conta de mim e eu perco a razão completamente.

– Está nas suas mãos fazer esse namoro dar certo, And. Mas e quanto à garota, a tal Hanna?

Andrea fez uma careta.

– Já ligou três vezes. Não sei direito como isso aconteceu, mas no meio da bebedeira eu devo ter dado o meu número pra ela.  Só o que me faltava era essa garota ficar no meu pé, agora.

– O endereço, pelo menos, você não deu, né?

– Pior que nem lembro... – Andrea esfregou o rosto cansado.

– Nome completo?

– Sei lá... Posso ter falado... Não lembro mesmo...

– Putz, Andrea!

– Eu sei. Eu sei que foi uma mancada. Argh! Que ódio! Queria poder voltar no tempo.

Ellie a encarou.

– Eu tenho um amigo, um intercambista do Japão, ele está fabricando uma máquina. Eu posso lhe apresentar para ele, soube que estão faltando voluntários no projeto.

Andrea ficou encarando a amiga, como se fosse incapaz de acreditar no que tinha acabado de ouvir.

– Tá achando que eu inventei? Eu lhe mostro ele amanhã! – prometeu Ellie.

Esquecendo um pouco dos próprios problemas, Andrea conseguiu rir.

– Sabe, Ellie, às vezes eu acho que você não existe.

Mais animada, Andrea mudou de assunto, e as duas passaram boa parte da tarde conversando.

Depois da partida de Ellie, Andrea apanhou o telefone, mas antes de ligar para a namorada, digitou o número de Kara.

– Alô?

– Oi, Ka. Tudo bem?

Estranhando a ligação, sabendo desde sempre que Andrea ligava somente para especular sobre Lena, fingindo algum assunto casual entre as duas, Kara respondeu cordialmente:

– Tudo ótimo. E você?

– Bem, também. Então... Lena me contou que vocês estavam na casa de férias... Foi divertido?

– Bastante – comentou Kara. – O novo namorado do Mike é muito gente boa, e péssimo no jogo de cartas.

– Sei... – Andrea forçou um riso simpático. – E você, não levou ninguém?

Kara tinha de se segurar para não rir. Andrea era tão ruim em disfarçar suas intenções que chegava a dar pena. Mas como ainda sentia grande afeição pela ex-namorada, Kara sempre lhe dispensava toda a atenção do mundo.

– O mais correto seria afirmar que eu fui levada.

– Hum.

– Pela Carina, como você já deve imaginar.

– Ah, pois é... Vocês duas... Enfim, faz muito tempo que não conversamos... Você e a Carina estão tendo algo sério?

Kara riu.

– Não.

– Entendi. E o Winn, você tem visto? Nossa, estou com uma saudade danada de todos vocês!

– Eu imagino. E não, não tenho visto o Winn.

– Ninguém de vocês falou com ele durante o final de semana? – perguntou Andrea.

– Não – Kara respondeu num tom de quem achava a pergunta estranha. – Mas pelo que eu soube, você fala bastante com ele...

– Ah, é...

– And – Kara tomou fôlego. – Se essa ligação é sobre a Lena ter saído com a gente, saiba que eu não gostei nada de saber que ela não havia lhe contado, e fiquei feliz quando descobri que ela caiu em si e ligou para você.

– É, eu imagino. Você sempre foi tão...

– Chata?

– Eu iria dizer “correta” – Andrea riu.

Kara acabou rindo também. Andrea logo continuou:

– Bem, na verdade eu liguei porque... – suspirou. – Parece-me claro que você tem sido a melhor amiga da Lena.

“Com um começo desses, só pode ser uma bomba...” – pensou Kara.

Depois de uma pausa, Andrea prosseguiu:

– Eu quero fazer uma surpresa pra Le, mas vou precisar de ajuda – contou.

Com isso, Kara percebeu que sua suposição estava equivocada.

– Que tipo de surpresa e que tipo de ajuda? – questionou.

– Nada complicado. Eu estou com muita saudade dela, e teoricamente teria de ficar aqui até uma reunião final com o orientador, daqui a duas semanas. Mas não aguento mais esperar.

– Você está vindo para NC?

– Estou! – confirmou Andrea, animada.

– Puxa... Aaaam... Que ótimo!

– Pois é, mas a Lena não pode saber. Quer dizer, só até que eu chegue, claro.

– Ah, isso vai ser moleza – garantiu Kara.

– Ótimo, sabia que poderia contar com você, Ka. Eu chegarei no fim da noite de amanhã. Isso se ainda tiver lugar no próximo vôo, mas caso algo dê errado, eu aviso você. 

– Okay.

– Então... Nos veremos em breve, né?

– Claro. Assim colocaremos as fofocas em dia – comentou Kara.

– É. Até mais, Ka...

– Até. E boa viagem.

Quando desligou o telefone, Kara já tinha uma porção de coisas na cabeça. A conclusão mais óbvia era de que Andrea finalmente tinha caído em si, e isso significava que, ironicamente, Lena tinha acertado ao errar.

Lembrando do quanto Lena estava ansiosa pela volta da namorada, Kara até tentou, mas não conseguiu sorrir. Por algo em torno de um segundo, desejou ser uma pessoa diferente, alguém nem tão firme assim, que pudesse ignorar alguns valores de vez em quando e não sofrer com isso, mas aproveitar os frutos.

Só que ela não era essa pessoa. E bem no fundo, nem queria ser. Tratava-se apenas de impulsos efêmeros, mas eles ocorriam com frequência cada vez maior quando o assunto era Lena.

Decidida a esquecer aquele assunto, Kara foi para a cama. Antes que pegasse no sono, recebeu um telefonema de Lucy, e depois de algumas amenidades, despediu-se e adormeceu.



* * *



Lena chegou em casa exausta depois do expediente de segunda-feira. Como se não bastasse o stress absurdo de uma audiência totalmente inútil, não tinha conseguido falar com a namorada durante o intervalo do almoço.

Sabendo que ficaria de mau humor, até tinha tentado combinar algo com os estagiários, mas Kara resolvera se aproveitar dos três justamente naquela noite, e pedindo um favor, tomou para si o tempo livre de Marcus, Henry e Cristine.

Para Mike ou Carina, Lena nem tentou ligar, já que eles haviam passado o final de semana juntos, e seus amigos certamente prefeririam marcar algo para a próxima sexta.

Chateada, a advogada atirou sua bolsa e duas pastas do escritório sobre o sofá da sala e preparou uma dose de uísque. Pelo celular, tentou ligar mais uma vez para Andrea, e novamente o telefone dela estava desligado.

Procurando não pensar que Andrea tinha finalmente resolvido surtar por causa da mentira de Lena, ela acabou com a bebida em dois goles rápidos, ligou o som foi para o banho. Nele, permaneceu por mais tempo que o normal, torcendo para o sono chegar logo e aquele dia cansativo ter fim de uma vez.

Na televisão, que às vezes Lena nem lembrava possuir, nenhum programa conseguiu prender sua atenção. Seu ânimo só voltou mesmo quando o celular acusou uma chamada da namorada, que ela atendeu tão rápido quanto possível.

– And? – disse a advogada.

Por conhecê-la muito bem, Lena sabia que Andrea estava sorrindo do outro lado da linha.

– Oi, amor... – respondeu Andrea, com uma ligeira malícia na voz.

– Tudo bem? Tentei ligar durante o dia, e há uma hora e meia, e...

– Estou bem, sim. E você?

– Melhor agora – ela respondeu com sinceridade.

– Já está em casa?

– Uhum. E você?

– Mais ou menos – disse Andrea, e antes que Lena tivesse tempo para questionar algo sobre aquilo, ela continuou: – Estava lembrando de quando eu comentei que a gente se entendia melhor pelo telefone do que pessoalmente.

– Hum... E... Por quê?

– Ah, por causa daquela sua brincadeirinha, quando estava em Nova Iorque. Lembra? Você me fez ir até a porta, acreditando que você estava do outro lado dela.

Lena acabou rindo. Era uma lembrança doce. Andrea também riu, só que por outro motivo.

– Isso não se faz, sabia? – cobrou Andrea.

– And... Você vai implicar por causa de algo que já passou há tanto tempo?

– Vou sim – teimou ela, divertida. – Então... Que tal você ir até a sua porta agora?

A advogada riu de novo.

– Você não vai me pegar nessa...

– Não importa. Abra. Ah, e deixe o telefone no viva-voz, eu quero ter certeza de que você fez mesmo isso.

Achando tudo muito estranho, Lena acabou se levantando, mas parou de andar na metade do caminho.

– Espere... Você... É sério isso, And?

– Vai ter de arriscar pra saber, doutora... – teimou ela.

– Se isso for uma brincadeira, saiba que eu não vou deixar barato – provocou.

– Tudo bem... – Andrea concordou.

Apenas para poder continuar a conversa sem girar naquele ponto bobo, Lena fez conforme o indicado. Andou até a porta e abriu. Ela já tinha a próxima frase na ponta da língua quando sentiu o sangue sumir de sua face.

Como num passe de mágica, Andrea Rojas estava bem ali, diante dos seus olhos e ao alcance de suas mãos.

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